Deu grossos títulos nos jornais a notícia da atribuição de novas funções à magistrada do ministério público que dirigia a unidade de combate ao crime violento. Ela própria se declarou vítima de saneamento.
Não quero comentar o caso específico, por óbvio e natural desconhecimento dos factos. Mas, abstraindo do caso concreto, a situação ilustra o que de pior existe na função pública, que é a cultura de os funcionários se considerarem donos do seu posto de trabalho. Se um funcionário é convidado ou obrigado a mudar de função, aqui d`el-rei, que é saneamento. E tem, de imediato, acolhimento na arcaica comunicação social que persistimos em ter.
Ora a mudança de posto de trabalho traz novas experiências, enriquecimento pessoal e profissional, uma visão mais alargada da área de actuação, e uma melhor compreensão do todo onde se insere. A polivalência de funções é um activo e uma mais-valia quer para o funcionário, quer para o serviço. Mas não, o funcionário entende que uma rotação para outro serviço é saneamento. Enquanto persistir esta cultura do lugar inamovível, não há, nem pode haver, gestão de pessoal. E, não havendo gestão, o bom funcionário é sempre a primeira vítima da mediania instalada. Com prejuízo para todos. Mas é o estado que temos. E que tantos adoram, embora lhe sofram as consequências. Masoquismo, pois.
Um ano de experiência e quarenta de rotina. É disto que os funcionários públicos gostam.
ResponderEliminarDesculpem lá ser espírito de contradição mas não sei se alguma vez trabalharam no Estado, onde sempre houve mobilidade através de requisições, destacamentos, transferências e comissões de serviço, em geral voluntárias ou seja, no interesse de quem precisava e de quem queria ir, mas a lei sempre previu, desde que me lembro, a mudança por interesse dos serviços. Quando começou a haver limitações severas ao recrutamento de novos funcionários, em princípios de 2002, chegou a ser necessário dispensar a autorização do serviço de origem, porque as pessoas queriam mudar e os chefes não deixavam. Criou-se a Bolsa de Emprego Público (BEP) para facilitar essa mobilidade e dar a conhecer as oportunidades internas de mudança. Sempre houve essa dinâmica no Estado, até entre a administração central e as autarquias, que foi preciso limitar a certa altura. Enfim, o Estado é um universo que é preciso conhecer antes de fazer juízos, sempre negativos, criando e alimentando preconceitos injustos. E, tal como nas empresas, também há decisões determinadas por razões menos objectivas, não faço ideia se é o caso de que fala o post do caro Pinho Cardão.
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