Aproveitando o comentário que me suscitou o texto editado por Vasco Mina no Corta Fitas, a propósito dos factos, opiniões e críticas de que a semana passada foi pródiga em reacção ao chumbo da Contribuição de Sustentabilidade pelo Tribunal Constitucional, aqui fica mais este meu apontamento.
De repente parece que toda a gente acordou para o problema da sustentabilidade das pensões, como se fosse uma criação recente. Assim como esta atenção subitamente apareceu, não admira que rapidamente desapareça. Até ver. Somos especialistas neste tipo de reacção.
A semana passada foi realmente uma corrida a ver quem ganhava mais trunfos políticos. A verdade é que não há vencedores, só vencidos, incluindo o país. Não vale a pena iludir os problemas, é necessário repensar o modelo de pensões e o seu financiamento. Estamos a avolumar um problema grave, negando a sua existência.
Mas também não é com CES e CS que compramos a sustentabilidade financeira do sistema. E, depois, tão ou mais importante é assegurar a sustentabilidade social, aspecto que parece estar esquecido na mente daqueles que acham que é solução ir cortando à medida que o orçamento precisa de ser contido. E que dizer da adequação do rendimento das pensões na reforma?
Mas também não é com CES e CS que compramos a sustentabilidade financeira do sistema. E, depois, tão ou mais importante é assegurar a sustentabilidade social, aspecto que parece estar esquecido na mente daqueles que acham que é solução ir cortando à medida que o orçamento precisa de ser contido. E que dizer da adequação do rendimento das pensões na reforma?
Uma reforma do sistema público de pensões necessita de uma base alargada de apoio social, o que significa uma base política representativa. Estamos "condenados" a nos entendermos. A política de cortes avulsos não é politicamente sustentável e a política de medidas paramétricas está esgotada. A confiança é a base de sustentação de qualquer contrato social. É neste objectivo que os partidos do arco da governação se devem centrar. Jogar com a demagogia e a ignorância já sabemos ao que conduz...
Cara Margarida,
ResponderEliminarEncaremos de frente um facto que começa a estar cada vez mais à vista de todos: o emprego está a desaparecer.
Eu sou programador profissional numa empresa. Já fiz programas que foram colocados à venda no mercado. Qualquer desses programas substitui muitas horas de trabalho a quem os utiliza e diminui o nº de trabalhadores necessários para os fazer.
Imagine um programa atual de contabilidade. Substitui com facilidade uns 50 contabilistas de há uns 20 ou 30 anos atrás a trabalhar à “unha”.
O mesmo se passa em todos os campos da produção – a automação, a programação, a robotização e as telecomunicações estão a dispensar de todas do trabalho.
Não continue a pensar em termos de «economês clássico». A partir dos anos 70-80, as novas atividades que surgiam mercê da evolução tecnológica deixaram de criar novas oportunidades de emprego.
Portanto, não apenas a sobrevivência dos mais velhos como a de toda a gente estará a cargo de máquinas. Continuar a teimar eternamente num determinado paradigma (as reformas pagas pelo trabalho dos mais jovens) não faz sentido. Continuar a procurar soluções dentro desse paradigma (de princípios e meados do século XX) é absurdo.
Cumprimentos
Margarida, já nos habituou às suas reflexões tão ponderadas sobre um tema tão complexo, com a vantagem, ou por isso mesmo, de ser uma conhecedora e estudiosa do tema, o que é tão raro entre a floresta de palpites que se ouvem a torto e a direito, como se fosse possível contentar quem não sabe o que é preciso fazer!
ResponderEliminarDesde há muito que no nosso país a tendência é de "albardar o burro à vontade do dono" e nunca, ou raramente, albarda-lo de acordo com as necessidades do burro e da carga que irá carregar. Estou perfeitamente de acordo com a opinião que a cara Drª Margarida expressa e, "tirando de letra", é de esperar que esta onda de excitação reformadora passe sem que - tal como a cara Drª alerta - se pense e encontre forma de assegurar a sustentabilidade social, que é por si mesma a forma de garantir a sustentabilidade financeira (e não só) do sistema.
ResponderEliminarCaro Diogo, só há uma actividade em que as máquinas não substituem o homem. Na de pensar. E nessa actividade há lugar para todos os desempregados do mundo
ResponderEliminarCara Dra. Margarida Aguiar,
ResponderEliminarÉ isso mesmo. Embora saibamos que sem ovos não se fazem omeletes, também não é assim que se resolvem os problemas, há que estudar e projetar as medidas à distância de forma a antever aspetos menos consistentes que levam o cidadão a desacreditar do sistema.
O desígnio de um governo é reformar, com sustentabilidade previsível, não é consertar.
Tem razão o caro Diogo: a evolução tecnológica, em todos os sentidos, veio permitir dispensar muita gente.
ResponderEliminarMas há que ter em conta que por detrás da evolução tecnológica há gente a investigar, a criar a desenhar...
Na informática, o cerne de todo o desenvolvimento atual, um software está em permanente melhoramento, os chamados upgrades, exigem trabalho de pesquisa, distribuição e comercialização.
Na indústria pesada, uma escavadora dispensa certamente muitos cavadores, no entanto na sua conceção estão muitos técnicos e centenas de operários…
Não tem razão, caro Diogo. O seu exemplo de deu, de que um programa informático substitui, hoje, 50 contabilistas do antigamente, dos que trabalhavam à unha, não colhe. A comparação não é legítima - um contabilista de hoje não compara com um contabilista de há 40 anos, são profissões diferentes, a de hoje muito mais exigente, até por causa das ferramentas que usa. Além disso, repare que o número de contabilistas, nos últimos anos, aumentou muito, apesar (ou talvez por causa) da enorme evolução informática.
ResponderEliminarJá o exemplo da escavadora, esse sim, pode colher para justificar o elevado aumento de produtividade ocorrido nalguns sectores, mas não para concluir pela impossibilidade de se alcançar a sustentabilidade financeira do sistema de pensões, porque isso é possível, além do mais por que, como escreveu a Margarida, "estamos 'condenados' a nos entendermos".
Suzana
ResponderEliminarSomos especialistas em "palpites".
Caro Bartolomeu
Foi isso mesmo, foi uma exitação! Estes assuntos não podem ser tratados aos solavancos.
Caro jotaC
Somos especialistas em tratar os nossos problemas estruturais com aspirinas e depois é vê-los assumirem proporções graves. Há uma grande tempestade, mas depois volta a acalmia até à próxima. Veja o caso da natalidade.
Caro Tiro ao Alvo
É pena que tenhamos que o fazer em situação de conflito político, mas vai ter que haver uma solução. O que tem de ser tem muita força.
Pelas reacções ao expresso pelo Diogo, parece poucos quererem cair na real.
ResponderEliminar'Inventei' há tempos uma qualificação para a presente economia: Nova Economia.
a)Salta à vista, devido ao progresso material, o excedente monumental de gente sem possibilidades de ocupação. Ou não?
Houve até 1945, uma forma de equilíbrio demográfico significativo, casos das duas grandes guerras do século XX.
b)A forma de organização das grandes empresas, com administrações macrocéfalas e sub empresas tipo outsourcing, tem lavado à acumulação de rendimentos monstruosos nas administrações, em prejuízo dos restantes 'colaboradores'.
c) Embora a melhoria da qualidade de vida possa tender a provocar uma baixa de natalidade,logo de população, trata-se de um mecanismo sem resultados imediatos.