1. É hoje notícia uma reunião promovida pelo (incansável) Ministro da Economia, juntando um grupo de cerca de 20 empresários, responsáveis das bolsas e regulador dos mercados de títulos.
2. Essa reunião teria como objectivo, ao que consta, incentivar mais empresas a abrir o seu capital ao mercado, solicitando a admissão à cotação das respectivas acções e /ou emitindo dívida transaccionável no mercado, em ordem a diversificar as suas fontes de financiamento.
3. Compreende-se o interesse (e até o entusiasmo) do Ministro em tentar encontrar saídas para o problema do financiamento das empresas, sobretudo das PME, que em Portugal e como se sabe defrontam sérias dificuldades para obter capitais alheios em condições aceitáveis para a sua exploração.
4. Esta questão não é nova, fazendo-me recordar os idos anos 80 e 90 em que entre nós se assistiu a um forte impulso no sentido de levar mais empresas para o mercado de títulos, mediante a abertura do capital e/ou a emissão de dívida obrigacionista.
5. Não entrando agora em detalhes históricos acerca desse esforço de promoção do mercado de capitais (levaria horas), direi em resumo que esse esforço, não obstante o enorme empenho de algumas pessoas responsáveis da época (recordo em especial o Dr. Miguel Cadilhe, na sua qualidade de Ministro das Finanças entre 1986 e 1990 e o saudoso Dr. Carlos Rosa, durante anos entusiástico presidente da Bolsa de Lisboa), acabaria por dar escassos resultados.
6. E tal aconteceu por diversas razões de natureza estrutural, que passo a enunciar (as mais importantes): (i) a grande relutância da esmagadora maioria das empresas, sobretudo PME, que são de base familiar, em admitir a entrada de estranhos na sua vida, querendo saber “o que se passa” na respectiva gestão; (ii) a dificuldade para a grande maioria dessas mesmas empresas em cumprir as elevadas exigências de reporte de informação que a participação no mercado de títulos impõe (tanto na admissão como depois o reporte regular); (iii) o domínio que os bancos exercem no financiamento das empresas, que os leva não ver com bons olhos que estas utilizem fontes alternativas que as pudessem tornar mais independentes desse financiamento.
7. Relativamente ao último factor apontado, não deixa de ser curioso notar que essa (silenciosa) barragem exercida pelos bancos acaba por voltar-se contra eles em períodos recessivos como o actual: privadas de outras fontes de financiamento, excessivamente dependentes do financiamento bancário, as empresas acabam por atirar para cima dos bancos todos os seus problemas financeiros, contribuindo para uma rápida progressão do crédito mal-parado (de acordo com estatísticas hoje divulgadas pelo BdeP já ascende a 11% da carteira de crédito)...
8. Em suma, tenho a noção de que esta louvável tentativa do Ministro da Economia está, infelizmente, destinada ao fracasso - tanto quanto percebo, continuam a não existir condições mínimas para que o mercado de capitais seja, entre nós, uma real alternativa ao financiamento das empresas, muito especialmente das PME’s...
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarLouvando solidariamente o ministro pelo esforço, parece-me que existe um enorme hiato entre aquilo que são os estudos dele e a realidade que tem pela frente. Ou então anda só a fazer que trabalha, o que mostrava uma notável capacidade de adaptação ao meio ambiente que o rodeia.
As questões que colocaria ao ministro seriam, para além dessas que colocou com propriedade:
1.Porque carga de água eu abriria o capital em bolsa na bolsa Lisboa? Porque não no NASDAQ? Em Amesterdão? Em Londres?
2. Porque carga de água eu estaria disposto a pagar as fees do mercado e os serviços de colocação, esses sim dominados de forma leonina pelos bancos de investimento? Para usar um sistema informático que regista as miseráveis ordens que surgem de quando em vez? Para andar a pagar a bancos de investimento para me fazerem o "market making" para entrar num índice principal?
3. Finalmente, que projecto teria eu de tão interessante que não levaria a um banco inglês com vantagens quer em termos de remuneração do capital, quer em termos de volume de liquidez disponível?
Colocação em bolsa faz sentido se houver alguém do outro lado do "pit". Não é, "meta-se na bolsa e as coisas acontecem". Porque há uma evidência que ninguém pode negar, não há ninguém a comprar abaixo do PSI20, mesmo empresas de relevo. Porquê uma empresa nova?
O ministro que pare de andar a fazer o negócio dos bancos e faça aquilo que se espera de um ministro da economia:...nada.
Dr Tavares Moreira,
ResponderEliminarParece que o recente "trambolhão" das taxas de juro no secundário se ficaram a dever ao anúncio do FED de que iria deixar de comprar dívida (cerca de 85 biUSD/mês.
Qual é o meu espanto quando, lendo a notícia (não recordo agora onde), fiquei a saber que o FED compra dívida à federação, aos bancos, e...às empresas privadas!!!
Ora por cá, o BCE financia os Estados, apenas através dos bancos, ficando estes com a parte de leão, absorvendo por esta via boa parte dos nossos impostos!!!
A ser assim, o sistema bancário europeu constitui um dos maiores entraves ao desenvolvimento económico da Europa, estabelecendo uma diferenciação negativa face, por exemplo aos EUA!
Será que me escapa algo?
Caro Tonibler,
ResponderEliminarEm 1º lugar permita-me que o felicita pelo primeiro parágrafo do seu comentário, um hino ao humor da 3ª geração!
Quanto ao resto, creio que as suas interrogações são justificadas embora se devam colocar a jusante das questões primárias que suscitei - ou seja os pontos que suscitei são os que impedem primariamente as empresas de acederem ao mercado de capitais mas, mesmo que pudessem ser superados, logo apareceriam outras dificuldades entre as quais aquelas que menciona...
Em suma, assunto para esquecer, é melhor alguém avisar o Snr. Ministro que não vale a pena gastar muito tempo com este tema, quer o Senhor tratar disso?
Caro António Barreto,
Alguns detalhes se me permite:
- Em 1º lugar o FED não anunciou que iria reduzir ou terminar o programa de compra de títulos de dívida pública e privada que tem vindo a manter (o chamado QE.3), o Presidente do FED, a 22 de Maio, deu a entender que isso poderia vir a acontecer em determinadas circunstâncias (eu estou convencido que, depois da emoção que essa simples declaração causou worldwide, o FED vai ter de repensar o assunto).
Em 2º lugar o FED adquire de facto dívida privada mas é dívida emitida nos mercados de capitais, resultante do processo chamado de "bundling" de carteiras de créditos bancários, os Asset Backed Securities, ou seja o FED não empresta dinheiro ás empresas directamente, refinancia os bancos que concedem esse crédito, coisa que o BCE também faz, por outro processo, ao aceitar esses créditos como colateral.
Em 3º lugar, a diferença fundamental entre a intervenção do FED e a do BCE é que o primeiro assume como objectivo explícito da sua intervenção o estímulo à actividade económica, concretizado num objectivo para a redução da taxa de desemprego (até atingir o nível de 6,5%, já não está assim tão longe) enquanto que o BCE tem como mandato estatutário exclusivo assegurar a estabilidade de preços.
Nas condições actuais, é minha convicção que o BCE já fez tudo quanto podia no sentido de escorar a zona Euro, veja por exemplo a questão agora suscitada junto do Tribunal Constitucional Alemão por causa do programa de compras de dívida dos Estados que estejam cumprindo satisfatoriamente programas de ajustamento, anunciado pelo BCE em Setembro do ano passado e que teve o condão de acalmar os mercados de dívida: mesmo com o apoio explícito do governo alemão a esse programa, o Tribunal Constitucional Alemão parece ter dúvidas quanto à sua legalidade e ainda apode vir a levantar alguns entraves à sua execução.
Aguardemos.
Só lhe digo que se o BCE se tivesse "atrevido" a fazer o que algumas pessoas por aí apregoam, por ignorância ou pior razão ainda, já não existia zona Euro nesta altura.
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarÉ manda-lo cá e då-se-lhe uma ensaboadela de rectórica seabrista para ele aprender.:)
Foi nessa altura ..do gato por lebre ..que ações do BCP chegaram a valer o equivalente a 500 euros ..hoje valem quanto mesmo ? 1 cêntimo ? valem mais ? 9 cêntimos ? que vergonha !!
ResponderEliminarPortugal destruído pelo ps e psd
Quero aqui fazer meu ato de contrição,as ações do BCP afinal não valem 9 cêntimos , valem 9,9 cêntimos. Afinal não está para lá de falido ,está para lá de lá .
ResponderEliminarBut don't worry about a dime BCP, BCE is around.
Alemanha recusa autoridade única para liquidação de bancos falidos
ResponderEliminarhttp://www.abbc.org.br/noticiasview.asp?idNoticia=3118
Noticias difíceis de achar , então a união bancária parou no meio do rio ? Os bancos portugueses vão desaparecer ?
O Mário encheu os bolsos e vai-se mandar ?
ResponderEliminarNoticias difíceis de achar !
Alemanha e BCE brigam !Lógico que ninguém gosta que mexam no seu dinheiro sem autorização !
http://www.abbc.org.br/noticiasview.asp?idNoticia=3180
Retórica seabrista, caro Tonibler, a que Se-abra se quer referir? Há tantos...se fosse Setembrista, teria um sentido histórico preciso...mas seabrista?
ResponderEliminarRectórica que nos traga a verdadeira essência do inanimado, da alma pujante da indústria, da languidez da produção, da estética do capital, qualquer coisa que se possa fazer referência a filósofos francófonos desconhecidos (algo muito valorizado nos tempos que correm)... Esse sim, é um discurso que o ministro da Economia pode trazer, não afecta ninguém e em, duas semanas, ficam os media a dizer: "... se todos os ministros fossem homens de saber como o Àlvaro...".
ResponderEliminarEsclarecido e mais do que isso, convencido, caro Tonibler...
ResponderEliminarTem toda a razão, os media apreciam, valorizam muito as ideias de tipo redondo, em jeito de sólida vacuidade, que não dêem trabalho a interpreaar exactamente porque nada significam...
Está nessa categoria a já famosa (graças a P. Cardão) proposta de nenhum País da zona Euro poder apresentar uma taxa de desemprego acima da média lá por alturas de 2020...mas abaixo, "pode", evidentemente, dirão os media...