sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Crescimentistas sitiados, acabam tecendo elogios às políticas neo-liberais?

1. Uma sucessão de notícias divulgadas nos últimos tempos, apontando para uma evolução positiva da actividade económica, pode estar a deixar os nossos simpáticos Crescimentistas em posição muito próxima de um ataque de nervos.

2. Em primeiro lugar, e já há algum tempo, foi a divulgação de uma evolução positiva (+1,1%) do PIB no 2º trimestre do ano; em segundo lugar, a indicação recente de que também no 3º trimestre a evolução do PIB terá sido positiva, neste caso não apenas em cadeia mas talvez mesmo em termos homólogos; há dois dias a notícia de mais uma descida do nível do desemprego (registado); e hoje a notícia de um crescimento do número de veículos automóveis vendidos em Outubro em 24% sobre Outubro de 2012, sendo de 7,4% no valor acumulado dos primeiros 10 meses do ano...

3. Para além de tudo isso há a registar a formidável inversão dos desequilíbrios nas contas com o exterior que, em escassos 3 anos, passaram de défices superiores a 10% do PIB para um superavit confortável.

4. Esta situação está ficando quase irrespirável para as hostes crescimentistas, que não têm como explicar tal evolução da actividade, totalmente proibida segundo a cartilha que lhes foi distribuída: segundo a regra de ouro dessa cartilha, com políticas neo-liberais jamais será possível qualquer recuperação económica, por mais ténue que seja...

5. Por isso eu compreendo a reacção ontem manifestada por um porta-voz crescimentista, na AR, afirmando alto e bom som que a notícia da baixa do desemprego seria boa, certamente, mas não poderia ser atribuída às políticas do Governo...

6. ...é visível alguma angústia subjacente a esta intervenção, depois de os mesmos Crescimentistas terem passado o tempo a culpar as políticas do Governo pelo aumento do desemprego (esquecendo a verdadeira origem desse fenómeno, a sua causa mais autêntica): então o Governo só pode ser responsabilizado pela subida do desemprego, a diminuição já nada tem a ver com ele?

7. Em minha opinião o Governo não foi responsável por uma coisa nem o será agora pela inversa, mas quem o responsabilizou no passado não pode agora, só porque não lhe convém, desliga-lo desta fase positiva...

8. Começo a perspectivar uma situação em que os Crescimentistas poderão vir a ficar inteiramente sitiados, confundindo e baralhando todo o seu extenso e eloquente argumentário em matéria de política económica...

9. Ainda vamos acabar escutando os Crescimentistas, com algum artifício oratório para não ficarem demasiadamente mal na fotografia, tecendo grandes encómios às políticas neo-liberais...não se surpreendam meus amigos, já se viu disto no passado!

14 comentários:

  1. “apontando para uma evolução positiva da actividade económica, pode estar a deixar os nossos simpáticos Crescimentistas em posição muito próxima de um ataque de nervos”.
    Tal se deve seguramente às políticas do governo de cortes nos salários, cortes na Saúde, cortes na Educação, aumento “brutal” de Impostos e todo o séquito de medidas que os teóricos crescimentistas erradamente chamam de recessivas quando afinal como demonstra o nosso querido TM elas são totalmente o inverso do que esperavam as “hostes crescimentistas.
    Está portanto justificada a continuação das políticas de cortes e do aumento de impostos seguidas até aqui pelo governo, dado terem obtido tão bons resultados. A colocação de uma previsão de aumento de desemprego inscrita no orçamento para 2014 está sem dúvida em perfeita harmonia com o crescimento que se espera e que faz o desespero dos crescimentistas. É por esta razão, de conciliação do crescimento com o aumento de desemprego que o novo ministro da economia chama apropriadamente “milagre económico”. Alias, o crescimento é tão notório, para além dos exemplos dados pelo TM, que os jovens portugueses que tinham comprado bilhete para emigrarem já desistiram o que causou grande transtorno às companhias aéreas em especial à TAP. O facto do crescimento industrial ter diminuído face aos dados anteriores é igualmente uma particularidade deste crescimento milagroso.

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    1. Parabens pela ironia do post!

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    2. Parabens pela ironia do post!

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  2. Portugal registou a segunda maior quebra da produção industrial em setembro, entre os 27 Estados-membros da União Europeia, ao conhecer um recuo de 5,8 por cento relativamente a agosto,

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  3. Exmo Senhor Dr. Tavares Moreira:
    Quando o Governo pretende fazer passar quaisquer diplomas, sejam eles guiões, cortes nas pensões, OE, etc., antes ou durante, aparece sempre o crescimento económico e/ou a descida do desemprego. Porém, passados alguns dias já regressam as notícias pessimistas do costume. E o crescimento económico à custa de quê? Das exportações? Mas se o seu aumento se deve à venda de combustíveis que pertencem ao fundo de reserva do País, estamos conversados. Da criação de novas empresas, para satisfazer o mercado interno? Não sei como, pois cada dia que passa mais empresas fecham com o concomitante desemprego a crescer. Todavia, temos esperança que haja uma “evolução positiva da actividade económica”, pela credibilidade que V. Exa nos merece e pela análise que fez do assunto em questão.
    Aceite os meus respeitosos cumprimentos.

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  4. Uma coisa é certa : ela ( a economia) move-se!

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  5. Grande comentário, camarada Moreira! Nada se aplica melhor que a frase que alegadamente Galileu atirou aos Doutores das Duas Leis.

    Hoje vinha a ouvir no rádio que o Concelho-de-não-sei-quê-economico-chefiado-pelo-gajo-que-o-cavaco-queria-que-fosse-PM-mas-que-o-país-ignora contesta o orçamento porque não garante o crescimento do emprego e aumenta os cortes na função pública. Talvez o ambiente esteja a tornar-se irrespirável, mas esta gente farta-se de espernear. Não há pachorra para tanta burrice junta! Se o orçamento garantisse emprego (tirando o dos membros do concelho, bem entendido...) qual a razão pela qual não garantiu?

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  6. Caro António Rodrigues,

    Que o aumento das exportações se deve à venda de combustíveis que pertencem ao "Fundo de Reserva" do País? Mas quem foi que lhe vendeu tão bizantina tese?
    Creio que mesmo na velha Bizâncio tal tese seria recebida com enorme cepticismo quanto mais aqui e agora...
    Não caríssimo António Rodrigues, existe uma imensidão de produtos e de serviços cujas exportações estão conhecendo forte incremento e essa do Fundo de Reserva será ,certamente uma graça...não ofensiva, certamente, mas uma graça "quand même"...

    Move-se, certamente, caro Moreira, e não espera pelos protestos, nem pelas graves, nem pela choradeira monumental que por aí vai...avança, resolutamente, vencendo todas as dificuldades e adversidades que enfrenta...

    O Orçamento não garante emprego, tem razão, caro Tonibler...que garante esse emprego que está pendurado no Orçamento são os nossos impostos...repare que a receita de IRS até Setembro cresceu 30,6%...será caso para lembrar a velha proclamação: "é fartar, vilanagem"!

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  7. O Tonibler vai querer atirar-me para a fogueira ...

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  8. Galileu não foi para a fogueira, era amigo do papa e de boas famílias. Assim, como acontece em Portugal.

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  9. Caro Tavares Moreira,

    se bem me recordo, o epiteto "Cresccimentistas", era atribuido não só por Si mas tambem pelos "Au-Histericos" a todo aquele que ousasse criticar, apresentasse duvidas ou alternativas ao programa de Austeridade do Governo e da Troika.

    Posto isto, parece-me que as metas e objectivos do Memorando (deficit, crescimento, desemprego, etc) não foram de todo atingidas...mesmo depois de terem sido revistas.

    Ora assim sendo, parece-me no minimo irónico, que perante metas e objectivos falhados...os defensores da Austeridade venham apontar o dedo ás sugestões de quem dizia : "Não é possivel desta forma atingir o que se propoem!"

    É que de facto, os "Au-Histericos" não atingiram uma unica meta/objectivo a que se proposurem (defict, crescimento, desemprego...)!

    Uma coisa é perceber que o desemprego baixou uma decima...

    ...outra coisa é achar que a descida de uma decima...é o mesmo que foi previsto no inicio, e que os "CRescimentistas" de então afirmaram e bem ser impossivel!

    É obvio que é melhor descer que subir. E creio que todos queremos que desça...

    ..agora uma misera descida, de valores perto dos 16%...não é nem de perto nem de longe, nada que se assemelhe ao que os "Au-Histericos" e ao que o Tavares Moreira se propunham conseguir!

    Pode muito bem apontar o dedo aso Crescimentistas e discordar deles...

    e pode tambem festejar ...

    ...mas as politicas aplicadas e o cumprimento do Memorando...á luz das metas que se propunham, não foi mais que um fracasso!

    Isto são os numeros e os factos que o demontram, plain&simple!

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  10. Caro Pedro,

    Alguns breves pontos, para que as ideias aqui discutidas possam, coitadas, ficar um pouco mais claras:
    - Não sei se sé recorda, mas o Memorando de Entendimento, que resultou no PAEF, foi celebrada e assinado em Abril de 2011;
    - Desconheço qualquer "alternativa" ao dito PAEF, que tenha sido apresentada até hoje;
    - O desemprego não baixou uma décima, como diz, mas 14 décimas (de Março a Setembro);
    - Se é a própria Troika que em 9 avaliações sucessivas considera o PAEF razoavelmente cumprido, como entender seus juízos definitivos e executórios em sentido contrário? O seu plain/simple afigura-se, neste contexto, extremamente curvo e formidavelmente complexo...
    Os mais cordiais cumprimentos.

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  11. Consolidação orçamental
    Anos……………………………………………………………2012…………2013
    Divida Pública no memorando…………………….112,2%.........115,3%
    Dívida pública alcançada pelo governo……… 124,1%.........131,3%
    Défice público no memorando…………………………4,5%............3,0%
    Défice público alcançado pelo governo…………...6,4%............5,9%
    Temos assim um afastamento da dívida pública de mais 11,9p.p. em 2012 e 16,0p.p. em 2013, quanto ao défice o mesmo de sempre, um falhanço absoluto pese os cortes brutais e os aumentos igualmente brutais dos impostos.
    Seria bom que os austeristas parassem um pouco para pensar. Lessem por exemplo o último relatório da UNCTAD de 12.09.2013 (Organização para o Comércio e Desenvolvimento das Nações Unidas).
    Nele se diz que “a actividade do comércio internacional estagnou. Isto demonstra que já não se trata só de uma crise financeira, mas que é uma crise estrutural que envolve toda a economia mundial.”
    Antes do rebentar da crise uma procura próspera parecia justificar a adopção de modelos de crescimento orientados às exportações. Muitos países competiam por exportar mais e acumular a moeda de reserva, apostando assim no seu próprio crescimento. Esta expansão se baseava na procura global e o auge do comércio externo, que obedecia a padrões de financiamento insustentáveis, terminaram colapsando. A mudança estrutural deve apelar a uma nova estratégia de crescimento que favoreça o desenvolvimento interno e apele ao factor chave e central que é a criação de emprego.
    E aponta caminhos, “os países devem introduzir mudanças fundamentais nas suas estratégias de crescimento, com o objectivo de adaptar-se a esta mudança estrutural”. Mais concretamente, “Ao adoptar uma estratégia de crescimento com um papel mais importante para a procura interna, os países devem lograr um equilíbrio adequado entre o aumento do consumo das famílias, o investimento privada e a despesa pública. O fomento da capacidade aquisitiva da população é um elemento chave neste sentido. Isto só pode alcançar-se através de uma política de rendimentos, com transferências sociais específicas e planos de empregos no sector público. A criação e redistribuição de rendimentos às famílias de rendimentos médios, é fundamental para esta estratégia de desenvolvimento, já que as famílias tendem a gastar uma maior proporção dos seus rendimentos no consumo, em bens e serviços produzidos na região”.
    Claro está que os peritos da ONU não passam de uns perigosos “crescimentistas” para os nossos visionários e obcecados ortodoxos.

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  12. Caro MM,

    Se existe ironia, hipótese que não rejeito, será uma ironia suave, serena, moderada, nunca agressiva...apanágio deste Blog...

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