1. Dados da execução orçamental de Janeiro deste ano, ontem divulgados pela DGO, revelam que o saldo orçamental da Administração Central + Segurança Social foi positivo, de € 535 milhões, sendo o saldo primário (sem juros e outros encargos da dívida) ainda mais expressivo, de € 634,8 milhões.
2. Tratar-se de uma boa entrada em 2014, sem dúvida, que contrasta com o saldo negativo de -€26,4 milhões que tinha sido registado em Janeiro de 2013 (o saldo primário foi positivo, mas apenas de € 82,3 milhões).
3. Quando se olha para as várias componentes da receita (+6,2%) e da despesa (-4,4%) em Janeiro deste ano, salta à vista, no caso da receita, o forte aumento da cobrança de IRS, que foi de 24,2% (mais € 240 milhões), e que vem em cima de um aumento de 35,5% em todo o ano 2013...
4. Concretamente, a cobrança de IRS foi em Janeiro de € 1.231,2 milhões, conseguindo superarclaramente a receita do IVA, que apesar de ter crescido 4,2%, ficou em € 1.038,7 milhões (IRS = 118% IVA)...
5. No que se refere à despesa, a redução de - 4,2% resultou essencialmente da menor despesa com juros e encargos da dívida (-8,2%), com transferências correntes (-4,4%) e também da menor despesa de capital (-9,3%)...enquanto que as despesas com pessoal, não obstante o forte aumento verificado em 2013 (+10,4%), continuam a aumentar em 2014 (+0,6%)...
6. Em conclusão, lá temos novamente as Famílias a dar a mão ao Estado, em grata retribuição, certamente, do tanto que este tem feito por elas - aumento de impostos, agravamento das condições financeiras, aumento do desemprego, emigração em massa...uma relação saudável, equitativa e solidária, em suma, dirão muitos comentadores de serviço (e Crescimentistas) que tanto estimam a intervenção do Estado...
Daí a enorme satisfação que vai pelo palácio e pela câmara dos lordes. Tudo isto mostra que se consegue equilibrar as contas do estado com recurso apenas a medidas respeitadoras do princípio da igualdade e do princípio da confiança, estes interpretados à luz da metalinguagem do direito português, claro, perceptível apenas às vestais.
ResponderEliminarE eu só posso concordar com eles: podemos estar certos do princípio que vai ficar tudo igual e podemos ter a confiança de que vamos ser lixados outra vez.
Não fará muito sentido os “austeristas” arrogarem-se que não desejam a intervenção do Estado em oposição aos “crescementistas” que, segundo o entender austerista, a desejam. É uma falsa questão.
ResponderEliminarNão vi os austeristas manifestarem-se contra a maior intervenção do Estado, neste período de crise, que foi a sua intervenção na Banca, como também não vi os crescementistas protestarem contra a intervenção do Estado nas PPP, nas rendas excessivas ou no agravamento de impostos sobre o capital.
Na verdade, sem hipocrisias, tanto uns como os outros defendem a intervenção do Estado, sendo a sua divergência apenas relativa ao tipo e sentido dessa intervenção.
Uma curiosidade histórica. Vejam o site e a manchete...Essa mostra bem o problema de fundo...
ResponderEliminarhttp://4.bp.blogspot.com/-VlVKBoWhocY/UukxOeKxNdI/AAAAAAAASMQ/IlKtQfACA4k/s1600/O+Jornal+9+6+76.jpg
Caro Tavares Moreira, sigo atentamente os seus dados. Contudo, estou aqui a tentar passa-los dos dados ao real. O IRS subir poderá dever-se a algum crescimento da actividade económica, mas isso poderá reflectir também a alteração das taxas de retenção que o ano passado apenas se fez no mês de Fevereiro. correcto?
ResponderEliminarOutra coisa que me custa a interpretar é o aumento de despesa com pessoal em +0,4%. tendo em conta que se passou a cortar todos os salários dos FP a partir dos 600 €, como é possível haver tal aumento de despesa. Será que o tal corte de Funcionários foi contado como receita de IRS? (Não me admiraria se tal acontecesse).
Caro Tonibler,
ResponderEliminarPegando nas suas palavras, tenho a impressão que estará na hora de o conceituado movimento "Que se lixe a Troika" dar lugar a outro movimento bem mais patriótico e solidário, e ao mesmo tempo mais próximo da realidade, denominado "Que se lixe o Contribuinte".
Caro Luís Caldas,
Relativamente ao seu primeiro ponto, admito que tenha razão, a forte variação da cobrança de IRS em Janeiro pode ter sido ajudada por esse efeito de base.
Quanto ao segundo ponto creio que também tem razão - no sentido de que o corte salaria em vigor deveria determinar uma redução homóloga destes custos - mas a explicação para esta variação positiva estará, segundo a DGO, nos pagamentos efectuados no âmbito do Programa de Rescisões por Mútuo Acordo, contabilizados em Janeiro.
Não excluo, assim, que a variação homóloga em Feverero possa ser já negativa e talvez mesmo a variação acumulada dos 2 primeiros meses se apresente já com sinal contrário, aguardemos.
Caro Pedro Almeida,
Agradeço a dica.
Caro Tavares Moreira
ResponderEliminarUsando a parábola do "Costa Concordia", o que descreve acima parece-me que estamos na seguinte situação:
O navio tem um rombo (não vale a pena voltar a perorar sobre quem tem a responsabilidade pelo rombo) e, uma parte importante da tripulação, sob a direcção do comando, afadiga-se-com êxito- a colmatar o rombo.
Ao mesmo tempo, uma parte da tripulação, também sob a direcção do comando, entretêm-se a abrir algumas das válvulas do fundo do casco, tornando a tarefa da maioria da tripulação acima descrita menos eficaz.
O que é curioso é que o navio e o comando são os mesmos....
Nem mesmo o comandante Schetino (o "homem ao leme" no Costa Concordia) se teria lembrado de uma destas.
Cumprimentos
joão
Caro João Jardine,
ResponderEliminarÉ interessante a metáfora que utiliza. Se me permite uma sugestão, no nosso caso a segunda parte da tripulação, correspondente aos abre-válvulas do navio em afundamento, é constituída pelos que se consideram detentores da verdade suprema, da iluminação perfeita. Os outros são apodados de contabilistas, austeristas, subordinados da Snra Merkel e outros belos epítetos...