Soubemos hoje pela comunicação social que
o governo
vai alterar a idade legal de reforma. As notícias referem que a idade legal
de reforma – estabelecida em 65 anos – vai passar a ser a que resultar da
aplicação do “factor de sustentabilidade”.
Vejamos
então o que está em causa. Em 2007, foi incluída no pacote de medidas
paramétricas, a introdução do chamado factor se sustentabilidade. Trata-se de
um factor que visa corrigir o montante das pensões, de modo a compensar o
aumento da esperança de vida aos 65 anos. Trata-se de neutralizar financeiramente
o custo que advém de mais anos de pensões a pagar em consequência do aumento da
esperança de vida.
Foi
tomada como referência a esperança de vida aos 65 anos em 2006, pelo que o
factor de sustentabilidade será mais gravoso para as novas gerações. Esta
medida de ajustamento não foi aplicada aos pensionistas existentes em 2008. O
ajustamento do aumento da esperança de vida recaiu apenas sobre os
trabalhadores com passagem à reforma depois desta data.
A
redução da pensão pela aplicação do factor de sustentabilidade é crescente com
o tempo, porque é crescente o aumento da esperança de vida expectável nas
próximas décadas. De tal forma assim é que daqui a 40 anos, a aplicação do
factor de sustentabilidade resultará numa redução da pensão de cerca de 25%.
Mas
a medida foi acompanhada da possibilidade de os trabalhadores optarem por
trabalhar mais tempo, adiando a idade legal de reforma, de modo a não sofrerem
essa redução. Pelo que atrás ficou dito, à medida que o tempo passa sendo o
factor de sustentabilidade mais gravoso, assim o número de meses ou de anos que
é necessário trabalhar para além dos 65 anos vai crescendo.
Voltando
ao exemplo anterior, um jovem que entre agora no mercado de trabalho, com uma
carreira de 40 anos pela frente, reforma-se, de acordo com as actuais regras,
com 65 anos em 2053. A aplicação do factor de sustentabilidade conduzirá a uma
redução na pensão de 25%. A opção que lhe é dada, de acordo com as actuais
regras, é trabalhar mais tempo de modo a não sofrer essa penalização. No caso
em concreto, estamos a falar em trabalhar mais dois anos. Ou seja, neste caso a
idade de reforma implícita é 67 anos.
Em
2013, a aplicação do factor de sustentabilidade implica para uma carreira
completa uma penalização de 4,78% na pensão, o equivalente a trabalhar mais
cinco meses. Ou seja, a idade de reforma implícita neste caso é 65 anos e cinco
meses.
Embora
não haja dados publicados, a informação disponível diz-nos que os trabalhadores
não têm optado por trabalhar mais para compensar as penalizações que desde 2008
estão em vigor pela aplicação do factor de sustentabilidade. Este comportamento
poderá ser explicado pelo facto de as penalizações terem ainda pouca expressão
em termos percentuais (mas são significativas em remunerações baixas), por
falta de informação ou pelo facto de os trabalhadores aceitarem as reduções
como um custo para fugirem à incerteza política.
Segundo
as notícias, o que o governo vai decidir é eliminar a opção entre ter
penalização ou trabalhar mais. A partir de agora, os trabalhadores terão que
trabalhar mais tempo, o correspondente ao que resulta da aplicação do factor de
sustentabilidade. Ou seja, a idade legal de reforma será móvel, gradualmente
crescente, atingindo algures em 2050 os 67 anos.
Para
além da neutralização financeira que já estava assegurada com aplicação do
factor de sustentabilidade, agora o que está em cima da mesa do governo é adiar
o início do pagamento de pensões. Trata-se de uma medida com efeitos
orçamentais positivos.
Esta
medida, tomada de forma isolada, tem impactos negativos no mercado de trabalho.
Vai, por exemplo - como aconteceu em resultado da proibição em 2012 das reformas
antecipadas no sector privado – conduzir a despedimentos de trabalhadores que
se encontram perto da idade legal de reforma ou com condições para passarem à
reforma (anos de contribuições + idade) engrossando o desemprego e aumentando a
despesa com subsídio de desemprego.
Do
lado da função pública, vai atrasar a redução do número de efectivos, partindo
do princípio que a medida não será discriminatória: trabalhadores do sector
público e trabalhadores do sector privado serão tratados de igual forma. Aguardemos,
então, pelo que o governo vai decidir sobre a nova idade legal de reforma...
Estes governo é completamente incapaz , não tem qualquer ideia para o desenvolvimento do país.
ResponderEliminarApós dois anos de Troikismo com péssimos resultados continua impávido e sereno na direção da parede de betão.
Aumentar a idade da reforma é condenar ainda mais os jovens, uma vergonha que vai ficar na historia.
Então bom para os jovens seria reforma aos 35.
ResponderEliminarUm valor bom para todos seria manter os 65 anos .
ResponderEliminarEu gostaria de saber para onde vão parar os euros das pensões, principalmente daquelas até 1000 euros por mês, ou seja a grande maioria delas ?
Porquê aos 65?? Porque não aos 35?? Se a ideia é favorecer os jovens... Porque não aos 45? Aos 55? Com que base se diz que é aos 65?
ResponderEliminarCaro Paulo Pereira
ResponderEliminarUm dos impactos negativos é, como muito bem nota, a maior dificuldade no acesso dos jovens ao mercado de trabalho.
Esta medida tem vários impactos no mercado de trabalho, como refiro no meu post. Não sabemos se o governo tem alguma avaliação ex-ante sobre os impactos da medida na economia e mercado de trabalho.
Não percebi a segunda questão que coloca no segundo comentário.
Tobibler,
ResponderEliminarPorque os 65 anos são um valor consensual até ao momento, aumentar esse valor por causa de um fetiche austérico é um ataque à civilização.
Cara Margarida Aguiar,
ResponderEliminarA pergunta é qual é o fluxo financeiro que se segue ao recebimento das pensões pelo beneficiários ?
800 euros recebidos vão sendo gastos em alimentos, habitação, medicamentos, combustiveis, electricidade, água.
Em principio e dado o valor baixo não terá grande impacto no deficit externo, pelo que circula até ser recuperado em impostos.
O prazo médio de um rendimento mensal ser recuperado em impostos é de 90 dias.
Paulo Pereira,
ResponderEliminarDe acordo com os votos de 2.5 milhões de pessoas não. Quem é que reuniu para lhe declarem esse consenso?
Caro Tonibler
ResponderEliminarFicam aqui alguns dados sobre a idade legal de reforma dos países da OCDE
(fonte: http://www.dgaep.gov.pt/upload//RIareas/Pensions_at_a_glance_2011.pdf - página 25):
- Em 2011
16 países com idade igual a 65 anos
Islândia e Noruega igual a 67 anos e EUA igual a 66 anos
11 países com idade inferior a 65 anos
- Em 2050
5 países terão a idade legal de reforma em 67 anos
Cara Margarida, desses todos, quantos têm a segurança social no balanço de um estado insolvente? Parece-me muito difícil que em 2050 só 5 países da OCDE tenham a idade da reforma em 65 anos...
ResponderEliminarPS: Eu passo os fins-de-semana a correr atrás de pessoas de 65 anos sem os conseguir apanhar!
Caro Tonibler
ResponderEliminarReferia-me à idade legal de reforma. Muitos países têm factores de ajustamento das pensões à esperança de vida, dando a opção por trabalhar mais tempo. De um ponto de vista financeiro é neutral para a sustentabilidade do sistema. De um ponto de vista de tesouraria não.
Como escrevi no meu texto, em 2050 a idade implícita de reforma será em Portugal de 67 anos, mais dois anos do que hoje. O mesmo irá acontecer com outros países.
Caro Tonibler, tem que treinar mais, a não ser que se esteja a poupar para quando chegar aos 65 anos não se deixar apanhar...
Tonibler,
ResponderEliminarNessa sua contabilidade de mercearia da mais básica e que não é relevante para um estado, qual dos paises da UE não está falido ?