Um dos maiores problemas que este Governo tem de enfrentar, como aliás qualquer outro, é o modo como comunica com os media, sabendo-se que não há forma eficaz de transmitir diretamente aos cidadãos o que se pretende fazer, o que realmente se faz e a interpretação dos resultados das políticas empreendidas. Vivemos na sociedade da mediatização, da qual dependem, em primeira linha, os dirigentes políticos, a grande maioria deles criaturas nascidas e regadas pela comunicação social.
Há umas semanas, neste post, anotei a infelicidade do modelo (importado) que o Governo escolheu para dar conta das medidas e explicá-las, lastimando que uma boa aquisição para a equipa governamental, como é Pedro Lomba, ficasse refém de uma imagem que não faz jus à sua inteligência. Pouco tempo se passou e o núcleo de coordenação política do Governo chegou à mesma conclusão, anunciando o fim dos briefings.
É facto público e notório que existe uma comunicação social - a grande maioria dos seus órgãos - francamente hostil ao Governo. Também não se esconde a cambada de analistas e comentadores que não temem passar pelo ridículo da contradição desde que convenha ao malhanço no Governo ao menor pretexto, designadamente os que se anunciam da "área" da coligação, valorizando-se assim pela imagem de independência que fazem passar. Mas também é facto indesmentível que existem deficites e erros comunicacionais que não são da responsabilidade se não do próprio Governo. A começar pela responsabilidade do senhor Primeiro Ministro. Percebeu-se isso, uma vez mais, na última tradicional festança do Pontal.
Estes mais de dois anos confirmaram que Pedro Passos Coelho não é alguém que saiba utilizar a palavra como instrumento poderoso que ela pode ser para um político. Não tem a habilidade discursiva de Paulo Portas, por exemplo; nem o simplismo verbal atrativo de um Mário Soares, para só apontar dois casos de políticos que se afirmam com facilidade pela palavra, sobretudo quando é difícil explicar o racional das medidas ou das omissões ou, em geral, quando as coisas não correm de feição. O Primeiro Ministro não tem esse dom, nem parece que o venha a adquirir com a experiência (ao contrário do que aconteceu com muitos). E ao seu lado também não tem quem o aconselhe a escrutinar previamente o sentido das palavras e expressões que frequentemente utiliza que, por equívocas, fazem com que do seu múltiplo sentido se aproveitem aqueles que apontam para a pior intenção. Ou se tem a seu lado quem o aconselhe a não apostar no improviso, desdenha desse conselho. E faz mal.
Aproveitando a ideia dos briefings, talvez não seja mal pensado convolá-los em sessões prévias a intervenções públicas de grande impacto, em que os membros do núcleo político do governo "briefem" o Primeiro Ministro sobre o que deve ser dito mas sobretudo como deve ser dito.
Quem aqui anota o que antecede considera que Pedro Passos Coelho fez no Pontal uma dos mais honestos discursos que ouviu da boca de um político de topo. Mas a sua opinião não é filtrada nem mediada...
Nunca ninguém tinha tirado o dinheiro estatal que faz a vida de boa parte dos interesses ligados aos media. A Sic ou a TSF, não tinham rubrica que não fosse feita com o apoio do ministério, do instituto, da sec de estado. Isto para dizer que não é líquido que haja solução para essa 'incapacidade'.
ResponderEliminarPor outro lado, não sei se concordo que esses media de que fala são a comunicação com o eleitor quando as audiências reais devem estar nuns 2 ou 3%.
A meu ver, uma coisa é articular bem as palavras, falar com fluidez, fazer frases direitinhas e fáceis de ouvir, usar um tom coloquial que inspira confiança em quem assim fala. Outra coisa, muito diferente, é articular bem as ideias, tê-las bem organizadas e encadeadas, ter pensado bem no que pode e deve ser dito ou no que pode ser dito mas mal entendido. São duas coisas substancialmente diferentes, daí talvez algumas das perplexidades que aqui expressa. Corrige-se não confundindo oratória - uma arte bem interessante, a meu ver, -com comunicação.
ResponderEliminarO problema é que existe um tremendo desfasamento entre a geografia eleitoral e os média.
ResponderEliminartudo o que se diga ou faça é "mediado" negativamente.
ver texto com demonstrações no
http://www.oreformista.blogspot.pt/
sobre o tema
António Alvim