sábado, 9 de novembro de 2013

Calçada à portuguesa em risco?

A Câmara Municipal de Lisboa anunciou a intenção de retirar a calçada à portuguesa das ruas de Lisboa, mantendo-se apenas em algumas zonas históricas. 
É uma perda, a calçada à portuguesa é uma imagem de marca de Lisboa, faz parte do património histórico e cultural da cidade. 
Lembrei-me de há uns anos ter escrito sobre a calçada portuguesa aqui no 4R, a propósito da inauguração da estátua do Calceteiro de Lisboa:
"Seria importante que a Câmara Municipal de Lisboa não se ficasse por esta homenagem e invertesse a redução drástica do número de profissionais calceteiros ao seu serviço e promovesse esta profissão, de modo a que a calçada à portuguesa continue a brilhar como nos tempos antigos.
Não é com os 20 calceteiros actualmente ao serviço da Câmara e com o trabalho dos empreiteiros cuja aptidão técnica é muitos vezes deficitária que iremos manter o ex-líbris nacional que é a calçada à portuguesa.
Se por um lado, a calçada à portuguesa nos põe de cabeça baixa, pedindo-nos que olhemos para o chão, por outro lado, é-nos exigido que saibamos estar com a cabeça bem levantada, que tiremos partido deste e de todos os outros valores nacionais."
É pena que não valorizemos as marcas identitárias na nossa história e cultura. Deveríamos insistir no que de positivo temos. Espero que prevaleça o bom senso e que se encontrem soluções que permitam manter a traça da calçada de Lisboa. "Cortar" não é solução...

8 comentários:

  1. Totalmente de acordo. Será muito lamentável se a Câmara de Lisboa prosseguir com esta intenção. Seria uma perda irremediável.

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  2. Se a Câmara presidida pelo possível-próximo Presidente da República, prosseguir com a decisão anunciada, irá ver-se a braços com problemas de vária ordem: urbanística, logística e económica, turística e contestatória. Basta pensarmos (e com isto deixo aqui um alerta para o Sr António Costa e para o vereador do pelouro das obras e conservação: 1- é necessário retirar as pedras da calçada, 2- transporta-las, 3 - armazena-las ou "despeja-las" em algum lugar, 4- Colocar novo piso, 5- gastar verbas com todo o processo. Então, se o problema é a degradação da calçada e a falta de mão-de-obra para proceder ao restauro e à manutenção, porque não, dar a oportunidade aos sem-abrigo que fazem dos passeios da cidade, a sua morada, de aprender a arte de calceteiro e entregar-lhes, remunerando-os a tarefa de recuperação e manutenção da mesma.
    Esta solução, bem orientada, restituiria a dignidade a muitos que esmolam pela cidade e ainda à cidade que é conhecida além-fronteiras, também pela sua calçada de características únicas.
    Já agora, acrescento uma sugestão; nos pontos mais degradados e depois de receberem a formação necessária, porque não deixar à imaginação dos "artistas" a criação de novos motivos decorativos?!

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  3. Cortar é a solução, mas não é nisto de certeza. Se o Gungunhanha tivesse feito menos uma daquelas imbecis rotundas já não precisava de cortar aqui. Mas isso até pode surgir a criação de um negócio que seja vendido a várias câmaras.

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  4. Cara Margarida,

    Acredito que ainda seja possível um dos mais de 150 historiadores que constam da "folha de paye" da CML ainda se lembre de dar um parecer desaconselhando a ideia em questão...se tiver tempo para isso, claro, tão ocupados que eles estão.

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  5. Se não derem um parecer podem sempre ser usados para baterem a pedra. Afinal, mais que estudarem a história podem participar nela.

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  6. Concordo, Tonibler; a exemplo dos arqueólogos que também escavam a terra e limpam os objetos encontrados, também os historiadores da Câmara, podiam... deviam, pegar no martelinho e no banquinho, vergar os costados e sacrificar a rinzeira, no elevado propósito de fazer encaixar os pequenos paralelepípedos de calcário e basalto dentro das normas herdadas dos romanos e cujos desenhos na atualidade, contam a quem deseje conhecer, através de desenhos mais ou menos metafísicos, a diáspora dos descobridores portugueses, dos tempos de D. Manuel I. Bons tempos em que eu partia nas naus do Sr Infante, filho da Ínclita Geração, rumo ao desconhecido; semi-conhecido da mundanidade dos poderosos, mas, envolto nas névoas do destino, que tanto poderia ser-nos favorável, como a porta para o abismo do fim do mundo. E muitos nela se precipitaram, convencidos de que estariam a descer para o vale mágico da eterna glória...
    ;))))
    http://www.youtube.com/watch?v=8rTq_AEdCo8
    O Barco vai de Saída, adeus ó cais da Praça do Município...
    Caráças... sou pobrezinho mas divirto-me à farta nesta terra de palhaço e de palhaçadas!!!

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  7. É realmente uma pena mas se já não há calceteiros a não ser em estátua os passeios com pedras soltas ficam intransitáveis, mais vale arranjá-los de modo a que se possa caminhar. Hoje andei por Aveiro, que está uma linda cidade, e os passeios novos têm aquela "calçada" em placas, não fica feio e pelo menos estraga menos os sapatos com salto ;)

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  8. Caro Carlos Sério
    A facilidade com que se desfaz para voltar a fazer sem olhar ao valor intangível das coisas é impressionante. A cultura deveria ser a última coisa a "destruir". A cultura é um factor de distinçáo e de uniáo.
    Caro Bartlomeu
    A CML não investiu na formação de calceteiros, teria sido uma oportunidade excelente para dar continuidade a uma profissão antiga mas necessária nos tempos modernos e para dar oportunidade de formação e qualificaçáo, emprego e inclusão social. Dentro desta perspectiva a sua proposta, Caro Bartolomeu, é muito interessante.
    Caro Tonibler
    "Cortar" está na ordem do dia, a crise é um pretexto para cortar, não importa o quê, ainda que cortar fique mais caro.
    Dr. Tavares Moreira
    Talvez tenham aconselhado precisamente o contrário. Tantos historiadores para quê?
    Suzana
    Mas era assim tão difícil formar calceteiros? Este caso faz-me lembrar algumas moradias bonitas da cidade que os proprietários deixaram cair, assim a soluçáo é acabar com elas e no mesmo sítio fazer empreendimentos imobiliários. Agora que não há dinheiro, talvez a reabilitação do que é bonito seja o caminho.

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