"Com licença, obrigado, desculpas” são as três palavras da convivência e quando são usadas, a família vai bem." Papa Francisco
O Papa Francisco disse hoje que há três expressões que deviam estar presentes na família, são elas " com licença", obrigado" e "desculpa" lembrando uma vez mais que o segredo das grandes dificuldades está tantas vezes nos gestos mais simples e mais humildes. Mas não é tão fácil como parece, a proposta é afinal de uma enorme exigência, tão grande que nos conduz à noção elementar da educação e da urbanidade que hoje encontramos com muito mais facilidade entre as pessoas mais simples, menos letradas e menos viajadas, do que entre as que se apropriaram da modernidade como se fosse esse o cartão de apresentação que conta. Para pedir "com licença" é preciso em primeiro lugar ter consciência da presença do outro, dar-lhe importância e, o que é mais difícil, reconhecer-lhe o direito de dizer que não. Pedir licença é respeitar e dispor-se a não pisar o território alheio. Espera-se, claro, a mesma cortesia, que o outro diga, sim, faz favor, ou seja, ambas as pessoas se dispõem a dar importância ao que o outro tem ou pretende ter.
Já o pedir desculpa é ainda mais difícil, houve uma falha, pensou-se no caso, a conclusão foi crítica para quem praticou o gesto, é preciso concluir " errei" e ainda por cima "fiz-te mal" e "não tinha esse direito". Pedir desculpa é um gesto de decência e de nobreza e obriga o outro a vir ao encontro, a avaliar a sinceridade, a pôr a desconfiança e o ressentimento de parte, também o ofendido tem que ter elevação e nobreza para que surja a harmonia.
Quanto ao "obrigado", valha-me Deus, é quase uma relíquia hoje em dia, a verdade é que o clima instalado é o de que não há nada que agradecer, é tudo devido e é pouco, li há dias um texto de um jovem político que dizia que é verdade que os da nova geração também beneficiaram dos progressos do País mas, alto aí!, havia que fazer bem as contas porque também tinha ficado uma grande factura por pagar e, portanto, está bem está bem, no fim de contas não havia nada a agradecer, se os papás não saldaram as contas não lhes peçam agora que os poupem na velhice. O mais cómodo é pensar que não há nada para agradecer, enquanto o mais conveniente é acreditar que nunca é demais o que é recebido, trata-se sem dúvida de um defeito de educação, de uma distorção do comportamento a que, de uma forma muito simplista, chamamos "egoísmo". Mas antes fosse, é também arrogância, é um sentido de domínio que relega os outros, com toda a naturalidade, para a condição de obrigados. Dizer espontaneamente, educadamente, "obrigado" é nivelar-se com o outro, é prestar-lhe homenagem e, o mais difícil, é dizer-lhe, tão somente, fizeste-me bem e devo-te isso.
A proposta do Papa Francisco é uma revolução nos dias que correm. Mas não depende dos políticos , embora fosse bem vindo o exemplo, não depende de cimeiras, de estratégias, de geopolíticas ou de orçamentos equilibrados. Depende apenas de cada um de nós, e pode começar já. Obrigada, Papa Francisco.
Suzana
ResponderEliminarGostei imenso do seu texto e muito oportuno.
A proposta do Papa Francisco é um apelo aos valores mais básicos e simples que se perderam na modernidade do desenvolvimento virado para o ter que relega para segundo ou terceiro planos o ser. O Papa Francisco lembra-nos que a humanização da sociedade passa por fazermos coisas simples, que o caminho não precisa de fórmulas sofisticadas ditadas por um qualquer laboratório económico.
É uma forma simples de chegar às pessoas, como se tivesse a conversar connosco, aqui ao nosso lado. É extraordinária esta familiaridade e proximidade às pessoas. É uma surpresa para muitos, numa época em que as pessoas são representadas ou substituídas por números, estatísticas, indicadores financeiros ou contabilidade económica, esquecendo que são seres humanos.
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ResponderEliminarE além disso, Margarida, recorre a uma linguagem que todos entendem, sem subterfúgios, trocadilhos ou distorção do sentido corrente da representação de cada palavra. A quantidade de desculpas que devia haver por aí, se o Papa fosse ouvido!
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ResponderEliminarExcelente construção, com tanto de didático!, três palavras singelas já gastas de tanto as usarmos, mas nem sempre lhes atribuímos o real sigificado.
ResponderEliminarMuito bom mesmo, tomei a liberdade de partilhar na minha página.
De facto, cara Suzana, a vida seria muito mais simples para todos se os conceitos traduzidos nessas três expressões que citou fossem concretizados no dia a dia de todos nós.
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