1. Foi hoje efectuado um leilão aberto de dívida pública, ao prazo de 10 anos, com o objectivo anunciado de € 750 milhões: esse montante foi colocado e a taxa de juro média da colocação foi 3,575%, segundo as notícias, a mais baixa desde 2005 (início do “memorável” consulado socrático)...
2. Ainda segundo as notícias, a procura por esta colocação terá sido = 3,5 X montante da oferta o que, não sendo “fantástico”, diz bem do apetite pelo produto...
3. Parece assim aberto o caminho para que, concluída com sucesso a 12ª e última avaliação (a ver vamos...), a República Portuguesa possa voltar a financiar-se nos mercados, em condições de normalidade...
4. ...desde que saiba resistir à tentação de renovar os dislates que caracterizaram anos e anos de gestão orçamental desastrada, culminando no absoluto delírio dos últimos 5 anos anteriores a Abril de 2011...
5. Isto é particularmente de reter numa altura em que vai sendo lançado para a discussão pública a questão da afectação dos “dividendos orçamentais” gerados por um crescimento económico acima do previsto...
6. Aqui, não posso deixar de manifestar alguma discordância em relação à posição publicamente manifestada pelo PR, que sugeriu que esses “dividendos” fossem afectados prioritariamente a compensar aqueles que mais atingidos foram pelas medidas de austeridade dos últimos anos...
7. Embora entendendo a preocupação manifestada pelo PR em relação aos mais desfavorecidos neste difícil processo de ajustamento, na minha perspectiva esses dividendos devem, em 1º lugar, ser utilizados para reduzir a dívida pública (no suposto de que o excedente primário permita essa redução)...
8. ...enquanto a dívida pública não começar a baixar, esses “dividendos” não devem ser afectados a coisa nenhuma na minha opinião, particularmente a aumentos de despesa corrente, porque se isso acontecer a dívida pública continuará a subir o que, como sabemos, poderá conduzir a um tenebroso regresso aos problemas financeiros...
9. Numa semana caracterizada pela exaltação da falta de senso por parte de diversos agentes políticos – num claro desrespeito aos mais lídimos valores do 25/IV - importa manter a cabeça bem fria e pensar seriamente nas responsabilidades que o País enfrenta e que não se compaginam com revolucionarismos 40 anos retardados...
Será que aquelas maluqueiras de Mário Soares, Freitas do Amaral e C.ª são contagiosas? Até parece...
ResponderEliminarQuero acreditar que quem tem responsabilidades na governação não venha a ser afectado.
Caro Tiro ao Alvo,
ResponderEliminarOs casos que refere serão até dos menos danosos para o bem comum, tendo em atenção o elevadíssimo desconto que o "mercado" atribui às insanidades com esse certificado de origem...
Concordo com o essencial do seu post.
ResponderEliminarQuem são então "aqueles que mais atingidos foram pelas medidas de austeridade dos últimos anos" ?...
Não é facil dizer.
Os desempregados ?...Tratar-se-ia de voltar a alimentar artificialmente a procura dos sectores não transaccionaveis (construção, comércio, etc) ?...
Os funcionarios e os pensionistas ?... Tratar-se-ia de voltar a repor os vencimentos e as pensões aos niveis anteriores ?...
Seria voltar ao modelo economico que levou ao desequilibrio da economia e à quase bancarrota do pais.
Fazer o ajustamento da economia não é necessariamente compativel com a reposição das situações anteriores, mesmo que seja "socialmente e politicamente correcto".
Confesso que, embora me alegre com o êxito da emissão de dívida, tenho algum receio que as condições mais favoiráveis de colocação de dívida possam, agora ou mais tarde, aguçar o apetite de aumentar o endividamento, quando o que precisamos é diminuí-lo. O que há a fazer é diminuir o défice e só emitir a dívida necessária para fazer face às amortizações enquanto se reduz a dívida pública.
ResponderEliminarAchei uma certa piada ao PR ao identificar como "os mais castigados" os funcionários públicos e reformados.
ResponderEliminarMas este PR não foi o mesmo que inviabilizou todas as medidas de corte de despesa que envolvesse funcionários públicos e reformados? Onde é que ele andou nos últimos anos?
Eu concordo que se alivie os que foram sacrificados. Os que perderam o emprego com a carga de impostos que se teve que gerar à conta das invenções constitucionais e criatividade judicial. Agora, os funcionários públicos que tiveram ZERO de cortes??
O juro de 3,575% parece baixo mas, se tivermos em conta a taxa de inflação previsível para os próximos dez anos, pode de facto ser muito alto.
ResponderEliminarPode, de facto, ser até mais alto do que o juro que Portugal contratava, para obrigações similares, há dez anos atrás.
A taxa de inflacção do euro vai ser baixa nos próximos 10(!) anos?
ResponderEliminarFernando S,
ResponderEliminarLevanta uma boa questão, que nos deve fazer reflectir. Eu acrescentaria uma dificuldade em relação à ideia da reparação, por via orçamental, das situações supostamente de maior injustiça.
É extraordinariamente complexo organizar um sistema que assegure a aplicação, com razoável grua de confiança, de critérios de efectiva justiça social...
Basta lembrar o descalabro e verdadeiro atentado à justiça social em que se converteu, num ápice, o Rendimento Mínimo Garantido...
O mundo real em que estes temas são tratados, que não tem nada a ver com as conversas de salão em que algumas boas mentes se manifestam sempre a favor do alargamento das funções do Estado Social, tem uma dinâmica que a prazo destrói todas as boas intenções...e acaba por fazer a redistribuição a favor de quem não precisa ou menos precisa...
E os recursos do Estado Social esvaem-se, sem que este consiga realizar os seus objectivos...
Caro Luís Lavoura,
Ia exactamente perguntar-lhe onde encontra previsões da inflação para os próximos 10 anos...eu conheço as do Banco de Portugal, ontem divulgadas, para os próximos 3 anos, mesmo assim divulgadas com mil cautelas...
Caro João Pires da Cruz,
Fiquei com a impressão que o PR pretenderia referir-se aos pensionistas de mais baixos recursos...mas mesmo aí, um escrutínio de verdadeira justiça social é extremamente difícil e contingente, dada a enorme variedade das situações reais que coexistem em qq universo deste tipo...