Na continuação do último post do Tavares Moreira…
Os macroeconomistas académicos analisam os macro-dados, procuram
interpretá-los e daí retirar conclusões sobre a evolução da economia.
Geralmente erram. Por desonestidade intelectual, ou por incompetência, mesmo
que catedráticos. Erram por desonestidade os que torturam os dados de forma a
confirmar as conclusões lógicas dos seus pressupostos doutrinários, ideológicos
ou partidários. Não são economistas, nem académicos, são comissários.
Erram os incompetentes,
porque, inseridos em ambientes fechados e académicos liofilizados,
não conseguem sentir o pulsar, as sensibilidades e variações do universo micro,
sempre em ebulição. Como é este universo que comanda a economia, essa espécie
de macroeconomistas anda sempre atrasada. Lamentavelmente, a desonesta e a
académica incompetente são as espécies que fazem doutrina nas Universidades e
nos media e têm formado legiões de opinadores. Eles fazem a corrente e afastam
quem está contra.
É por isso que não conseguem agora explicar que Portugal tenha
invertido, nos últimos tempos, a dita espiral recessiva (que era suposto continuar indefinidamente...), aumentando os níveis da
actividade económica e do emprego e gerado superávites nas balanças com o
exterior. Não conseguem explicar e, por não se conformar com os seus princípios,
recusam uma realidade que se vai impondo e começa a estar à vista.
Dizia alguém, em modo caricatural, que existem duas espécies de
economia, a micro e a má economia. É talvez por isso que, académicos ou
curiosos, tantas vezes caem em erros grosseiros. Esquecem que, bem lá no fundo, onde nunca conseguirão chegar, há
milhões de cidadãos e empresários, pequenos, médios e grandes, que procuram
contrariar adversidades, atingir objectivos, seguir determinadamente um
caminho, ultrapassando obstáculos e políticas públicas adversas e, quantas vezes, erradas. É
por isso que a nossa economia, se caiu devido às irracionais e insustentáveis
políticas públicas de Sócrates, também se levantou por si só. E que faria ela,
se pudesse beneficiar de políticas públicas mais ajustadas! Acontece que a corrente impede os bons economistas de se fazerem ouvir. E o governo de os escutar.
Nota: Uma palavra para os macroeconomistas da OCDE. Através dos seus
indicadores avançados, conseguiram há muito prever o que tem sido a evolução da
nossa economia. Negando a tal perpétua espiral recessiva. Os nossos
catedráticos podiam aí aprender alguma coisa.
Acho que está a ser injusto para alguns macro-economistas. Eu sei que não são muitos nem provavelmente os que mais se ouvem, mas eu, que não percebo nada de economia, tenho aprendido muita coisa com alguns (embora tenha sempre o cuidado de perguntar ao homem do café, da oficina e seja de onde for, como vão as coisas. Acho que se funcionou para eu perceber paisagens, também dará para eu perceber economias).
ResponderEliminarhenrique pereira dos santos
Caro Henrique Pereira dos Santos:
ResponderEliminarAcho que não fui injusto, pois excepcionei os bons. Que os há. E, entre esses bons, há alguns muito bons!...
Caro Pinho Cardão,
ResponderEliminarVou então tentar “agora explicar que Portugal tenha invertido, nos últimos tempos, a dita espiral recessiva” como o meu caro afirma, com a apresentação dos últimos e mais significativos dados económicos:
Índice de Produção na Construção
No conjunto do ano 2013 a variação média anual do Índice de Produção na Construção situou-se em -16,3%, idêntica à registada em 2012.
No conjunto do ano 2013, o índice de emprego diminuiu 15,8% após uma diminuição média anual em 2012 de 14,2%. (INE 11.02 2013)
Índice de Volume de Negócios nos Serviços
Para o conjunto do ano 2013, o índice de volume de negócios nos serviços diminuiu 4,5%.
O índice de emprego nos serviços apresentou uma taxa de variação média dos últimos 12 meses de -3,8%. (INE 11.02.2013)
Investimento
Em 2013, o decréscimo do investimento empresarial (FBCF) de (-8,3%) deveu-se aos contributos negativos de dez das treze secções de actividade económica inquiridas. Devido ao peso significativo na estrutura global do investimento, a secção de Industria Transformadoras registou o contributo negativo mais significativo (-3,9 p.p.) resultante de uma variação -13,9% (das quais -11,0% das empresas exportadoras). As secções que apresentaram uma redução do investimento mais acentuada foram as de Construção (-38,9%) e de actividades imobiliárias (-26,5%). (Dados do Inquérito de Conjuntura ao Investimento do INE, publicado a 31 de Janeiro de 2014)
Investimento Directo do Exterior (IDE)
O Investimento Directo do Exterior em Portugal sofreu uma quebra de 34,5% de Janeiro/Novembro de 2012 para Janeiro/Novembro de 2013, desceu de 41.106 milhões de euros para 26.917 milhões de euros. (AICEP, Ficha do País , 01.12.2013)
Índice de vendas no Comércio a Retalho
Em Dezembro de 2013 comparado com Novembro de 2013 entre os Estados membros para aquela data, o comércio a retalho verificou o maior recuo em Portugal (-5.8%). (Eurostat 05.02.2014)
Crédito malparado
O crédito malparado das empresas atingiu um record desde que o Banco de Portugal publica estes dados (1977), (4.265 e 2.341 milhões de euros só nos sectores da construção e actividades imobiliárias, respectivamente); o crédito malparado nos empréstimos à habitação igualmente atingiu em Outubro o seu máximo histórico de 2.390 milhões de euros. (Boletim Mensal de Estatística - Novembro de 2013)
Produto Interno Bruto
No ano de 2013 o país teve uma recessão de 1,4%, isto é o PIB diminuiu 1,4%. Estamos mais pobres hoje do que estávamos há um ano. A riqueza produzida no país reduziu-se de 1,4%.
Exportações de bens
No conjunto do ano de 2013 as exportações de bens aumentaram 4,6% comparativamente ao ano anterior, o que representa um abrandamento do crescimento anual face a 2012 (+5,7%).
População empregada
No ano de 2013, a população empregada diminuiu 2,6% em relação ao ano anterior (121,2 mil pessoas). (INE 05.02.2014)
Distribuição da Riqueza em Portugal
O número de multimilionários em Portugal com fortunas superiores a 25 milhões de euros aumentou 10,8% para 870 pessoas no último ano, apesar da crise que se vive no país, segundo um relatório do banco suíço UBS.
O Relatório de “Ultra Riqueza no Mundo 2013” confirma que em Portugal não só cresceu o número de multimilionários como aumentou o valor global das suas fortunas, de 90 para 100 mil milhões de dólares (mais 11,1%). (TVI24)
Portanto, o PIB não cresceu nos últimos trimestres....
ResponderEliminarClaro, pela teoria que referi e, pelos vistos, o meu amigo perfilha, nunca poderia crescer. Mas, como Galileu um dia disse, a terra move-se...
Ainda há quem não acredite. Gostam de negar evidências. Se ficam felizes com isso, pois muito bem. Mas a terra move-se.
Nem tudo se resume ao PIB para averiguar do estado económico e social em que nos encontramos, mas indo por aí, teremos:
ResponderEliminarNo 1º trimestre de 2013 o PIB diminuiu 0,3% relativo ao trimestre anterior.
No 2º trimestre de 2013 o PIB subiu de 1,1% relativo ao trimestre anterior.
No 3º trimestre de 2013 o PIB subiu 0,3% relativo ao trimestre anterior.
No 4º trimestre de 2013 o PIB subiu 0,5% relativamente ao trimestre anterior.
RESULTADO:
Em 2013, o PIB diminuiu 1,4% como referi.
Dados da Taxa variação em cadeia do PIB (INE 14.02.2013)
É sobre estes dados de crescimento do PIB em cadeia, que o governo e seus apoiantes, insensatamente, lançam um verdadeiro festival hardcore nestes últimos dias.
Na verdade, a situação económica do país agravou-se em 2013 e não prevejo grandes melhorias para 2014.
Já agora um dado fresquinho, de hoje, do Eurostat
Annual comparison
Among the Member States for which data are available for December 2013, production in construction fell in five and rose in ten. The largest decreases were registered in Portugal (-14.1%), Italy (-8.8%) and Spain (-4.7%), and the highest increases in Hungary (+11.5%), Slovakia (+9.2%) and the United Kingdom (+6.8%). (Eurostat 19.02.2013)
Mas a terra move-se e o PIB vai subindo...e o meu amigo, por certo, condenaria Galileu.
ResponderEliminarBem, não serei eu a contestar este post.... até porque não consigo enfatizar o quao errados eles estão.
ResponderEliminarNesse último ponto é que eu não acredito, caro Tonibler!
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