Leio no Expresso (não encontrei a notícia em formato electrónico, razão pela qual não incluo o link) a justificação dada pelo SE da Cultura para o facto de o edifício do futuro Museu dos Coches estar parado. Julgo que há um ano ou mais. Está localizado junto ao Palácio de Belém, numa zona histórica e turística da Cidade. Passo lá muitas vezes. Tenho-me interrogado sobre o que se passa. Muita gente fará o mesmo. O edifício não está concluído. Museu nem vê-lo. Confesso que não me consigo habituar à ideia, não gosto daquele bloco de cimento de volumetria gigantesca, desfeia a paisagem. Pode ser uma grande obra arquitectónica, mas gostos e sensibilidades não se discutem. Fazia parte, segundo a notícia, das contrapartidas iniciais do Casino de Lisboa.
Mas quanto a custos não há
gostos, há factos. Já foram enterrados na obra 35 milhões de euros. No entanto,
a abertura do Museu dos Coches não está nos planos do SE: “O Governo não ignora
a circunstância do Museu dos Coches, mas, para mim, neste momento, apesar de
ser uma situação que queremos resolver, há outras prioridades, como seja
garantir que as estruturas existentes possam desenvolver o seu trabalho apesar
das condições de restrição em que vivemos, e que possamos dar aos agentes culturais
e à população em geral uma oferta e fruição cultural desejáveis para um país
europeu. O problema que se coloca ao Estado é um problema de mecanismos de
fecho da obra e de gestão do equipamento. O montante estimado (…) é de 3,5
milhões de euros por ano. Ora, hoje, o actual Museu dos Coches não gera um terço
disso. Multiplicar por três esta situação numa altura de contracção económica é
um passo muito difícil. Para mim, neste momento, o que é uma prioridade é
estabilizar o Teatro Nacional de São Carlos e a Companhia Nacional de Bailado,
garantir o funcionamento dos nossos museus, reabilitar o património em risco e
promover a abertura de espaços patrimoniais à população.”
Deixar a obra inacabada à mercê do
tempo não parece ser uma boa decisão. Não que não fosse necessário um novo
espaço para dar a conhecer a importante colecção de coches, a que está exposta
e a que por falta de espaço não pode ser exibida. Com tantos espaços na zona da
Ajuda para reabilitar, incluindo o Palácio da Ajuda, a opção poderia ter sido
outra, mas não. O actual Museu dos Coches é, se não me engano, o museu mais visitado
em Portugal.
Enfim, um esbanjamento de recursos e uma ausência de planeamento é o que este caso demonstra. Mais um, a juntar a muitas outras “catedrais” que o país colecciona. Pelos vistos o novo Museu dos Coches está votado a um estado de sine die, não está incluído na prioridade de promover a abertura de espaços patrimoniais à população. Por quanto tempo?
Enfim, um esbanjamento de recursos e uma ausência de planeamento é o que este caso demonstra. Mais um, a juntar a muitas outras “catedrais” que o país colecciona. Pelos vistos o novo Museu dos Coches está votado a um estado de sine die, não está incluído na prioridade de promover a abertura de espaços patrimoniais à população. Por quanto tempo?
" ...gostos e sensibilidades não se discutem..."
ResponderEliminarÉ a única afirmação neste seu apontamento de que discordo. Por que razão não se devem (ou não podem) discutir os gostos? Porque um aforismo do tempo do outro senhor manda? Se assim fosse a estética nunca teria sido, talvez, o mais polémico ramo filosófico e arte nunca teria passado de um nado morto.
Estivemos há dias no Museu dos Coches com parte da nossa gente mais nova e, vendo o interesse deles, recordei-me da primeira vez que lá estive, tinha, então, a idade deles agora.
O espaço é acanhado para tamanho acervo? Admitamos que sim. Mas os coches estão num ambiente do tempo da idade deles. Tirá-los de lá é tirar-lhes metade da alma. O antigo Picadeiro Real é a sua casa adoptiva e, como qualquer pessoa de idade, sinto-os a recusarem-se a habitar um espaço que de todo em todo lhes é estranho.
Fico, portanto, satisfeito que a falta de dinheiro evite uma tropelia ao aconchego das nobres carruagens. Aliás, assim como o excesso de crédito nos condenou a esta badalada vil tristeza também a falta de recursos obrigará a refrear a sofreguidão de alguns pelo lucro fácil.
E só essa sofreguidão, do meu ponto de vista, justifica aquele excesso de cimento que, pior do que os 35 milhões que lá foram enterrados, obrigará, quando abrir as portas, a custos que, ao fim de uma dúzia de anos, se tanto, terão consumido o equivalente ao investimento na bisarma.
Razão de tudo isto: A conivência perversa entre os políticos, que se sustentam dos votos, dos construtores civis e atividades correlativas que lhes fazem as obras com que enchem os bolsos e compram os votos dos papalvos.
No fim de tudo isto, o que mais custa, não é o que já custou, é o que vai custar no futuro se continuarem a faltar mecanismos legais que evitem a continuação do desaforo.
Que continua. Estamos, precisamente agora, em plena época de caça ao voto com chumbo a crédito.
35 milhões apenas?
ResponderEliminarComo os do Beja Airport «um pequeno investimento para tão grande projecto» (Sócrates, especialista em banha da cobra)
Sem ministro das Finanças à altura, ou PM em conformidade, as autárquicas Setembro 2013 aí estão para confirmar.
Que o desvario democrático não pode parar.
A bem do Regime.
Se repararem este museu dá equlibrio à praça tendo a volumetria e até o "traço" do CCB.Dinheiro deitado à rua...
ResponderEliminarO processo da transferência do Museu dos Coches, para o novo edifício, nesceu côxo e côxo parece continuar. Comparativamente com o efeito que o transporte naquelas limousine de outros tempos causava aos estômagos mais sensíveis, tambem este coxear sem fim à vista está a causar engulhos a muito boa gente.
ResponderEliminarDe qualquer modo, é bom que mantenham as carripanas em bom estado de conservação, pois... com esta crise e este reduzir de despezas não tardará muito que voltemos a ver os nossos eminentes políticos, utiliza-los nas suas deslocações. Com a vantagem de que as alimárias... Como?! Não; refiro-me às que tiram os carros, já não sujam as ruas, como acontecia nos tempos idos; foi importada uma ideia muito higiénica que atrela aos quartos trazeiros dos animais, uma espécie de saco onde os cadabulhos vão ficando retidos até regressar à "garagem" altura em que serão depositados no sítio adequado. Esta "fralda" devia ser ovrigatóriamente usada por muito boa gente que decide, evitando assim ao pobre cidadão-pagante, tropeçar com tanta frequência nos montes de merda deixados por alguns...
Cara Margarida,
ResponderEliminarPelo menos no estado em que se encontra não gera os tais milhões de encargo anual líquido para o OE...
É bem melhor "investimento" neste estado, do que concluído...
Sugiro a reconversão para monumento à Estupidez Nacional, ficando a perpetuar as decisões de "investimento" público idiotas dos últimos anos...
Embora duvide que tenha espaço suficiente para albergar todos os testemunhos/documentos de tais decisões...
Caro Rui Fonseca
ResponderEliminarClaro que os gostos também se podem discutir. A beleza, especialmente, aprecia-se. A beleza do dito edifício poderá ser sempre discutida à luz da "Crítica da Razão Pura" de Kant. Não teria sido má ideia.
Agradeço a distinção que deu ao meu post no ALIÁS - http://aliastu.blogspot.pt/2013/09/felizmente-nao-ha-dinheiro.html - com um título, aliás, bem mais apelativo do que o meu: “Felizmente, não há dinheiro”.
A falta de dinheiro é o remédio para se fazerem menos disparates. Para "catedrais" acabou.
Caro Bmonteiro
A obra ainda não acabou. Os 35 milhões já não são suficientes. Caro Luis Moreira
É um projecto desequilibrado.
Caro Bartolomeu
Já diz o ditado popular que “o que nasce torto tarde ou nunca se endireita”. O problema é a despesa realizada e a que ainda falta e os custos de exploração. Não contavam com a crise. Pois é, para a crise contribuíram estas lindas operações.
Dr. Tavares Moreira
Apoiado, temos que lhe dar alguma utilidade.
Desta vez não concordo consigo, cara Dra. Margarida Aguiar.
ResponderEliminarEm 1º lugar porque acho o futuro museu dos coches uma obra que não me choca nada. Quem o observa, descendo a calç. da ajuda ou mesmo do atual museu, vê para além dele...
Agora, inteligente, era o atual museu dos coches passar ao que sempre foi: um picadeiro.
E não é disparate nenhum. Segundo um estudo que tive oportunidade de ler, a maioria dos países com tradição em cavalos, tem um picadeiro junto aos palácios reais onde a alta escola dá espetáculos programados. Quem melhor do que nós sabe de cavalos, pois se selecionamos a melhor raça, espalhada pelo mundo inteiro?
O que sei é que esses picadeiros "reais" faturam que é uma loucura. imaginemos pois, na mesma área cosmopolita como é belém, voltar às origens -ter um picadeiro de alta escola! Dois em um. Está tudo invent5ado, o problema é qu somos lentos...
Caro jotaC
ResponderEliminarRealmente, gostos não se discutem.
Discuta-se, então, a solução, os custos envolvidos, de investimento e de exploração.
A nossa Escola Equestre merecia um picadeiro real para aí mostrar a sua arte. Julgo que o actual espaço do Museu dos Coches, outrora Picadeiro Real, que o Caro jotaC bem assinala, não teria condições para ser um picadeiro de espectáculos, como acontece em Viena de Áustria com a Escola de Equitação Espanhola. Conhece? É uma verdadeira maravilha. A nossa Escola Equestre merecia algo idêntico. Já a vi actuar ao ar livre, no Verão, no Palácio da Ajuda.
Mas o novo Museu dos Coches, para além de ser um sorvedouro de dinheiro, não dá resposta a estas preocupações e duvido muito que esteja pensado para recrear o ambiente dos tempos antigos dos coches.
Não são devidos agradecimentos, Estimada Margarida Corrêa de Aguiar. É sempre uma honra receber no meu bloco de notas os seus comentários.
ResponderEliminarGrato estou eu pela sua presença.