1. Com alguma intensidade até ontem – a partir de ontem à noite entramos em “quarentena política” – começou a falar-se, nas últimas semanas, dos cenários pós-Troika, com destaque para as iniciativas do PR que pretenderam (bem, a meu ver) colocar o assunto na agenda política...
2. Parece-me, com efeito, que vai sendo tempo de começar a perceber aquilo que nos pode esperar, depois de Junho de 2014, quando ficar (se ficar...) concluído o Programa de Ajustamento (PAEF) em vigor.
3. E vai sendo tempo porque muito boa gente é capaz de pensar que vamos chegar a Junho de 2014 – por enquanto ainda sob a grande incógnita de saber em que estado lá chegaremos (mais ou menos comatoso) – e que vamos poder atirar a “Austeridade” para fora da carruagem, respirar de alívio, quiçá regressar alegremente ao folclore despesista que caracterizou os 9+6 belos anos interrompidos em Maio de 2011...
4. Numa recente (8 do corrente) e muito interessante intervenção do Governador do BdeP, acessível através do website da Instituição, são apresentados alguns dados elucidativos quanto ao que nos deve esperar no período pós-Troika.
5. Em 1º lugar, constata-se que as necessidades de emissão de dívida pelo Estado Português, no período 2014-2023 (assumindo que será emitida 50% a 5 anos e 50% a 10 anos), serão de € 14,5 mil milhões/ano, em média, o que compara a um valor médio de € 12,2 mil milhões no período 2000-2010 quando ao País gozava de uma notação de rating AA...
6. Por outro lado, existe o compromisso de reduzir o nível da dívida pública até 60% do PIB em 2032, depois de atingir um pico de cerca de 125% em 2014 e de cair para cerca de 100% em 2020...
7. Acresce que o andamento descendente do nível da dívida referida no ponto anterior pressupõe (i) o cumprimento integral dos objectivos do PAEF em 2013 e 2014, (ii) uma redução anual de 0,5 pp do PIB no défice orçamental estrutural até 2020, (iii) que o esforço de consolidação orçamental a partir de agora seja feito exclusivamente do lado da despesa (APLAUSOS, mas atenção à jurisprudência do TC...), e (iv) um ritmo de crescimento (nominal) do PIB de 3% ao ano.
8. Estes dados bastam para concluir que o tal período pós-Troika será tudo menos um mar de rosas – e afastam quaisquer expectativas de regresso ao folclore despesista do período ante e pós-Euro – se quisermos levar a sério os compromissos assumidos...
9. Se não quisermos levar a sério esses compromissos, como proclamam os habituais vendedores de ilusões - como os abnegados proponentes do doce “Que se lixe a Troika” – o pós-Troika será infinitamente mais ardoroso do que foram os últimos 3 anos...
Ha dois dias, fazendo V. Excelência uso da sua proverbial benevolência, escreveu em resposta a um comentário meu, a seguinte frase:
ResponderEliminar"Que vida tão difícil, esta de Postador do 4R!"
Como se constata pelo presente post, passaram a existir no nosso país, desde ontem, vidas infinitamente mais difíceis que as dos simpáticos postadores do 4R!
;)
Não, não... não me refiro à vidaça dos "engenheiros financeiros". Refiro-me à dos "mexilhões", aqueles que presos à rocha, sofrem o impacto violento, brutal e consecutivo das ondas.
Eu diria que o pós-troika não existe desde ontem. Eu não emprestaria um euro a um país com tal presidente da república, pelo que não vale a pena pensar em cenários que não vão acontecer.
ResponderEliminarLoooL!!!
ResponderEliminarEu diria que o Tonibler não emprestaria um euro a um país como o nosso, com este presidente, ou com qualquer outro, com este governo, ou com qualquer outro, com estes políticos, ou com quaisquer outros e já agora... com estes economistas e gestores, ou com outros quaisquer!
Seria melhor encarar de frente uma evidência: é impossível diminuir a dívida para 60% do PIB sem reestruturação da mesma. Bem sei que admitir isso oficialmente é o caos imediato. Mas, mais tarde ou mais cedo ...
ResponderEliminarClaro que é possivel. Já amanhã. Agora vai twr que mexer na reforma do anibal, por isso é inconstitucional
ResponderEliminarSó um parvo não emprestaria dinheiro a um país a 5% ou 6% de juros quando obtém dinheiro para esse empréstimo a juros de 0,5% ou 0,75%.
ResponderEliminarVá dizer isso ao Ulrich. Ele pensou a mesma coisa quando emprestou dinheiro à república helénica. Fez figura de parvo.
ResponderEliminarCaro Bartolomeu,
ResponderEliminarAquilo a que simpaticamente chama a minha "benevolência", não foi mais que "um estado de alma ledo e cego, que a fortuna não deixou durar muito (nem pouco)"!
Tem graça a sua cega confiança no bem-estar dos engenheiros financeiros, por oposição ao que apelida de mexilhão, num dia em que as acções dos bancos estão tombando mais do que qq outro activo financeiro transaccionável!
Caro Tonibler,
Não se afelie (expressão algarvia, verbo alfeliar) tanto com a "quarentena política" decretada pelo PR...uqem sabe se, contra todas as apostas, ainda se vai sair bem?!
Caro Alberto,
Julgo que quando refere a expressão "reestruturar a dívida" tem implícita a ideia de um perdão parcial da mesma - será assim?
Sendo assim, como encara, numa visão pragmática, tal operação cuja extrema complexidade não será necessário encarecer?
Responderá se quiser, como é óbvio...
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarpordeo-me desde já a frontalidade da minha questão mas,e usando as suas palavras...
...quando diz : "9. Se não quisermos levar a sério esses compromissos, como proclamam os habituais vendedores de ilusões(...)"
tendo em conta a recessão recorrente que vivemos,
em que medida "vendedores de ilusões" que refere, se identificam ou não em afirmações, por exemplo, que dizem o seguinte:
"um ritmo de crescimento (nominal) do PIB de 3% ao ano." ???
tenha alguma dificuldade em ouvir e ler comentários sobre o
ResponderEliminar'jardim à beira-mar plantado'
nunca pensei haver tanto imbecil por metro quadrado
um Cardeal Húngaro disse que, em dia de chuva, observadores à mesma janela só vêm o que gostam: um o Céu, outro a lama
Caro Tavares Moreira, eu não me alf..ale.. "coiso" nada. Agora que a Bloomberg já está a por a culpa do falhanço do leilão da Itália no Cavaco, está. Para quem queria descansar os mercados escusava de fazer tanto barulho a acordá-los.
ResponderEliminarComo já ouvi hoje, a Grécia é um país com enormes problemas estruturais, Portugal tem Cavaco Silva.
Caro Tavares Moreira, sabe, eu não me preocuparia tanto com o pós-Troika. É que nessa altura, a bem ou a mal, os governos terão que se governar com o dinheiro que tiverem... Isto partindo do principio de que vai haver pós-Troika já em 2014, algo que não dou por assumido assim tão facilmente.
ResponderEliminarCaro Pedro,
ResponderEliminarEsteja sempre à vontade em matéria de frontalidade! A frontalidade, casada com o fair-play como sucede no seu caso, é sempre bem-vinda!
Relativamente à questão que coloca, de haver venda de ilusões quando alguém admite um crescimento nominal do PIB de 3%, em média, no período 2014-2032, dir-lhe-ei que tudo depende do nível do deflaccionador do PIB que for utilizado.
Se estivermos a falar de um deflaccionador entre 1 e 2%, dir-lhe-ei que um crescimento nominal de 3% ao ano poderá ser uma ilusão...mas em dose muito moderada, nada de parecido com a "promessa do céu" (em vez do real inferno) em troca de "mandar lixar a Troika"!
Caro Floribundus,
"Isto" está a ficar realmente difícil de perceber e ainda mais de acomodar nas nossas mentes já tão saturadas de circo político...
Caro Tonibler,
A expressão é "afeliar" e não "alfeliar", como por lapso de escrita indiquei: significa ficar agastado (embora suavemente), saturado, incomodado (tudo em doses leves, nada de fúrias)...
Quanto à expressão que cita, eu tb já ouvi/li hpje dezenas desse tipo, creio que existe uma competição entre comentadores yo-yo para ver quem consegue ser mais imaginativo...e não me parece que o vencedor seja o tal que citou...
Caro Zuricher,
é capaz de ter bem razxão na dúvida que exprime no final do seu comentário...estou pensando exactamente na eventualidade de um prolongamento do período Troika, pelo facto de em Junho de 2014 haver ainda uma situação de empate - significando nem para trás nem para a frente, neste caso.
E quem sabe se, por essa via,só lá para meados de 2015 acabe por haver condições para pleito eleitoral...ou seja...
1-No regime Português, o PR é o órgão de soberania com maior legitimidade.
ResponderEliminar2-Atribuo vários erros graves ao atual PR, neste, e no anterior mandato.
3-Quanto à crise atual, o PR traçou a "bissetriz política" do país com mestria exemplar.
Caro António Barreto,
ResponderEliminarA tarefa de tirar bissectrizes parece fácil na matemática, mas no mundo político-social vezes revela-se bem complexa...
Sobretudo porque os pontos de referência são mutaveis por natureza, a bissectriz inicial pode rapidamente transformar-se numa heterosectriz sem que os protagonistas tenha sequer tempo para se aperceber de tal facto...
Dr. Tavares Moreira
ResponderEliminarNeste cenário do pós-Troika, o que me aflige verdadeiramente é exactamente o pressuposto da necessidade de ver o PIB crescer em média 3% ao ano em termos nominais (já para não falar da nossa dificuldade crónica em cortar na despesa pública. Basta aliás que olhemos para trás e recuando apenas 10 anos, vermos como se comportou este crescimento.
Agora para alcançar tal desiderato,há uns agentes económicos que são absolutamente indispensáveis e que terão que ser muito acarinhados, pois são eles os "carregadores do piano": os empresários e as PME´s.
Ainda que acredite
Bem observado, caro Mário de Jesus, bem observado!
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