Trabalhar é cada vez mais difícil e complicado, porque não há, ou se há, então, torna-se violento e pouco recompensador, como que a lembrar os velhos tempos em que para ganhar uns miseráveis vinténs se tinha de "dar o couro e o cabelo". Um esforço pouco reconhecido, por vezes humilhante, mas mesmo assim capaz de criar relações de simpatia e de respeito a quem manifesta profissionalismo e vontade de vencer a vida, vencer a vida e não vencer na vida. Olhando em redor, sente-se, apalpa-se e entristece as formas como o trabalho está a ser encarado. É preciso muito esforço, muita dignidade e muita dedicação para continuar a produzir e dar de si o melhor que guardamos na profundidade do nosso ser, uma espécie de mina de ouro que se esgota com a passagem do tempo. Angustia-me o momento em que não irei conseguir descortinar o brilho dourado de uma ideia, conselho ou ajuda. Sofro antecipadamente com o momento em que ao procurar uma reserva de energia, de criatividade ou de esperança, passo a encontrar o desespero, a tristeza, a indiferença e a imagem cínica e tenebrosa do meu semelhante a gritar, a insultar e a rir do meu esforço e dedicação. Olho em redor e vejo os sorrisos mefistofélicos de seres que roubaram a minha esperança, atormentando-me com a dureza do trabalho, que me cansa, que dói, mas que mesmo assim ainda consegue alimentar uma alma desejosa. De quê? De muitas coisas, tantas que as minhas pálpebras inebriadas acabam por aproveitar para se deixarem cair languidamente numa noite de descanso.
Excelente!
ResponderEliminarSó mesmo o Prof Massano para exprimir aqui, de forma tão elegante e simultaneamente tão triste/cruel, o que a generalidade dos que se empenham - ou empenharam - no seu trabalho sentem. Triste país este! Os meus parabéns pelo post!
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