Relatórios
de Sustentabilidade Financeira da Segurança Social
Projecções
dos
saldos do Sistema Previdencial em % do PIB
(Fonte: OE)
- clicar em cima da imagem para ver melhor -
Volta a estar em cima da mesa a questão da sustentabilidade dos sistemas públicos de pensões.
O corte de 10% nas pensões dos ex-funcionários públicos e o aumento da idade de
reforma, para destacar as decisões recentes mais polémicas - não apenas de um
ponto de vista político e do direito mas pelo que representam na vida concreta
das pessoas - têm estado no centro do argumento da necessidade de dar
sustentabilidade aos sistemas públicos de pensões – CGA e Segurança Social.
É
inegável que se têm vindo a adensar os desequilíbrios financeiros dos sistemas
públicos de pensões. O gráfico mostra-nos como foi sendo projectada nos
Orçamentos do Estado, desde 2007 até 2014, a conta do sistema previdencial da
Segurança Social.
Constata-se
que a “reforma” de 2007 teve efeitos estruturantes, adiando a ruptura
financeira e reduzindo no longo prazo o peso da despesa com pensões no PIB. Embora
sendo uma reforma paramétrica, as medidas tomadas ao nível do cálculo das
pensões, incluindo a consideração dos ganhos de esperança média de vida aos 65
anos, melhoraram as expectativas de sustentabilidade. Mas não resolveram o
problema de fundo. O sistema assenta em factores que tendo estado na sua origem
são hoje os que colocam dificuldades de sobrevivência à sua fórmula original: a
demografia e a economia.
Verifica-se,
também, de lá para cá, que os sucessivos Orçamentos do Estado foram alterando
as projecções no sentido da deterioração gradual da sustentabilidade e da
antecipação crescente das datas de ruptura financeira do sistema previdencial. Facto
que se explica pela utilização, e posterior correcção, de cenários económicos
que a realidade se foi encarregando de mostrar serem optimistas e irrealistas.
Perante
esta evolução - que não é uma novidade - é preciso agir, estudando e ponderando
a introdução de melhorias e novas soluções que permitam inverter no médio e
longo prazos um caminho de não retorno. É fundamental que nos estudos a fazer,
se distingam as causas e os efeitos da actual conjuntura de crise das tendências
demográficas e económicas de fundo que influenciam a evolução dos sistemas de
pensões.
É
preciso ter presente que as prestações da Segurança Social não foram atribuídas
com base em estudos actuariais de longo prazo e que a sua gestão foi sempre
feita numa óptica de caixa – se a economia e o emprego crescem aumentam-se os
benefícios – e não na lógica do longo prazo em que se cria um certo equilíbrio
intergeracional entre custos e benefícios.
É
fundamental que se avalie actuarialmente/financeiramente as responsabilidades
dos sistemas e os níveis de cobertura existentes para se poderem tomar
decisões.
Refere
o governo, no Relatório de Outubro que sustenta a decisão, que se não fosse
tomada a decisão do aumento a idade de reforma para 66 anos em 2014, não só o défice se mostra expressivo, como a
existência do primeiro ano deficitário seria antecipado já para 2015, levando a
recorrer ao FEFSS prematuramente com as consequências daí resultantes”.
O primeiro
défice, diz o Relatório é, com esta medida, adiado para 2020 como se pode ver no
gráfico: na projecção da curva traçada no Orçamento do Estado de 2014, ascenderá
a 640 milhões de euros, o equivalente a 0,4% do PIB.
Mas
a verdade é que a ruptura financeira já chegou, antecipada pela crise, pelo
efeito brutal do desemprego – decréscimo das contribuições (TSU) e aumento do
subsídio de desemprego e crescimento de pensões por via da maturidade do
sistema (mais pensionistas e pensões mais elevadas). Os défices financeiros do
sistema previdencial têm vindo a ser resolvidos através de transferências extraordinárias
do Orçamento do Estado que ascendem, entre 2012 e 2014, a 3,6 mil milhões de
euros. O governo optou por não recorrer ao Fundo de Estabilização Financeira da
Segurança Social e por financiar os défices com impostos. Mas os desequilíbrios
financeiros são mais antigos, datam, pelo menos, de 2009.
Este
quadro não pode deixar ninguém sossegado. Impõe-se saber como e quando vamos
atacar os problemas estruturais dos sistemas de pensões. A ruptura financeira
está à porta, o sistema tem dificuldades financeiras graves no longo prazo. No
curto prazo, que se está a transformar com o decorrer do tempo em médio prazo,
os desequilíbrios financeiros são financiados pelos impostos e cortes nas
pensões.
Sem economia não haverá pensões adequadas. Medir a despesa com pensões em percentagem do PIB quando não há crescimento económico piora naturalmente as expectativas. Mas se não formos capazes de repensar os sistemas públicos de pensões e de criar um quadro de incentivos que altere a filosofia de vida para a reforma as dificuldades tenderão a crescer assim como serão cada vez mais difíceis e penosos os custos de mudanças. Esta é uma daquelas áreas em que seguramente é necessário ter um plano. Mas um plano que tenha uma perspectiva global e integrada e tecnicamente suportada. Para quando?
Sem economia não haverá pensões adequadas. Medir a despesa com pensões em percentagem do PIB quando não há crescimento económico piora naturalmente as expectativas. Mas se não formos capazes de repensar os sistemas públicos de pensões e de criar um quadro de incentivos que altere a filosofia de vida para a reforma as dificuldades tenderão a crescer assim como serão cada vez mais difíceis e penosos os custos de mudanças. Esta é uma daquelas áreas em que seguramente é necessário ter um plano. Mas um plano que tenha uma perspectiva global e integrada e tecnicamente suportada. Para quando?
Excelente análise! Uma análise destas está nos antípodas da demagogia dos Arménios Carlos deste país! Há anos e anos que Medina Carreira anda a alertar para o problema e utilizou uma expressão que fala por si: depois não será a Constituição contra os factos, mas sim os factos contra a Constituição.
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ResponderEliminarPode, por favor, indicar o endereço do site da internet onde o relatório que refere possa ser consultado?
Muito obrigado.
Margarida, muitos falam, mas poucos entendem, e ainda menos tém o conhecimento e a sensatez necessárias para alterar o sistema de pensões sem o transformar numa manta de retalhos gerador de injustiças e de despesas que não cumprem o seu objectivo. Este texto devia ser lido por muita gente, talvez alguns e calassem....
ResponderEliminarCaro Pedro Almeida
ResponderEliminarAgradeço o seu comentário. Falta um debate construtivo, falta um plano, falta uma visão de longo prazo. A continuarmos assim, estamos condenados a não resolver os problemas, as iniquidades horizontais e verticais vão continuar.
Caro Fui Fonseca
Irei indicar.
Suzana
Tem muita razão. Não são apenas os sistemas de pensões, é o sistema se Segurança Social que está em causa que inclui o sistema de protecção social de cidadania, um sistema importantíssimo.