sábado, 27 de julho de 2013

No meio da confusão ainda há quem serenamente procure explicar...

10 comentários:

  1. Uma verdadeira aula de swaps, com um grau de descodificação que permite perceber que o swap sendo um instrumento de cobertura de risco a que a gestão financeira deve recorrer para introduzir certeza na incerteza não é um papão, mas que utilizado de forma especulativa pode conduzir ao desastre financeiro. No SEE há as duas categorias, seria bom dispormos de informação descodificada sobre cada uma das categorias, porque os efeitos e as responsabilidades assumidas são diferentes consoante a categoria!

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  2. Obrigado prof. Cantiga Esteves!

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  3. Muito obrigado, muito instrutivo e acho que finalmente consegui perceber por que razão Teixeira dos Santos resolveu, ao fim de dois anos, sair do seu mutismo. Com os swaps, e a confirmar-se o que se ouve aqui, os esquemas de desorçamentação e financiamento desesperado começam a sair do relativo conforto de PPS,ou concessões de barragem com pagamentos à cabeça, que cabem ainda na categoria da decisão política, certa ou errada, mas defensável como estando apenas na esfera política, nunca judicial, para entrar na categoria da eventual responsabilidade legal. Em qualquer dos três casos que citei o modelo é sempre o mesmo: um instrumento normal e razoável é usado de forma totalmente inaceitável, desvirtuando o seu objectivo inicial para permitir a entrada de dinheiro no país, fosse a que preço fosse, com as consequências que tivesse de ter para as gerações futuras.
    Percebo o ataque cerrado a Maria Luís.
    henrique pereira dos santos

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  4. Tudo bem explicadinho, sim senhor. E, no entanto, faltou referir o que está de essencialmente errado: o facto de os gestores de empresas públicas dependentes do OE estarem autorizados, no caso até obrigados pela tutela, a fazerem este tipo de contratos.

    Se uma empresa pública depende do OE, as dívidas assumidas serão, mais tarde ou mais cedo, dívida publica. A capacidade de gestão destas empresas deveria estar limitada às receitas correntes e às subvenções contratualizadas com o Estado.

    É muito claro que a intenção de desorçamentação com o objectivo de iludir, temporariamente, o défice e a dívida, esteve dolosamente na origem de mais este rombo que a grande maioria dos portugueses tem de pagar.

    Apenas mais um reparo: É comum a invocação do nome do Estado em vão.
    Contrariamente ao que diz Cantiga Esteves, o Estado não actuou como especulador financeiro. Foram gestores públicos, e sabe-se quem foram, que, obedecendo às ordens de governantes, e sabe-se quais foram, que realizaram essas operações.

    E, das duas, uma: Ou actuaram dentro dos limites em que estavam autorizados a fazê-lo, e a culpa é de quem lhes deu essa autorização, ou excederam os limites, e a culpa é dos gestores na parte excedida.

    Sabe-se quem foram os culpados. O Estado não é culpado de nada. Atribuir culpas ao Estado equivale a desculpar os verdadeiros culpados.

    Que, como é hábito, não pagam pelos erros que cometem, ainda que o presidente do Tribunal de Contas entenda, ineficazmente, que deveriam ser responsabilizados sem dizer o que entende por isso.

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  5. A explicação é um bocado simplória e, em alguns pontos, errada. De qualquer forma a ideia de um swap servir como garantia de crédito é completamente absurda. Então o banco não emprestava por falta de garantia ia abrir um risco deste tamanho? Absurdo! Este senhor sabe menos que nós do que se está a passar.

    O que é estúpido é que não fazer swaps é outra forma de especulação. Uma empresa de transportes que não feche o seu risco no preço da gasolina está a especular sobre o preço da gasolina. Por isso, andar a julgar gestores por fazerem swaps é tão grave como não o fazer. A diferença está no detalhe do swap e na forma como está a ser contabilizado. Infelizmente, nenhuma das partes divulga os detalhes dos swaps e isso é que me parece a verdadeira imbecilidade nisto.

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  6. "Uma empresa de transportes que não feche o seu risco no preço da gasolina está a especular sobre o preço da gasolina."

    Importa-se de explicar melhor?

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  7. Imagine que tenho uma operação de transporte rodoviário (ou qualquer outro, mas rodoviário é mais óbvio).

    Sei que, à parte custos de pessoal, o meu custo da operação é combustível. Sei que vou gastar X toneladas, na melhor das hipóteses. Se não fizer nada, a minha fézada é que os combustíveis subam na mesma proporção dos preços ao consumidor. Certo? Mas é uma aposta, estou a especular sobre o preço da gasolina porque sei que vou gastar a gasolina DE CERTEZA.

    Portanto, se fizer um swap sobre o combustível (sobre o crude sei que posso fazer, sobre a gasolina não sei porque há muitos mercados) estou a ser prudente porque estou a transformar a incerteza do combustível em taxa de juro. Certo?

    Certo. Mas do ponto de vista contabilístico isto pode ser dado como errado. Porque as regras contabilísticas (e a classificação se um swap é de natureza especulativa ou não é um mero critério contabilístico, esta explicação ninguém a dá, não sei porquê) impõem que um swap seja considerado de natureza especulativa SE não existe contabilizado o risco que está a cobrir. Como as regras contabilísticas (outra vez isto) me impedem de contabilizar o combustível que ainda não gastei, então aquilo que é um swap prudente passa a ser um pesadelo contabilístico. Entende, caro Fonseca, como este festival pode apenas ser uma questiúncula de contabilidade?

    A explicação é muito simplória porque o que está em causa não são garantias de certeza. O que está em causa pode ser uma medida de gestão correctíssima transformada em pesadelo contabilístico pela intransigência de um auditor e ampliada para tragédia nacional por um funcionário público ignorante que chegou ao governo. E não é gratuito, porque depois desta mais nenhum gestor público vai sonhar em fazer swaps, prefere deixar a empresa enterrar-se de risco no combustível porque mais vale fazer-se de ignorante que ninguém o vai acusar de nada.

    Daí continuar sem compreender o segredo de volta das fichas técnicas dos swaps. Importam-se de mostrar ao dono dessa porcaria toda se os swaps são economicamente especulativos ou não?

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  8. "Entende, ( ), como este festival pode apenas ser uma questiúncula de contabilidade?"

    Não, não entendo. A contabilidade pode ser manipulada mas não altera a realidade, quanto muito pode disfarçá-la. Temporariamente. Foi por não ter em atenção a temporalidade do disfarce das desorçamentações que o governo anterior mandou realizar estes contratos de swap a quem não deveria ter sido dada capacidade para os fazer.


    Por outro lado, e é essa a questão que verdadeiramente interessa, um swap de preço, no caso de combustíveis, é, como qualquer swap uma opção, o que implica uma aposta. E uma aposta envolve sempre um risco, ainda que haja umas apostas mais arriscadas que outras.



    No caso que citou, do aprovisionamento de combustíveis por uma empresa transportadora, uma opção de preço ou de câmbio, não deixa de ser um risco. Pode ganhar ou pode perder. Se ganhar, parabéns. Se perder fica fora do mercado na parte respeitante a este factor de custo, independentemente da evolução dos preços dos transportes.


    Então uma operação de swap de taxa de juro, por exemplo, nunca se justifica?

    Justifica, sim senhor. Em duas situções: 1 - Se as actividades core business do tomador do swap permitem fazer o hedging do swap. 2- Se o financiamento sobre o qual se realiza um swap se destina a um investimento de recuperação a longo prazo. Neste caso, a taxa de juro fixo "contratada" não deve exceder aquela que torna viável o projecto a que o financiamento se destina.


    Já agora repito aqui uma história verídica que há algum tempo contei aqui no 4R ao APC. Um dia propuz a um cliente japonês a facturação em yenes. Por razões que não vêm ao caso, aquele cliente era o único que reunia as condições para podermos efectuar um contrato anual, muito vantajoso para nós, de vários milhões de dólares. No sector, a moeda de facturação era, e ainda é, o dólar, e são poucas as transacções internacionais feitas noutra moeda.


    O sr. Kochiyama, assim se chamava o comprador da segunda maior empresa japonesa do sector, que dirigia, e ainda dirige, a maior parte da sua produção para o mercado interno, pensou não mais que dois minutos sobre o assunto, depois sorriu e disse-me: Rui, agradeço-te a tua sugestão mas não posso aceitá-la. E não possa aceitá-la porque, como sabes, toda a gente neste mercado compra a matéria prima em dólares. Imagina qu eu te compro em yenes. Se o yen se desvaloriza relativamente ao dólar, faço um bom negócio, dar-me-ão os parabens e talvez um bónus no fim do ano. Mas se o yen se valoriza? Fico fora do mercado. O preço do produto final fica mais caro, toda a gente me acusará e posso até ser despedido.


    Percebeu? Eu percebi. Percebi que só um patrão pode livremente jogar com o dinheiro dele. E ninguém deve ter capacidade para poder jogar com o o dinheiro dos contribuintes. E muito menos os gestores de empresas públicas, geralmente comissários políticos sem competência mínima para gerir as actividades específicas das empresas quanto mais para lidarem com banqueiros matreiros.

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  9. Exacto, a contabilidade não altera a realidade. Conhece a realidade neste caso? É que só se conhece a contabilidade e esta pode assumir dois valores, dependendo do critério. Como só conhece um dos valores, não entendo o seu ponto... A não ser que conheça os detalhes e não os possa dizer, e aí já me calei...

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  10. A contabilidade é um instrumento, não é um argumento.

    As únicas contas que conheço são as que constam dos boletins informativos do sector empresarial do Estado. Presumo que estejam correctas até que alguém prove o contrário.

    http://www.dgtf.pt/ResourcesUser/SEE/Documentos/Relatorios/2012/Boletim_SEE_4T2012.pdf


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