Já aqui confessei as minhas muitas (e graves) limitações para perceber análises e prognósticos sobre a economia e as finanças nacionais. Irrita-me esta falta de conhecimento que é responsável, por exemplo, por não entender a solução do PS para o problema da falta de crescimento e de emprego, para a consolidação das contas públicas ou para o endividamento crescente numa situação em que a riqueza nacional continua a ser insuficiente para alimentar o Estado que temos e ao mesmo tempo impulsionar a economia que não aproveita de recursos que, pela via fiscal, continuam a ir direitinhos para os cofres públicos.
Hoje, porém, o porta-voz do PS para estes assuntos, na sequência do encontro com os senhores da troica, abriu-me os olhos. Se bem percebo, o PS sendo contra a austeridade não é contra o ajustamento. E não sendo contra a necessidade do ajustamento, logo, pela austeridade, o que distancia afinal o PS das políticas impostas pelos credores? A velocidade. A velocidade do ajustamento, cujos limites, diz Brilhante, foram ultrapassados pelo governo.
E então, pergunto eu, ignorante, a Brilhante: se abrandarmos a velocidade do ajustamento que pelos vistos é necessário, designadamente se não diminuirmos a despesa pública enquanto ela for bem superior à receita (não sendo mais possível aumentar o volume desta), não teremos de nos continuar a endividar para financiar o deficite? E essa dívida é mais virtuosa do que aquela que nos obriga a todo esse esforço? Ou a preocupação do PS pelo endividamento e pelos ónus que impõe tem, afinal, dias?
Não conheço o pensamento do Brilhante, nem mesmo dos opinadores do PS...mas deixo-lhe uma referencia que poderá ajudar a entender a parte da "velocidade excessiva":
ResponderEliminarhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Curva_de_Laffer
ou seja: "(...) aumentando as alíquotas além de certo ponto torna-se improdutivo, à medida que a receita também passa a diminuir. "
No caso portugues, é possivel confirmar isto na realidade fiscal recente...onde o aumento de impostos não originou nenhum aumento de receitas. (são varios os indicadores e numeros já publicados que o comprovam).
Se ainda assim for dificil entender, podemos usar um exemplo no limite do absurdo, que ajuda a compreender a questão:
- Todos os tratamentos por quimioterapia/radioterapia são doseados e faseados...porque aumentando a dose de radiação do tratamento, não cura, antes pelo contrario irá matar o paciente.
Se as opções e politicas financeiras/economicas do PS são as correctas...não faço ideia, nem tenho conhecimentos ou formação para o dizer...
...mas ainda consigo ajuda-lo a perceber o detalhe das "velocidades"...e num instantinho!
espero ter ajudado.
falando sobre a "consolidação das contas públicas."
ResponderEliminarEm dois anos Passos Coelho endividou o país em 35% do PIB, mais do que em todo o período de 1981 a 2007. Em pouco mais de dois anos fez regredir o país em mais de 10.000 milhões de euros, cerca de 7% do PIB, situação nunca antes verificada em Portugal.
Se bem compreendo, insiste o governo e os seus apoiantes no caminho da austeridade para o país sair da crise, isto é, para o país sair da austeridade.
ResponderEliminarTrocando por miúdos, é preciso mais austeridade para, precisamente, o país sair da austeridade.
E Passos Coelho parece ser o homem mais convicto do mundo quando proclama um tal absurdo. Mas, como temos verificado nestes últimos tempos, nada será de estranhar uma vez que o absurdo, o inverosímil, não tem constituído qualquer obstáculo ao dogmatismo neoliberal.
Para quem acha o "bom senso" subjectivo...é natural que para "abrilhantar" o Brilhante venha com o dito e que F. de Almeida muito bem assinala.
ResponderEliminarO bom senso reina em todos, mas pode não ser exteriorizado por todos; e reina em todos porque o bom senso é compreendido por um largo número de interlocutores...coisa que o Brilhante não sabe, porque acha que é subjectivo (interno).
É bom senso saber que num Estado que deve...o devedor sujeita-se ao credor, mas...o Brilhante não sabe desta regra de bom senso que todos os devedores na vida real sabem. Não sabe porque é, para o Brilhante, uma regra íntima, interna, interior...;
O aumento da dívida no tempo de Passos serviu para pagar as contas do governo de Sócrates e, quanto so déficite, baixou cerca de 10 mil milhões.Sócrates entou com 62% de dívida e saiu com 90%. Se lhe juntar as dívidas que estavam fora do circulo da dívida, chegamos à conclusão que Sócrates fez mais dívida que todos os PM somados desde Cavaco
ResponderEliminar“as dívidas que estavam fora do circulo da dívida”
ResponderEliminarA Comissão (Eurostat) recebe das autoridades estatísticas portuguesas informações sobre a dívida global bruta do sector da administração pública, que inclui a dívida da administração central, regional e local e da segurança social. O Eurostat recebe também das autoridades estatísticas portuguesas informações anuais regulares sobre as parcerias público-privadas classificadas no sector da administração pública. No entanto, não estão disponíveis informações sobre as parcerias público-privadas classificadas como elementos extrapatrimoniais da administração pública. A Comissão (Eurostat) não dispõe de informações completas sobre a dívida das empresas públicas (detidas pela administração pública, central ou local).
A Comissão (Eurostat) entende a expressão «dívida pública indirecta» como a dívida das empresas públicas. Embora a Comissão tenha conhecimento da existência desses dados e acolha favoravelmente a sua publicação, tais dados não são, por agora, recolhidos nem validados pela Comissão. No futuro, e impreterivelmente a partir de Janeiro de 2015, a Comissão (Eurostat) estará em condições de publicar a dívida de empresas públicas (bem como as garantias governamentais e as parcerias público-privadas extrapatrimoniais) por força da Directiva 2011/85/UE sobre requisitos aplicáveis aos quadros orçamentais dos Estados-Membros.
A dívida pública subiu de 35% de 2010 a 2013, situando-se hoje nos 134% do PIB, sem nela estar considerada a dívida pública das empresas públicas e das parcerias público privadas (PPP), ao que se chama dívida pública indirecta e que em 2012 correspondia a cerca de 15% do PIB. Contudo, se contarmos com o endividamento garantido pelo Estado em nome dos bancos (passivos contingenciais) o endividamento indirecto ascende a 30% do PIB. Uma autêntica bomba-relógio no parecer da Standard & Poor's.
No princípio do ano, a "dívida escondida" de Portugal valia 15% (cerca de 25 mil milhões de euros) do produto interno bruto (PIB), disse na altura o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Curiosamente, também eu me queixo do mesmo, caro Ferreira de Almeida, pelo que o texto do meu amigo foi um lenitivo para a minha continuada tosca percepção dos raciocínios do Brilhante.
ResponderEliminarAliás, o ar emproado do homem, a importância que dá a si mesmo, o modo como se toma a sério naquilo que diz desvaloriza por completo o conteúdo.
Enfim, miserável o conteúdo, paupérrima a imagem. Não vendia nem um olho a um cego com dinheiro.
Caro Carlos Sério:
Creio que o meu amigo, dentro do seu estilo e maneira de pensar, já tem expresso ideias bem mais fundamentadas e brilhantes. Para comício, a frase levava a assistência ao rubro.
E então? Dito de outro modo e por forma que incluindo o autor perceba. De quem é a responsabilidade dos 78 mil mlhões que a Troika emprestou a Portugal e sem os quais o país deixava de cumprir?
ResponderEliminarMeu caro Pedro. Obrigado pela explicação. Quanto à curva os meus parcos conhecimentos ainda me permitem interpretá-la. Julgo todavia que não estamos sintonizados eu, o meu Amigo e o Brilhante uma vez que eu pouco sei, o meu caro vê a coisa pelo lado da receita que não é elástica e o Brilhante que ao referir-se ao excesso de velocidade aponta para uma diminuição do ritmo de redução da despesas, isto é, aposta em maiores deficites. Como o meu Amigo bem refere como não vale a pena tentar cobrar mais receita fiscal porque os rendimentos não crescem, consolidar à custa de um menor ritmo significa continuar na senda do endividamento. Mas que sei eu?
ResponderEliminarAs minhas desculpas pelo vergonhoso português do comentário anterior. Teclado de telemóvel não facilita o rigor e a correção.
ResponderEliminarTambém tenho dificuldade em entender as propostas do PS e principalmente a de Seguro, já requentada, de conseguir o equilíbrio das contas públicas sem austeridade pela via do crescimento. A este respeito escrevi no meu blog:
ResponderEliminar«Ouvi hoje Seguro repetir o argumento de que está contra os cortes previstos para o orçamento de 2014 porque o que é preciso é "equilibrar as contas públicas, mas pela via do crescimento e do emprego", em vez de austeridade. Segundo o Sol disse textualmente "Há dois anos que dizemos que o país precisa de mais tempo para equilibrar as suas contas públicas e que o país tem de sair da crise pela via do crescimento da economia e do emprego. Hoje estivemos a dizer isso (à troika)". Ora basta fazer umas contas para constatar que, sem diminuir a despesa do Estado, seria necessário um crescimento estratosférico para, unicamente pela via do crescimento, conseguir reduzir o défice das contas públicas de modo a atingir o equilíbrio, entendendo por equilíbrio um défice nulo ou quase nulo. Em Novembro de 2012, perante um discurso semelhante do mesmo indivíduo, dei-me ao trabalho de fazer umas contas e concluí que, para satisfazer a meta de um défice de 4,5% em 2013, meta que entretanto foi revista, sem aumentar os impostos nem cortar a despesa seria necessário um crescimento de 54%!!! Entretanto a meta para 2013 foi ajustada a 5,5%, mas para atingir os 4% requeridos para 2014 (ou mesmo os 5% que Seguro pretende e que requereu hoje na reunião com os representantes da troika) sem cortes, o crescimento teria de ser da mesma ordem. Como pensará Seguro resolver a questão? Será que não tem um único economista que saiba fazer contas entre os seus conselheiros e lhe diga para não continuar a dizer asneiras?»
Tem dias, os dias antes de ser governo e os dias depois de ser governo
ResponderEliminarO interessante no meio dos comentários que por aqui aparecem,é sem dúvida o do sr."Sério"!Creio que este será mesmo o caso em que não basta ser sério mas parecê-lo!Realmente quando se atribui ao PCoelho o aumento da dívida é de bradar aos céus!Fiquemos pela narrativa!É que,pelos vistos sérios há muitos!Só que não se chamam carlos!
ResponderEliminarDiz Passos Coelho, que nenhum governante em seu juízo perfeito pretende o empobrecimento do país, voltando à estafada argumentação de que os portugueses “viveram acima das suas possibilidades”.
ResponderEliminarA argumentação de Passos Coelho é falsa e falaciosa.
Em primeiro lugar, é falso que o país se endividou ao longo dos anos. Ao contrário, a dívida pública portuguesa manteve-se mais ou menos estável ao longo dos anos, na ordem dos 60% do PIB, que é o valor exigidodo pela União Europeia, longe da abrupta aceleração que teve a partir de 2008. Assim, em 1990 a dívida pública era de 51,3% do PIB; em 2000 de 52,0%; em 2005 de 67,7%; em 2006 de 69,4%; em 2007 de 68,4%; em 2008 de 71,7%; em 2009 de 83,2%; em 2010 de 93,5%; em 2011 de 108,1%; em 2012 de 123,5%; e em 2013 já vai em 134,4%.
Verifica-se então que a dívida pública só começou a disparar a partir de 2007/2008. Precisamente com o início da crise financeira internacional, com a crise da banca internacional. Não parece que os portugueses sejam responsáveis pela crise financeira dos subprimes e pelos activos tóxicos com que a banca americana inundou o mundo financeiro provocando uma profunda crise de liquidez dos bancos.
Por outro lado é fácil verificar que foi nestes dois anos de governação Passos Coelho que o país se endividou mais, cerca de 35% em apenas dois anos (tomou posse em Junho de 2011). O país endividou-se mais nestes dois últimos anos de governação de Passos Coelho do que em todo o período de 1981 até 2007 (em 1981 era de 36,3%; em 2007 de 68,4%, pelo que a diferença é de 32,1%, inferior aos 35% conseguido pelo governo nestes dois últimos dois anos).
Em 26 anos o país endividou-se menos que nestes dois últimos anos de governação de Passos Coelho.
É preciso de facto “não estar em seu juízo perfeito” para este governante insistir nesta argumentação do “viver acima das suas possibilidades”.