Olho para o quadro e a imagem não deixa qualquer dúvida, se houvesse anjos teriam de ter aquele olhar, aquela expressão pura e tranquilizadora. Se me tivessem dito em pequeno que os anjos tinham estas feições eu acreditava.
Não me lembro quando comecei a saber o que eram anjos. Dominava poucas palavras e conceitos, sabia o que era ter fome, sono e medo, mas não compreendia o que eram os anjos. Apontavam lá para cima, a sua casa, mas eu só via o azul do céu ou, então, nuvens brancas, escuras, brincalhonas, solitárias, rebeldes, e algumas deveriam ser mesmo más, porque assustavam-me. Eu perguntava se as nuvens eram os anjos. Não! Os anjos estão por cima e não se veem. Então se não se veem como é que sabes que existem? O silêncio das palavras era rapidamente cortado e a ladainha do costume vinha ao de cima. Os anjos têm asas. Ai têm! Então são pássaros. Não, não são pássaros, são seres criados por Deus para O servir e para nos guardar. Ah! Então são criados. Não, não são criados, são seres únicos e cada um de nós tem o seu anjo da guarda. Eu também tenho? Claro que tens. Mas eu não o vejo, nem o ouço. Pois não, não podes vê-lo e nem ouvi-lo. Mas ele vê-te e ouve tudo o que dizes. Tudo?! Sim. E quando faço asneiras também? Sim, sim, sobretudo quando fazes asneiras. E depois? O que é que ele vai fazer? Vai dizer ao Jesus. Para quê? Para saber as asneiras que fizeste. E depois? Depois o quê? Depois o que é que ele vai fazer. Ele quem? O Jesus. Sei lá, às tantas é capaz de não te dar nada no Natal. Não?! Então o anjo da guarda é um queixinhas. Assim não gosto dele. Mas ele é teu amigo e protege-te. Pois, mas assim não quero. Quando caio e faço uma ferida no joelho ele não me ajuda. Caio na mesma. De facto, os meus joelhos eram uma desgraça mais do que evidente e punham em causa a minha crença nos anjos da guarda. A conversa terminou naquele ponto. Já tinha reparado que era sempre assim quando o incómodo a atingia. Depois arranjava desculpas para mudar de conversa. O alívio era evidente ao mandar-me ir brincar para a rua. Ao sair ainda perguntei, o anjo da guarda também vai comigo, mãe? Vai-te embora meu malandro. Cala-te e vai brincar um pouco. Eu ia, mas depois acabava rapidamente por aperceber que o meu anjo da guarda não era muito dado a brincadeiras de crianças. Bastava esmurrar a perna e os joelhos para confirmar.
Ao ver este desenho fiquei com pena de não o ter visto na altura. Se me dissessem que era a cara de um anjo eu tinha mesmo acreditado.
Ainda vou a tempo...
Caro Professor Massano Cardoso
ResponderEliminarNão é a Teresinha?
Não. Não sei o seu nome, mas não é a Teresinha. É uma outra "Teresinha"! Trata-se de uma compilação de muitos desenhos que estão a ser feitos pela Inês para comemorar os 45 anos da APPACDM de Coimbra. Se os visse ficava admirada como é possível desenhar as almas destes seres tão especiais. Eu estou encantado e não consigo deixar de registar alguns deles...
ResponderEliminarExistem. Como ilustra, meu caro Professor.
ResponderEliminarSão desenhos tocantes!
ResponderEliminarSo mesmo alguem com a sensibilidade do Prof Massano escreveria um post destes... Lindo! E lindo Anjo!
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