Há coisas com que não me consigo conformar.
Entendo muitos dos sacrifícios que estão a ser impostos ao comum dos cidadãos. Talvez por isso não aceite as contínuas manifestações de desperdício de dinheiros públicos a que assisto. Não consigo calar a revolta por ver parte dos nossos impostos desviados sem proveito por um Estado sem meios para se governar e garantir prestações essenciais de acordo com a expetativa da maioria, num País a viver nos limites da insolvência (ainda que sem consciência disso).
Foi há dias anunciada a data das eleições autárquicas. A três meses de distância do sufrágio, no concelho onde resido em cada esquina pontifica um gigantesco outdoor, daqueles que custam milhares de euros. Junto a escolas com dificuldades no seu funcionamento diário por falta de meios, junto a centros de saúde pejados de gente insatisfeita, a hospitais onde o esforço para manter os níveis assistenciais compatíveis com os impostos que pagamos é heróico pelos relatos que ouço da boca de abnegados profissionais de saúde.
Há dias, quando lamentava em voz alta este que se me afigura um escandaloso regabofe numa situação de penúria e de sofrimento como a que vivemos, foi-me dito que são os custos da democracia e que desabafos como estes são demagogia. Pode ser uma disfunção minha, reconheço. Mas olhando para os outdoors, para todos sem exceção, não surpreendo o que com eles ganha a democracia. Sem intenção demagógica, sei calcular quanto perco eu, contribuinte, que me esforço a trabalhar parte do ano e ao Estado entrego a maior parte do meu rendimento para que o mesmo Estado subvencione campanhas publicitárias. Será que alguém seriamente acredita que esta imensa despesa é minimamente reprodutiva para a vivência democrática e para a consciencialização do valor do voto? Ou que contribui para o conhecimento de programas e intenções de governação local?
Basta olhar para os cartazes. Os que existem e os muitos que a estes se seguirão e que correspondem a um paradigma firmado em milhões e milhões de euros ao longo destas décadas. Salta à vista que se aposta em mensagens publicitárias e não em esclarecimento. Os candidatos promovem-se do mesmo modo e com as mesmas técnicas de promoção dos sabonetes, das pastas dentífricas ou dos mais miseráveis conteúdos televisivos. Para além do favor do photoshop nas imagens, o que se lê são clichés sem significado ou conteúdo. Uma exposição de vaidades que assume custos verdadeiramente pornográficos!
Chamem-me demagogo. Continuarei a dizer o que sinto: é revoltante! Quase tão revoltante como a passividade e a falta de opinião crítica sobre este país político confessadamente incorrigível!
Os que fazem os cartazes e todo o tipo de papelada ganham um bom dinheiro. Esfregam as mãos de contentes. Se pudessem gostariam de ter eleições a todo o momento. E ganham os candidatos! Boas fotos, gravatas novas, cabelinho cortado e sorriso ensaiado. É um corrupio pelas aldeias e vilas para ver o "estrelo" ou a "estrela", na companhia dos amigos e familiares...
ResponderEliminar"Ficastes" muito bem na foto, sim senhor, mereces ganhar a presidência. Todo janota.
Não poderia estar mais de acordo com o conteúdo deste post, caro Dr. José Mário.
ResponderEliminarEle vem aliás, ao encontro daquilo que há dois dias comentei e opinei e que foi contestado pelo Dr. Pinho Cardão e pelo comentador Tonibler.
No nosso país, dado a situação que se vive, este é mais um escândalo, que no entanto não deixa de receber alimento da opinião pública, como refere o Prof. Massano Cardoso.
Talvez esta insanidade generalizada se fique a dever à inconsciência provocada por consecutivas anestesias ministradas de várias formas ao pováço.
É um estado a funcionar cada vez mais em circuito fechado. Já não deve durar muito mais tempo...
ResponderEliminarÉ. Um Estado iconoclasta, a todos os níveis, Tonibler: social religioso, político, desportivo, etc.
ResponderEliminarSe algum dia deixarmos de cultuar as pessoas a quem se deve respeito constitucional, pode ser que a "coisa" se endireite.
Caro Tonibler, esse Estado a funcionar em "circuito fechado" é um óptimo sinónimo de "Estado centralista"...
ResponderEliminarhttp://jornalismoassim.blogspot.pt/2013/06/portugal-o-bastiao-da-equidade.html
Caro Bartolomeu:
ResponderEliminarGrande e grave equívoco o seu, caro Bartolomeu. Eu concordar com gastos desse tipo? Nunca, caro Bartolomeu. E diga-me lá onde viu isso, se faz favor, claro está!...
O Massano Cardoso fez um belo retrato, esta prática é uma forma de fazer girar o dinheiro, ainda há-de haver quem venha medir o impacto no PIB. O Pepe Grilllo em Itália fez troça disto tudo ganhando as eleições a falar de uma carrinha com um megafone, além da net, é claro. Por cá preferimos amontoar todas as camadas de moda, as velhas fotografias penteadinhas, as "redes"', os "media " e o porta-a-porta a dar esferográficas. Deve ser para não falhar nenhum eleitor...
ResponderEliminarEquívoco algum, caro Dr. Pinho Cardão.
ResponderEliminarO meu comentário não se referia aos montantes gastos mas sim aos "truques" utilizados.
Eu sei que a área do meu estimado Amigo é economia, talvez isso o tenha ajudado a esquecer-se do que me respondeu num comentário ao seu post intitulado "Os idiotas inúteis" - Pinho Cardão disse...
«Caro Bartolomeu:
Os portugueses sabem muito bem o que é democracia. Provam-no em eleições sucessivas.»
Não são as verbas gastas nas campanhas eleitorais, nem a sua proveniencia nem o caminho dado ao dinheiro que sobra, nem se o mesmo é ou não declarado. O que me preocupa são os métodos usados para convencer, são as poses, as fatiotas, as maquilhagens, as palavras excluídas e as incluídas nos discursos. Tudo com o fito de enganar, de ludibriar, de convencer os cidadãos a optar por um fulano que, se se apresentasse nu de artifícios, ou simplesmente vestido de uma ideologia em que acreditasse e que defendesse, garantiria o voto dos que acreditassem na lisura das suas palavras e esperassem o cumprimento das acções que prometia.
Portanto, estimado Amigo, a coisa não tem a ver directamente com "guito", mas sim, com sentido ético, com lealdade e sobretudo, com verdade; talvez possamos classificar o conjunto de Democracia...
Que me diz?
Essa de ser o preço da democracia assenta bem é aos poliicos que se fartam de usufruir desse pensamento encantado!
ResponderEliminarO preço da democracia nunca deveria ser pago em favores políticos e em situações duvidosas, pois dessa forma deixa de ser democracia, que tem no seu âmago a honestidade e a defesa do povo até ás ultimas consequências!O que acontece é essa raça malvada aproveita até ao tutano a situação e o que que faz que haja milhares de políticos a viver à custa dos impostos do povo desde presidentes da junta reformados até presidentes que se banqueteiam com honorários de reizinhos!!!