1. Acaba de ser publicada a edição de Outubro do Boletim Estatístico do Banco de Portugal, a qual inclui informação sobre a Balança de Pagamentos com o exterior até ao mês de Agosto.
2. Segundo essa informação, acentua-se a melhoria já verificada em meses anteriores (e de que aqui demos devida nota), traduzida nos seguintes principais dados:
- Balança Corrente: + € 1.163 milhões (0,7% do PIB)
- Balanças de Bens + Serviços: +€ 2.336 milhões (1,4% do PIB)
- Balanças Corrente e de Capital: + € 3.727 milhões (2,3% do PIB)
3. Quer isto dizer que o desendividamento da economia em relação ao exterior prossegue, a ritmo crescente, graças exclusivamente ao esforço do sector privado uma vez que o Estado – Administrações Central, Regional e Autárquica mais os respectivos sectores empresariais – continua a aumentar as suas necessidades de financiamento (vide relatório do OE/2014, páginas 120 a 128), mostrando-se virtualmente insaciável...
4. O desendividamento da economia, globalmente considerado, começa a ter impacto visível na redução do défice dos Rendimentos (a pior rubrica da balança a seguir às mercadorias), que até Agosto do corrente ano foi de € 4.063 milhões contra € 4.690 milhões em idêntico período de 2012 (menos 13,9%).
5. Nunca será demais salientar esta extraordinária mudança no desempenho da economia portuguesa, que mais uma vez denota uma formidável capacidade de ajustamento a condições tão adversas como as que lhe foram impostas com o Memorando de Entendimento celebrado com os credores internacionais em Abril de 2011, indispensável para evitar uma situação de bancarrota generalizada para a qual, com extraordinária perícia, o Governo então findo havia conduzido o País...
6. O esforço do sector privado tem sido inaudito, reflectido em inúmeras reestruturações de empresas, em ousadas mudanças de estratégia comercial incluindo a conquista de novos mercados, em redução de postos de trabalho, em enormes sacrifícios para tantas e tantas famílias que, no sector privado, ficaram expostas a este exigentíssimo ajustamento...
7....tudo isto contrasta com um sector público onde tantos teimam em resistir à mudança, em que interesses corporativos instalados rejeitam partilhar este esforço de ajustamento – ferindo gravemente os princípios constitucionais da equidade de tratamento e da proporcionalidade na carga de sacrifícios – paradoxalmente apoiados numa peculiar jurisprudência do TC...
8...e em que o Governo também não sai muito bem na fotografia pois, apesar da coragem que irrecusavelmente tem revelado, ao tomar algumas medidas muito impopulares, continua, por exemplo, a recrutar pessoal (supostamente técnico mas cujos CV fazem suspeitar tratar-se de pessoal mais político), para os gabinetes ministeriais e secretariais, como se navegássemos no mais tranquilo e próspero dos oceanos...e são mais e mais encargos, para quê?
A fotografia é positiva a menos da situação referida (défice do Estado).
ResponderEliminarMas não é só isso.
Teremos também que lidar com o desemprego. Sem esse enfrentamento nada feito. O crescimento (anémico) será feito à custa das tecnologias e da capacidade de produção instalada e não utilizada. O desemprego manter-se-há e/ou até vai crescer.
O que o Estado gasta são: salários e custo da dívida.
E terá que actuar nesses dois pontos. Nos salários, com medidas constitucionais e de não enfrentamento social.
http://notaslivres.blogspot.pt/2013/10/emprego-vs-trabalho.html
Nos juros, se chegarmos a um ponto sem saída, pagando a dívida vencida com nova dívida (títulos de dívida a longo prazo com juros "alemães" pré-estabelecidos). Afinal o nosso "papel público" vale lixo segundo as casas de rating. É o risco associado a todo o crédito.
Estamos quase a largar o estado para trás, certo? É curioso que ainda existe uma quantidade grande de responsáveis do estado que realmente acham que os portugueses farão tudo para os salvar. Mal eles imaginam a velocidade com que serão enterrados...
ResponderEliminarCaro Tavares Moreira,
ResponderEliminarFez bem em chamar a atenção para as incompreensíveis nomeações que alguns membros do governo têm feito.
Não se entende essa forma de distribuir títulos de especialista a torto e a direito, sem qualquer critério estendível.
Tenho para mim que essas nomeações são erro grave e pergunto: não haverá no governo quem seja capaz de pôr cobro a isto?
Caro Tavares Moreira
ResponderEliminarO "problema" está enunciado do modo genérico, na fórmula que a moral e os bons costumes consagraram como socialmente adequado, no ponto 7 do seu post.
Acrescento apenas que, como sucede nas outras áreas da actividade económica, também o sector "público" é gerido(?) sob o comando de alguém com personalidade jurídica. Curiosamente, sobre estes últimos nem uma menção, identificação ou qualquer outra acção que permita identificar, nem que seja uma qualquer vergontea, de responsabilidade.
Por isso, andamos, de um modo genérico a falar de algo que, em concreto, não sabemos o que é, transformando em palavrão " a reforma do estado"; o que, na prática significa inviabilizar a necessária adaptação que há que fazer.
Sem a participação de todos os actores relevantes não haverá adapatação do sector público; nesse sentido e nos tempos mais próximos será um lastro que teremos de suportar.
Cumprimentos
joão
Caro Gonçalo,
ResponderEliminarEssse seu conceito de medidas (supostamente) de contenção salarial "constitucionais e de não enfrentamento social" é deveras enigmático...
Tenho a noção de que esse duplo requisito só poderá ser satisfeito com a ausência de qq contenção salarial, o que, certamente, será causa de enorme embaraço para a solução proposta...
Caro Tonibler,
Que o Estado está ficando para trás,neste esforço de ajustamento que deveria competir a todos, sem excepção, parece-me óbvio (embora se afigure perfeitamente constitucional)...agora que isso signifique que nos vamos vendo livres dele, parece-me bem menos óbvio...nada óbvio, mesmo.
Antes pelo contrário, até.
Caro Tiro ao Alvo,
Há de facto decisões de recrutamento de pessoal, que em qq altura mas sobretudo em tempo de rigor e de aperto orçamental são totalmente incompreensíveis.
Eu não as consigo entender, confesso.
Caro João Jardine,
Devo dizer-lhe que comprendo cada vez melhor aqueles (como João César das Neves, por exemplo) que a dita reforma do Estado nunca se fará...
E não se faz pois uma boa parte do Estado que deveria ser emagrecido é um produto da partidocracia, a qual nunca abdicará desse quinhão.
Assim, vamos cortando aqui e ali, nas principais rúbricas da despesa pública, para dar satisfação às exigências dos credores.
Na falta dessa exigência, pode crer que nada seria feito, mas mesmo nada.
Caro Tavares Moreira, a minha aposta é que o Cavaco é o último presidente da república portuguesa. Vamos ainda ver se será no fim do período previsto...
ResponderEliminarCaro Tonibler,
ResponderEliminarSerá que o próximo PR terá já outra nacionalidade?
Ou pelo menos dupla nacionalidade, por exemplo luso-zimbaweano?
Ou a Constituição será modificada para extinguir diversos órgãos de soberania por falta de verba para manter as funções?
Qual destas hipóteses lhe parece a + provável (ou uma 4ª ou 5ª)?
A constituição terá finalmente a utilidade para que foi destinada, agora que a tecnologia a permite imprimir em papel macio que não larga tinta. Vamos esperar pela proposta europeia de libertar os orçamentos nacionais da carga das despesas com a defesa que depois o problema do PR fica logo resolvido.
ResponderEliminarCom muita pena nossa, porque um presidente com a estatura do nosso levaria a um movimento do tipo chavista para o perpetuar no cargo, quem sabe até arranjar-lhe um posto militar tipo marechal generalíssimo com uma farda acetinada a condizer com o personagwm.
Caro Tavares Moreira
ResponderEliminarNão existirá reforma do estado porque não há nada para reformar; desde que se considere que uma reforma é a acção que altera o objecto, função de uma qualquer entidade.
O que o Estado necessita é de um enxugamento que permita adequar os custos com as receitas disponíveis, o que não é uma reforma mas uma adaptação. Como em Portugal temos medo de falar em dinheiro, porque é de dinheiro que se trata, inventamos umas palavras que escondem o pudor (?) que temos.
O estado está, quer se queira quer não, liagado ao poder e arquitectura política; em Portugal a democracia parece desafiar a lei da gravidade, porque ninguém lhe coloca um preço como se, esta, fosse grátis.
Por isso, porque confundimos as duas partes do probelma: enxugar o estado e reavaliar o custo da democracia, nunca chegaremos a nenhuma conclusão; o debate está, essencialmente inquinado.
João César das Neves toda a razão e, como se verá, no curtíssimo espaço de cinco anos, teremos a crise que colocará em discussão, o modo como nos relacionamos em sociedade.
Porque pura e simplesmente vivemos e educamos uma sociedade na ilusão que se pode desafiar a lei da gravidade, impunemente.
Cumprimentos
joão
Caro João Jardine,
ResponderEliminarEssa utlização da lei da gravidade, neste problema, tem muito cabimento, em minha opinião: esta postura lusa em relação ás finanças públicas tem reais características de um ousado desafio à lei da gravidade...
E todos nós sabemos (uns mais do que outros, é certo) que quem desafia a lei da gravidade mais tarde ou mais cedo acaba estatelado...
Caro Tonibler,
E eu a pensar que essa viajem à Finlândia tinha ajudado a compor as coisas...como andava enganado...
Uma das curiosidades destes textos é que existe o "sector privado", "o governo" e "o sector publico".
ResponderEliminarNo "sector público", esses desgraçados, o Governo não consegue fazer nada, apesar de estar a governar muito bem o sector privado.
É uma visão... engraçada. E sobretudo desresponsabilizadora!
Boa lavagem de imagem. E claro, o TC como grande entrave à acção governativa visionária.
bah
Realmente, Carlos Monteiro, parece que a visão é mesmo essa, vivemos segmentados e nenhum sector tem a ver com o outro, os maus e os bons...
ResponderEliminarCaros Carlos Monteir e Suzana,
ResponderEliminarNada mais enganador...o dito Governo não governa o sector privado,este governa-se a si próprio, além de pagar (literal e realmente, não figurativamente) o Estado e mais alguma coisa!
Ai do sector privado se tivesse de ser governado pelos ditos Governos...
Caro Carlos Monteiro
ResponderEliminarPelo menos no meu caso, não foi essa minha intenção.
O estado português tem de ser enxugado porque não há dinheiro para o sustentar; mas, no que ao estado toca, os ganhos de produtividade e a mudança de processos e modo de gestão são tão importantes como os cortes salariais, inevitáveis que se verficaram e se verificarão.
Ora, isso ainda não sucedeu e, nem sei quando sucederá.( Os custos intermédios, aquilo que foi proclamado na campanha, como as gorduras, continuam sem ser cortadas).
A nossa democracia custa, grosso modo +/- € 8 bi ano. Mais de 70% são transferências para 308 autarquias; perdemos, em termos líquidos 1% da população no ano passado; é momento de perguntar, temos dinheiro e, o que é mais importante, população para sustentar o modelo que temos?
O "problema" é que é da responsabilidade dos políticos alterar o que acima menciono e, é nossa "culpa" o voto nos mesmos.
Como vê, nesta estória, não culpados ou inocentes, apenas graus de responsabilidade.
Já sobre o sector privado, o Governo, felizmente, começa a ter cada vez menos "governo"; se tivesse ainda menos do que tem, estaríamos muito melhor do que estamos.
Os políticos, se não estão controlados, ( e isto aplica-se a todas as latitudes), têm a tendência de inventar ou, o que é ainda pior, improvisar.
Cumprimentos
joão
Caro Tavares,
ResponderEliminarIsso sei eu, que sou do sector privado.
Mas os seus textos traduzem aquele sentimento tão na moda hoje em dia, nos entendidos destas coisas de ajustamentos (não cometo a indelicadeza de dizer que é fácil para estes especialistas falar sobre os outros que são alvo das suas teorias economicas...) de que os funcionários publicos merecem esta espécie de tortura chinesa em nome do ajustamento que, dizem-nos, ainda não fizeram.
Assim como os reformados merecem esta tortura chinesa em nome dos excessos e abusos das suas reformas.
E os desempregados merecem esta tortura chinesa que é sentirem que são uns parasitas da sociedade por usufruirem de um subsidio para o qual descontaram, e que aliás, agora até têm que devolver!
E os do rendimento social de inserção.
E os que beneficiam disto e daquilo.
É assim uma espécie de racismo social. Em vez da distinguir pela cor da pele, agora puderam-nos, e os seus textos ajudam, a estarmos todos uns contra os outros, e somos todos portugueses, pelos tostoes que uns têm a mais que os outros...
pessoas como o meu caro não imaginam o lixo de sociedade que estão a criar.
Caro Carlos Monteiro,
ResponderEliminarDuma coisa pode o ilustre Comentador estar certo: dificilmente encontrará pessoa que tenha procurado tão pouco estar na moda das opiniões, seguir o politicamente correcto...e ainda menos seguir qualquer modelo de racismo, seja de que tipo for, social, económico, étnico, religioso...
Uma coisa pode ter por certa: as opiniões que aqui exprimo são próprias, independentes, totalmente desligadas de favores,de carreira ou de qq outro tipo, seguem apenas o guião da minha consciência e de uma longa experiência de trabalho nestas áreas...
Sinta-se plenamente à vontade para divergir das opiniões que emito,duramente se quiser, mas considerações desse tipo é melhor esquecer, lança-las para o trash can...
Camarada Monteiro,
ResponderEliminarDepois de notícias ouvidas hoje, vejo que o governo da republica que inclui presidencia, gente ainda longe do RMG, abicha 50 milhões de euros. Assim por alto, é todo o RMG. Portanto demagogia parece-me tirar os RMG's da cartola quando se fala no estado.
As funções sociais do estado não dependem DESTE estado. Qualquer estado o pode fazer atendendo que o dinheiro das reformas já foi estoirado há décadas. Parece-me de todo conveniente, atendendo aos custos estapafúrdios deste estado, que tenhamos outro. Bruxelas serve, mas outro qualquer também. O que parece absurdo é que um país perfeitamente viável no primeiro mundo sem estado- como os números mostram- seja um lixo africano quando se junta o estado.
Caro Toni, isso é debate de blogue. Estou fora.
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