1. Os estimadíssimos “media” divulgaram ontem, com grande surpresa e alguma indignação à mistura, a subida da dívida pública em % do PIB para o nível indecoroso de 131,4 (no final de Junho), muito acima do valor previsto no PAEF que apontava para valores bem mais modestos de 123%...
2. O Ministério das Finanças veio esclarecer, entretanto, que uma boa parte do agravamento verificado se devia ao facto de o Tesouro ter criado uma reserva monetária no equivalente a cerca de 3,5% do PIB, obviamente financiada pela emissão de dívida, destinada a cumprir um reembolso “jumbo”, a 23 de Setembro próximo, data em que se vence uma obrigação emitida no glorioso ano de 1998 ao prazo de 15 anos.
3. Quer isto dizer que, abatendo essa reserva monetária ao montante da dívida (o que faz sentido uma vez que está exclusivamente afecta ao reembolso próximo de uma dívida), a dívida pública cairia para um nível da ordem de 128% do PIB...mesmo assim muito acima do tal objectivo previsto no PAEF...
4. Não deixa todavia de ser muito curiosa esta reacção de espanto e de indignação por parte dos “media”, que, como sabemos, têm funcionado, com a mais louvável das diligências – e vão continuar a funcionar, para bem da Nação – como Advogados, Promotores, Incentivadores, Apóstolos, Acariciadores de todo e qualquer núcleo cívico, social, autárquico ou filantrópico que se apresente a reclamar mais e mais intervenção ou responsabilidade por parte do Estado, ou seja mais e mais despesa pública...
5. ...e que ao mesmo tempo se indignam ou juntam a sua voz à indignação (e muito bem, acrescento) contra os elevados níveis atingidos pela tributação, como no caso do IVA sobre a restauração ou dos IMI’s sobre o património imobiliário...
6. Parece pois falha de toda a lógica esta reacção indignada contra o crescimento da dívida pública, é capaz mesmo de saber a rematada hipocrisia...como pode alguém defender, de mente sã, que a dívida pública deve baixar, seja em valor absoluto ou em % de um PIB estagnado, se ao mesmo tempo sustenta, ardente e constantemente, o aumento das despesas e a diminuição das receitas?!
7. Assim a reacção mais lógica e salutar por parte dos estimadíssimos “media”, face a este agravamento dos níveis da dívida pública, resumir-se-ia numa palavra: “EXCELENTE”! Coloco entre “...“ porque me impressiona assaz, confesso...
Dr. Tavares Moreira
ResponderEliminarSeria importante que o governo explicasse, quando justamente publica este indicador (já o deveria ter feito antes,) quais as razões do aumento da dívida pública. Uma parte será explicada pelo facto de a dívida do SEE não consolidar e ter vindo a ser incluída. Será assim? E já estará totalmente integrada?
Caro Dr. Tavares Moreira,
ResponderEliminarTenho-o em grande consideração. A questão que parece estar em cima da mesa é, no entanto e se me permite a simplificação, do campo da aritmética.
O Governo tem cortado sucessivamente na despesa, por forma a gastar menos.
Paralelamente, aumentou os impostos, por forma a arrecadar mais.
Se esta fórmula não apresenta um resultado positivo, pelo contrário agravando a dívida pública, alguma das premissas não está correta.
Ou será que são os orçamentos das pequenas obras pré-eleitorais nos municípios de que são notícia hoje em tantos jornais da nossa praça ou os das festas municipais e respetivos artistas convidados a aumentar a despesa pública.
Em suma: seria conveniente que alguém explicasse ao Zé Povinho que trabalha e sustenta este Polvo Estatal quais os reais motivos para o incremento da despesa pública.
Os que apontam a dívida são os mesmos que impedem a redução do estado...
ResponderEliminarCara Margarida,
ResponderEliminarEssse esclarecimento é prestado, nos últimos anos até de forma bastante clara, no relatório da proposta Orçamental.
Mas creio que haveria toda a vantagem em efectuar essa clarificação com maior frequência, sobretudo agora que o perímetro orçamental e da dívida pública foi consideravelmente alargado, passando a incluir mais de 50 empresas públicas ou EPE's...
Caro Cralos Praxedes,
Muito obrigado pelo amável cumprimento, em 1º lugar.
Quanto ao ponto que refere, permito-me remeter para a resposta ao comentário da Dr.ª Margarida C. Aguiar, uma vez que uma boa parte do agravamento da dívida tem a ver com factores extra-orçamentais.
Caro Luís Moreira,
Tem razão, impedem a redução do Estado e não só...querem mesmo mais Estado, sempre mais Estado, de preferência financiado com dinheiro caído do Céu!!
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarNão é verdade que os portugueses queiram um estado independente, com o que isso acarta de responsabilidade comum e individual. Querem uma coisa que lhes dê facilidades. Por isso, isto são boas notícias. Significa que o fim dos sacrifícios está próximo. Dos meus em favor dos outos, pelos menos. Isto é, EXCELENTE!
Quem sabe se não tem razão, caro Tonibler!
ResponderEliminarRecordo-me do velho ditado que "Deus escreve direito, por linhas tortas"!
Neste caso, de tanto inflacionar a dívida pública, com o défice orçamental mais a miríade de consumidores/destruidores de fundos públicos, com estatuto empresarial ou similar, que este belo Estado foi encastelando ao longo de mais de 30 anos, quem sabe se não acabaremos num protectorado financeiro, sem qq espécie de autonomia...
E aí chegados, acabar-se-á a fantasia?