"Não há esforço de 'pacificação' duradouro com uma sociedade que abandona parte de si mesma.
"[A crise financeira mundial tem origem] numa profunda crise antropológica com a criação de ídolos novos, o culto do dinheiro e a ditadura de uma economia sem rosto, nem objetivo verdadeiramente humano."
"Aquilo que domina são as dinâmicas de uma economia e de finanças carentes de ética: assim, homens e mulheres são sacrificados aos ídolos do lucro e do consumo, é a cultura do descartável."
"Um povo que não escuta os seus avós é um povo morto."
Estas e outras frases e temas das suas intervenções públicas fizeram do Papa Francisco um fenómeno de popularidade e de sabedoria, um Papa do povo que todos invocam e repetem. No entanto, se lermos bem tudo o que diz e o modo como o diz, ficamos desconcertados, tal a simplicidade e até a evidência das verdades e das preocupações que traz a público, aquilo a que há não muitos anos chamaríamos banalidades e princípios comuns de conduta em qualquer sociedade com pretensões de civilização. Precisamente o que mais me impressiona é que seja preciso hoje invocar a autoridade e o carisma papal para se pronunciarem como válidas e importantes muitas das formas de pensar e de viver que noutras épocas bem próximas estariam na agenda das democracias e dos políticos com pretensões de ser eleitos, sendo consideradas elementares para o progresso da Humanidade. Cuidar dos mais velhos e dos mais fracos, o dinheiro não pode governar o mundo, as pessoas não são descartáveis, enfim, é bem um sinal dos tempos que seja preciso ser o Papa a falar para se reparar como tais princípios e valores foram ficando...descartados da nossa realidade. O Papa Francisco usa a sua autoridade e o seu ministério para as agendar de novo, para insistir, pode ser que, depois de acolhidas com surpresa e espanto, sirvam para repararmos como afinal são essenciais e nos escandalizarmos sobre quando e como foi possível esquecermo-nos delas.
Adquiri à dias um livros cujo título é: "Bíblia - Diálogo Vigente". Trata-se da compilação de um programa televisivo em que três homens, líderes de três religiões, conversavam e transpunham para a atualidade, frases bíblicas. Os homens, são: Jorge Mário Bergóglio, Abraham Skorka e Marcelo Figureiroa. Quase ao início do livro Abraham Skorka diz: Creio que há um único caminho e que tem a ver com uma palavra que há que escrever com maiúsculas: Humildade. Perdemos a honestidade intelectual, há muitas pessoas que falam de assuntos que na verdade não conhecem em profundidade. Cada uma é um informador público seja do que for. Infelizmente, vivemos uma realidade pobre e superficial, ao nível intelectual, e mesmo os grandes cientistas muitas vezes pecam por falta de humildade.
ResponderEliminarJorge Mário Bergoglio concluiu: Eu também colocaria neste capítulo dedicado à ciência, as ciências humanas, que abarcam a cosmovisão, aí vê-se também como funciona, à parte da transcendência, a ausência de diálogo e concentração na auto-suficiência.
No fundo, os princípios, o bem e a ganância, sempre lá estiveram adaptados aos tempos, naturalmente. Tudo mudou muito rápido, os valores também; por isso este Papa distingue-se pelo discurso “terreno”, o apelo à felicidade nesta vida e não na outra. É isto que agita milhões em todo o mundo, porque é compreendido, porque rema contra a maré…
ResponderEliminarAté que se perceba que tudo acaba. Só fica o que fizemos por todos os outros.
ResponderEliminarPenso que nada acaba, caro Luís Moreira. Por isso, Jorge Mário Bergoglio se refere à cosmovisão, ao todo; um todo que abarca o cosmos e que por conseguinte está sujeito às suas leis inexoráveis; ou seja: desenvolve-se imparavelmente sobre si mesmo, renovando-se a cada instante. Tudo, aliás, segue o mesmo ritmo: nasce, cresce, declina e morre para voltar a nascer e por aí adiante. O que se passa, é que ainda não conseguimos, porque queremos conseguir, enquadrar-nos nesse ritmo, segundo uma consciência pessoal, que, a poder existir, faria com que todo o sistema falisse, porque tenderíamos imediatamente a querer altera-la.
ResponderEliminarSuzana
ResponderEliminarO Papa Francisco elegeu as questões da inclusão social dos pobres, a paz e o diálogo social como questões importantes para o futuro da humanidade. É contra o que designou "a globalização da indiferença" que não deixou ninguém indiferente.
É como a Suzana diz, as coisas simples - que foram colocadas de parte pela sociedade do consumo e pela economia do poder - voltam agora pela mão do Papa Francisco que nos está a ajudar com a sua extraordinária simplicidade a descobrir o que é importante.
Há verdades intemporais, caro ?Bartolomeu, mesmo que mudem de vestes de vez em quando, a substância está lá. Deve ser muito interessante esse livro que comprou!
ResponderEliminarSim, caro jotac, é porque fala para cada pessoa como se fosse o mais importante, as pessoas sentem-se completamente ignoradas e não há forma de manter isso muito tempo.
Caro Luis Moreira é pelo menos pelo que fizemos aos outros que havemos de ser lembrados.
A simplicidade é uma arma muito eficaz Margarida.