terça-feira, 22 de julho de 2014

Contas externas até Maio: "mixed news"

1. Foi ontem notícia (Boletim Estatístico do BdeP, de Julho) o agravamento do défice da Balança Corrente, nos primeiros 5 meses do ano em relação a igual período de 2013: de - € 484 milhões em 2013 para - € 1.225 milhões em 2014.

2. Esse agravamento, de € 741 milhões, ficou a dever-se ao desempenho de duas rubricas:

- O défice da Balança de Bens, que passou de € 2.466 milhões em 2013 para € 3.100 milhões em 2014 – estamos a gastar mais, nada de surpresas...

- O saldo positivo das Transferências Públicas (com a UE) , que passou de € 427 milhões em 2013 para € 253 milhões em 2014 (pode ser uma queda temporária)

3. Um dado curioso consiste na estagnação do excedente da Balança de Serviços, para o qual se esperava um claro aumento, em função da melhoria registada na rubrica de Viagens e Turismo - cujo superavit aumentou bastante (mais 13,25%, de € 1.674 milhões em 2013 para € 1.896 milhões em 2014) – a qual foi todavia e em boa parte compensada por um pior desempenho da rubrica “Outros Serviços Fornecidos por Empresas”, cujo excedente baixou de € 471 milhões em 2013 para € 319 milhões em 2014.

4. Relativamente à Balança de Capital, o saldo continua naturalmente positivo, de € 1.267 milhões, mas algo inferior ao verificado em 2013, que foi de € 1.368 milhões.

5. Adicionando os saldos das Balanças Corrente e de Capital obtém-se até Maio de 2014 um pequeno excedente, de € 42 milhões, bastante inferior ao que se verificava no mesmo período de 2013 (€ 884 milhões).

6. Em conclusão, e mais uma vez, poder-se-á afirmar que em 2014 voltaremos certamente a apresentar excedente nas contas com o exterior, mas, muito provavelmente, com uma expressão inferior à registada em 2013: se estamos a gastar mais, não podemos estranhar esta evolução...

7....apesar de ser cada vez mais notória, nas hostes crescimentistas, a ambição de uma urgente retoma de hábitos de despesa muito mais ousados (sobretudo por parte do Estado), traduzindo um ardente desejo de regresso a tempos gloriosos, ao delicioso sabor do sufoco financeiro...

10 comentários:

  1. Como a reforma ficou na gaveta não é de estranhar que mal o bolso do cidadão melhore, volta tudo ao mesmo! O "balanço positivo" terá a duração do pânico que refreou o consumo. Algo muito mais psicológico que real... Mas afinal de contas quais são os factores que mais influenciam a economia?!...

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  2. Afinal, existem 700 mil funcionários públicos com uns cobres valentes com que já não contavam, não fosse algum deles ter que cortar nas polegadas da televisão LED para contribuir para a independência nacional. Vamos ter que esperar pelo 2º resgate...

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  3. Caro Luís Alves Ferreira,

    Não vamos cair no exagero de dizer que volta tudo ao mesmo só pelo facto de o excedente das contas com o exterior dever ser, no corrente ano, inferior ao registado em 2013...
    Como já aqui tenho salientado, esta situação nada tem de semelhante ao que se verificava até 2010, com défices gigantescos da Balança Corrente, superiores a 10% do PIB...mesmo no final do ano!
    De qualquer modo, cumpre seguir com atenção a evolução deste saldo com o exterior, que se reveste de crucial importância pois é o melhor barómetro da consistência das políticas...
    Com uma eventual chegada (lagarto, lagarto) do Dr. Pangloss ao poder, creio que, aí sim, mergulharíamos rapidamente num vermelho escuro...e então seria o salve-se quem puder!
    Bem observada, no seu comentário, a influência do factor psicológico!

    Caro João Pires da Cruz,

    Em tom jocoso, como lhe cumpre, mas não deixa de apontar um factor relevante para o incremento das importações...
    Ou será que, ao contrário do que pensamos, as leituras de jornal e outras actividades de elevado valor acrescentado (como ir tomar um cafezinho para descontrair), quando realizadas em serviços públicos, produzem impacto não despiciendo nas exportações de serviços, compensando o impacto sobre as importações das despesas permitidas pelos aumentos ou pela restituição dos cortes?

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  4. Acho que a procura de inutilidades no exterior está em grande queda, devido ao incremento que a produção está a ter em inúmeros mercados europeus. No entanto, não podemos desprezar o impacto que essas atividades têm no aumento da produtividade. Enquanto um funcionário público está a serrar presunto há todo um país que aproveita para trabalhar.

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  5. Caro João Pires da Cruz,

    Eu devo admitir que a procura de inutilidades, pelo exterior, não esteja pripriamente em queda...mas que a oferta, superabundante, torne mais difícil a penetração das inutilidades nacionais nos outros mercados, forçando-nos, a nós nacionais e em última análise, a adquiri-las por um preço (impostos) que se vai tornando claramente exorbitante...
    Acha que não será mesmo possível incrementar a produtividade das leituras de jornais e do consumo de cafèzinhos, para tornar os serviços produzidos em Portugal mais competitivos face à crescente concorrência de outras praças burocráticas?

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  6. Vai ser complicado, caro Tavares Moreira, devido à escala do mercado português. Por exemplo, a autoridade bancária europeia que produz trampa às carradas está aos poucos a transformar o Reino Unido num dos maiores exportadores europeus de estupidez, quando até eram um dos mercados importadores. Já para não falar na tradicional produção da comissão europeia e do parlamento europeu, este com a contribuição de pesos pesados da economia de parvoíce nacional como é o caso da Dra. Ana Gomes que, sozinha, vale tanto como uma Suiça inteira. Não no peso, claro, isso seria indelicado de se dizer. Veja lá o que não seria da economia europeia, quiçá mundial, se conseguíssemos meter a Dra. Ana Gomes do lado da leitura do jornal em vez do lado da notícia de jornal? Infelizmente a leitura de jornal e cafézinho nacionais mal dá para nós, não vamos conseguir muito mais...

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  7. «estamos a gastar mais, nada de surpresas...»

    Eu, todas as pessoas que conheço e mais dez milhões de portugueses estamos a gastar menos. Quem será essa maltosa que anda a gastar mais de tal modo que se reflete na Balança Corrente?


    «apesar de ser cada vez mais notória, nas hostes crescimentistas, a ambição de uma urgente retoma de hábitos de despesa muito mais ousados (sobretudo por parte do Estado), traduzindo um ardente desejo de regresso a tempos gloriosos, ao delicioso sabor do sufoco financeiro...»

    Essas hostes crescementistas que querem hábitos de despesa mais ousados, sobretudo por parte do Estado, fazem-me alguma confusão. Essas hostes são aquelas que quiseram as PPPs, as SWAPS, os estádios inúteis, a Expo, etc., somados aos que deram de mão beijada milhares de milhões aos bancos (para evitar riscos sistémicos)?

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  8. Caro João Pires da Cruz,

    Acha que seria indelicado para os suíços comprar o peso de seu País ao de tão virtuosa personalidade?
    Tanto quanto me parece, seriam capazes de se sentir muito orgulhosos!

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  9. Por enquanto, ainda vamos podendo acreditar na veracidade dos relatórios emitidos pelo BdeP. Esperemos que não venham a sofre contaminação dos emitidos pela PGR.

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  10. Caro João Pires da Cruz: no meu último comentário saiu "comprar" quando deveria ser "comparar"...as minhas desculpas.

    Caro Bartolomeu,

    Tratando-se neste caso de estatísticas, há muitos anos produzidas pelo BdeP e reconhidamente fiáveis, creio que poderá mesmo dormir descansado (quanto à veracidade, já não direi o mesmo quanto à interpretação dos dados...).

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