Saída limpa ou
saída com programa cautelar?... A cerca de 3 meses da conclusão do Programa de
Assistência Económica e Financeira (PAEF) a que Portugal se encontra submetido
desde 17 de Maio de 2011, o debate está instalado na sociedade portuguesa –
mesmo sabendo-se, como se sabe, que é grande o desconhecimento sobre as
condições subjacentes a um programa cautelar. E que podem fazer toda a
diferença para a decisão a ser tomada nesta matéria.
Prós e contras:
resumidamente, a favor da saída limpa (isto é, sem qualquer apoio adicional no
regresso ao financiamento em mercado) conta-se uma suposta maior vitória
política (nomeadamente para consumo interno) de quem, com as agruras
resultantes da dureza, da má concepção inicial do PAEF, e da sua insuficiente
adaptação à realidade ao longo do tempo, conduziu os destinos de um país; e
também uma suposta menor condicionalidade (balizada pela normal monitorização
europeia e pelos objectivos do Tratado Orçamental Europeu); contra, a exposição
total (sem qualquer rede protectora) aos humores dos investidores e dos
mercados. A favor do programa cautelar vale, precisamente, o facto de ser visto
como um seguro que protege o país em questão contra as oscilações dos mercados
(via Mecanismo Europeu de Estabilidade – o fundo de resgate europeu – e Programa
OMT de compra de dívida pública por parte do BCE), e reforça a sua
credibilidade junto dos investidores (que podem, assim exigir juros menos
elevados); contra, uma suposta condicionalidade mais estrita e mais dura,
implicando maior austeridade futura e menor liberdade de actuação para cumprir
os objectivos europeus. Um ponto adicional de muitos a favor de um programa
cautelar reside no facto de poder refrear eventuais ímpetos eleitoralistas
futuros, que poderiam deitar, novamente, tudo a perder (leia-se,
encaminhar-nos, novamente, para uma posição de resgatados). A esses receios
contraponho que, mesmo com saída limpa, estaremos sujeitos a condicionalidade
estrita e a uma monitorização regular (semestral) por parte da Comissão
Europeia e do BCE até que reembolsemos... 75% do montante dos empréstimos
oficiais – o que sucederá já depois de 2030...
É possível que
Portugal possa vir a ser empurrado para uma saída limpa, sem grande margem de
manobra para poder optar. Empurrado por quem? Pela própria União Europeia e,
nomeadamente, pelos países contribuintes (líquidos) do Norte e do Centro da
Europa – Alemanha, Áustria, Finlândia e Holanda – que, no dealbar de umas
eleições europeias que se antevêem particularmente complexas para os que
acreditam no projecto europeu, podem ter grandes dificuldades em explicar aos
respectivos eleitorados que continuarão comprometidos com uma ajuda financeira
a um país... do Sul tão endividado como Portugal. E empurrado como? Pela
imposição de condições explícitas de tal forma duras e exigentes que, na
prática inviabilizariam a escolha de uma saída com programa cautelar... Nada
que, afinal, já não tenha sido visto com a saída da Irlanda do seu PAEF – e
sabe-se que a Irlanda dispunha de condições económicas e financeiras bem mais
favoráveis do que as actuais de Portugal (mesmo admitindo, como creio que
sucederá, que conseguiremos construir uma “almofada financeira” que nos garanta
as necessidades públicas de financiamento de 2014 e 2015).
Tudo somado, na
posse da (ainda insuficiente) informação hoje conhecida, tendo a valorizar mais
a protecção e os previsíveis menores encargos financeiros associados a um
programa cautelar, uma vez que, como atrás deixei subentendido, acredito que a
condicionalidade implícita não variará muito entre um e outro tipo de saídas.
Agora, o que me
parece irrefutável é que, com ou sem saída limpa, iremos evitar um segundo resgate
– e que, portanto, nos encontramos rumo a uma saída do PAEF que, quer em termos
políticos, quer práticos, só pode ser vista como favorável. Porquê? Porque
(i) a dívida
pública portuguesa estará sempre a ser financiada em mercado (e não a partir de
verbas oficiais disponibilizadas pelo fundo de resgate europeu – o que, se
acontecesse, configuraria uma situação de... segundo resgate)[1];
(ii) um
segundo resgate era tudo o que ninguém queria, seja em Portugal (por maioria de
razão: são bem conhecias as nefastas consequências que um segundo resgate teve
para a Grécia, onde um terceiro resgate está já a ser discutido), seja na Zona
Euro (quaisquer duplos ou triplos resgates, para além do da Grécia, vista como
caso excepcional, poderiam ser muito perigosos para o projecto da moeda única
europeia).
Sem margem para
dúvidas, não concorda caro leitor?...
Nota: Este texto foi publicado no Jornal de Negócios em 18 de Fevereiro, 2014.
[1] Mesmo com
programa cautelar, as verbas a disponibilizar pelo
fundo de resgate europeu funcionariam como seguro para o caso de alguma coisa
correr mal no financiamento em mercado... ao qual é suposto Portugal regressar
depois de concluído o PAEF (e que já está progressivamente a acontecer).
Caro Amigo, se tiver dúvidas quanto à metodologia a seguir, tem à mão um conselheiro de peso que decerto terá certezas nos procedimentos.
ResponderEliminarChamem o confiável PACHECO PEREIRA que terá o remédio para todos os males.
Cumprimentos