Está ali há tanto tempo, antes de mim,
antes de outros e irá continuar exposta ao vento, vendo e sentindo tudo o que
se passa em redor, espraiando os seus sentidos pelas montanhas secas ou
molhadas, surdas ou caladas, que se perdem no horizonte, umas vezes vestidas
outras nuas, já as viu de todas as maneiras, mas o que ela gosta mesmo é de
olhar para cima como se não tivesse ninguém a vê-la. Ninguém a vê de cima e
poucos a veem de baixo. Os seus ramos, velhos e viçosos, estão sempre a
ondular, e mesmo quando o vento descansa e saboreia alguns momentos de paz,
quando não tem nada para dizer, nem para fazer, continua a ondular os velhos e
viçosos ramos, é o seu coração que pulsa. O vento sonha com o ondular dos ramos
velhos e viçosos de uma árvore que pulsa ao sabor do seu coração. Precisa de
dormir para poder sonhar com o estranho e doce som da árvore. Como é possível ondular os ramos se eu estou
a dormir e não me mexo, diz o vento. Tamanha é a sua ansiedade que a abana
muito suavemente para que ela possa oferecer-lhe o som que o vento tanto
aprecia e que nunca conseguiu produzir, o único som que gostaria de imitar, ele
que já ouviu tudo e todos. A velha árvore ri-se e emudece. É o seu encanto.
De Olavo Bilac:
ResponderEliminar"Velhas Árvores"
Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...
O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:
Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
Professor Massano Cardoso
ResponderEliminarA maior parte das vezes passamos pelas "coisas" sem as olharmos, sem lhes darmos a devida atenção, afinal sem aproveitarmos o bem que nos podem fazer. É falta de tempo, de disposição? Soube-me muito bem o seu texto, ao lê-lo transportei-me para perto da "árvore" ouvindo ondular dos ramos...