1. Foi ontem apresentada a há muito esperada proposta de reestruturação da dívida pública portuguesa, rodeada de um razoável aparato publicitário generosamente fornecido por uma comunicação social ávida de grandes ideias para o País.
2. Não vou dizer que esta operação constituiu mais um episódio moldado no velho brocardo latino “parturiunt montes, nascitur ridiculus mus”, pois me parece que não se tratou de parir um rato nem qualquer outro animal desta era, mas antes de esconder, bem escondido, um dinossauro económico...
3. Esta proposta, se bem a entendi, não constitui mais do que um “fait divers”: o que os seus autores realmente pretendem não é uma reestruturação da dívida, pelo menos como objectivo final, mas sim um resultado bem mais profundo e ambicioso: uma mudança de sistema económico, que acabe com a economia de mercado. Entendamo-nos, pois.
4. Esta proposta, se fosse levada às últimas consequências, significaria na minha perspectiva e pelo menos, o seguinte: (i) suspensão do acesso a financiamento externo, de fontes públicas ou privadas; (ii) evaporação da poupança das Famílias; (iii) saída de capitais do País, enquanto houvesse tempo, em grande escala; (iv) falências simultâneas do Estado e do sistema financeiro, integralmente suportadas pelas Famílias e pelas empresas residentes; (v) queda abrupta do investimento produtivo; (vi) exclusão da zona Euro e da União Europeia; (vii) empobrecimento súbito e numa escala nunca vista da esmagadora maioria das Famílias residentes; (viii) emigração (talvez melhor fuga de populações) em massa; (ix) destruição de todos os alicerces de funcionamento de uma economia de mercado; (x) apropriação/confisco pelo Estado da quase totalidade dos meios de produção.
5. Isto equivaleria à adopção de um modelo económico muito semelhante ao que vigorou na União Soviética e países satélites até aos idos anos 80, com resultados admiráveis como muitos ainda estarão recordados...e que hoje subsistirá apenas, na sua pureza, na ultra desenvolvida Coreia do Norte, um paraíso social como todos sabemos...
6. Resolver chamar a isto uma reestruturação da dívida, apresentada com pompa e circunstância, só poderia feito a título de brincadeira (de mau gosto, certamente) ou com propósito de enganar os crédulos do costume.
7. Como se percebe, pois, a operação não “pariu um rato” pois pretendia parir um dinossauro...bem escondido.
Caro Tavares Moreira, pese embora os comentários que esta idioteira fez surgirem na minha cabeça não terem lugar neste blog sempre vou dizendo que não entendo de forma alguma como é possivel existir gente assim... Não entendo.
ResponderEliminarUnião Soviética, Coreia do Norte? Nada de pânicos, Tavares Moreira!
ResponderEliminarAntes de falar na reestruturação da dívida porque na falar na própria dívida? 78 mil milhões oferecidos graciosamente aos maiores parasitas do país? Mas a anedota não pára aqui:
O Banco Central Europeu (BCE), segundo os próprios estatutos, está proibido de comprar dívida diretamente aos Estados mas tem toda a liberdade de financiar a banca a uma taxa de juro muito baixa (1%), não impondo quaisquer limites na utilização desse dinheiro. Este facto permite que os bancos possam obter lucros extra à custa das taxas de juro elevadas que cobram não só aos Estados, mas também às famílias e às empresas.
No entanto, o BCE pode comprar dívida soberana, ou seja, dos Estados, no chamado "mercado secundário" onde têm acesso os bancos. Portanto, está-se perante a situação caricata que permite à banca especular com a divida emitida pelos Estados, da seguinte forma:
O BCE não pode comprar directamente a dívida ao Estado português, mas já pode comprá-la aos bancos (os celebérrimos mercados) que a adquirem. E então o esquema especulativo montado pela UE e pelo BCE para enriquecer a banca à custa dos contribuintes, das famílias, e do Estado português é o seguinte: a banca empresta às famílias, às empresas e ao Estado português cobrando taxas de juro que variam entre 5% e 12%, ou mesmo mais, depois pega nessa divida, titularizando-a, e vende-a ao BCE obtendo empréstimos a uma taxa de juros de apenas 1%.
De 2008 a 2011 - EM APENAS TRÊS ANOS A DIFERENÇA DE TAXAS DE JURO DEU À BANCA PORTUGUESA UM LUCRO DE 3.828 MILHÕES DE EUROS.
Estatutos do BCE:
Capítulo IV - Funções monetárias e operações asseguradas pelo SEBC:
Artigo 21.º - Operações com entidades do sector público:
21.º 1 - De acordo com disposto no artigo 104.º do presente Tratado, é proibida a concessão de créditos sob a forma de descobertos ou sob qualquer forma, pelo BCE ou pelos bancos centrais nacionais, em benefício de instituições ou organismos da Comunidade, governos centrais, autoridades regionais, locais ou outras autoridades públicas, outros organismos do sector público ou a empresas públicas dos Estados membros; é igualmente proibida a compra directa de títulos de dívida a essas entidades, pelo BCE ou pelos bancos centrais nacionais.
Ainda é aquela idiotice do Louçã? É admirável aquela do "ah, é só cortar o valor presente em 100 mil milhões, não é deixar de pagar". Aparentemente, aquele pessoal do ISEG deve achar que desenvolveu uma apurada tecnologia para enganar credores chamada "multiplicação factores de desconto". E anda o Crato a cortar na investigação científica com esta tecnologia a brotar desta forma ali para os lados do Quelhas. Aquilo é um novo Palo Alto!
ResponderEliminarCaro Zuricher,
ResponderEliminarConvém que existam pessoas com diferentes iedias, até as mais inconcebíveis como esta, doutro modo a curva de Gauss ficava sem caudas e isso seria péssimo!
Caro João Pires da Cruz,
Estes génios nem souberam aproveitar a sugestão que mão amiga lhes tinha generosamente oferecido, para propor a substituição da dívida por títulos perpétuos e sem cupão...
Nesse modelo, o valor presente da dívida seria consideravelmente mais reduzido - tendendo para zero - e nem teríamos a maçada de pagar juros...
Mesmo 1%, taxa contemplada neste admirável exercício de funambulismo financeiro, é um abuso, não estamos em tempo de pagar nada, os credores deveriam contentar-se com zero.
Caro João Pires da Cruz, este é provavelmente o comentário mais inteligente que já o vi fazer. Apenas um reparo: não é credores que se diz, é parasitas...
ResponderEliminarCaro José Alberto Vasconcelos Tavares Moreira,
ResponderEliminarEu compreendo perfeitamente que esta proposta de reestruturação da dívida pública portuguesa o apavore. Eu, por exemplo, também não concordo com ela porque acho imoral remunerar parasitas (mas isto sou eu, que sempre tive repulsa por bicharocos que se alimentam de sangue alheio).
E se esta proposta que, se levada às últimas consequências, significaria na sua perspectiva o seguinte:
(i) suspensão do acesso a financiamento externo, de fontes públicas ou privadas;
(ii) evaporação da poupança das Famílias;
(iii) saída de capitais do País, enquanto houvesse tempo, em grande escala;
(iv) falências simultâneas do Estado e do sistema financeiro, integralmente suportadas pelas Famílias e pelas empresas residentes;
(v) queda abrupta do investimento produtivo; (vi) exclusão da zona Euro e da União Europeia;
(vii) empobrecimento súbito e numa escala nunca vista da esmagadora maioria das Famílias residentes;
(viii) emigração (talvez melhor fuga de populações) em massa;
(ix) destruição de todos os alicerces de funcionamento de uma economia de mercado;
(x) apropriação/confisco pelo Estado da quase totalidade dos meios de produção.
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Mas, caro José Alberto Vasconcelos Tavares Moreira, a alternativa que estamos agora a experimentar não é substancialmente diferente. Senão, vejamos (ponto por ponto) o que está a acontecer agora:
(i) suspensão do acesso a financiamento externo, de fontes públicas ou privadas (tirando a Banca é tal e qual como você diz que iria ser);
(ii) evaporação da poupança das Famílias; (é tal e qual como você diz que iria ser);
(iii) saída de capitais do País, enquanto houvesse tempo, em grande escala; (é tal e qual como você diz que iria ser);
(iv) falências simultâneas do Estado e do sistema financeiro, integralmente suportadas pelas Famílias e pelas empresas residentes; (é tal e qual como você diz que iria ser);
(v) queda abrupta do investimento produtivo; (vi) exclusão da zona Euro e da União Europeia; (não há risco de exclusão. A finança que controla a União precisa de sangue para se alimentar).
(vii) empobrecimento súbito e numa escala nunca vista da esmagadora maioria das Famílias residentes; (é tal e qual como você diz que iria ser);
(viii) emigração (talvez melhor fuga de populações) em massa; (é tal e qual como você diz que iria ser);
(ix) destruição de todos os alicerces de funcionamento de uma economia de mercado; (é tal e qual como você diz que iria ser);
(x) apropriação/confisco pelo Estado da quase totalidade dos meios de produção. ????????????? – Não! É, antes, apropriação/confisco pela Banca da quase totalidade dos meios de produção Privados e do Estado.
Portanto, meu caro José Alberto Vasconcelos Tavares Moreira, os seus receios talvez pequem um pouco pelo exagero. Mas o seguro morreu de velho…
Caro Tavares Moreira, Portugal e os portugueses vão mudando aos poucos (noto ligeiras mudanças na nossa comunicação social), mas a forma de isto emendar rapidamente será quando os "agiotas, os parasitas" deixarem de mandar dinheiro para cobrir o nosso deficit.
ResponderEliminarQuando o estado para pagar salários e pensões oferecer cupões de dívida, aí sim, estas aves raras irão deixar de ter os seus tempos de antena em prime time.
Caro luis barreiro,
ResponderEliminarQuem sabe se o Senhor não terá razão, quem sabe!
E seja bem-vindo ao 4R!