sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Economia e medicamentos

Sempre que surge um grave problema de saúde levanta-se logo de imediato a seguinte pergunta, não há ainda tratamento? Compreende-se perfeitamente esta forma de estar, porque a comunidade, apesar de todos os contratempos, habituou-se às grandes conquistas da medicina. Obviamente que nem tudo passa por esta medida, mas uma parte significativa pode ser resolvida ou minimizada através das terapêuticas médicas.
O "Ébola" está aí, a atacar inexoravelmente a pobre África, caldo de muitas doenças, e a ameaçar o ocidente. Sempre que tal acontece, ameaças ao bem-estar e saúde dos ocidentais, os esforços são canalizados para encontrar uma solução, vacina ou medicamentos. As indústrias responsáveis põem-se em campo. Acontece que a investigação para obter um novo produto, capaz de atingir os seus fins, custa imenso dinheiro, de uma forma geral podemos apontar para verbas da ordem dos mil milhões de dólares. As empresas de investigação  têm com objetivo obter retorno do investimento e obter lucros da venda, logo, se não houver perspetivas de retorno substancial não se atrevem a tamanha aventura. O caso do "Ébola" é paradigmático. Esta doença é conhecida  desde 1976. Apresenta uma letalidade impressionante, inicialmente autolimitada a determinadas zonas de um continente sem recursos, e, por isso mesmo, nada convidativo a investimentos. Agora, apesar de atacar o ocidente, continua a não ser muito convidativa à investigação, porque atinge poucas pessoas, e, se forem tomadas adequadas medidas de prevenção, pode ser perfeitamente controlada. Então, o que fazer? Não dá lucro investigar novos produtos? Então não se investe. Mas não é preciso falar do "Ébola" para se chegar a esta conclusão. Se recordarmos a história da tuberculose verificamos que praticamente não há medicamentos novos desde há muitas décadas. A doença deixou de ser problemática no primeiro mundo - apesar do aparecimento de novas estirpes ultrarresistentes -, o número de pessoas infetadas baixou de forma drástica, e ficou acantonada a comunidades pobres e com recursos insuficientes para adquirir novos produtos. Este problema começa a preocupar as autoridades que, assim, se veem impossibilitadas de lutar e tratar velhas e novas doenças. Trata-se de um grave problema de saúde pública que vai obrigar à tomada de iniciativas no sentido de se investigar e obter novos produtos, porque o mundo é cada vez mais pequeno, mais interativo e mais perigoso. Na prática, os grandes laboratórios, historicamente responsáveis pela produção de novos fármacos, continuam a assobiar para o lado, investindo mais nas doenças cardiovasculares e nas neoplasias, certos de que poderão obter proventos enormes, já que atingem mais pessoas e cujos  recursos  fazem inveja aos povos subdesenvolvidos, que sofrem, também, das mesmas doenças que nós, ocidentais, além de continuarem a sofrer os horrores de velhas e novas doenças emergentes.
Solução? Há uma que começa a ser desenhada. As autoridades dos diferentes países deveriam criar prémios chorudos, nos quais estariam contemplados os investimentos da investigação, além de um generoso equivalente ao retorno comercial, e ficarem com os direitos exclusivos desses produtos com os quais fariam frente aos problemas de saúde emergentes, propiciando os meios terapêuticos adequados a todos os povos, independentemente do seu nível económico. Esta seria a forma mais adequada de resolver a falta de investimento em medicamentos contra determinadas doenças, caso do "Ébola" e da velha tuberculose, porque para a hipertensão e a hipercolesterolemia já temos mais do que suficientes.

3 comentários:

  1. É bem verdade, tanto quanto sei os surtos de ébola são cíclicos, embora só agora se contabilizem os mortos e os doentes até à unidade e se façam projecções catastróficas se não se contiver o contágio. A facilidade das deslocações fazem soar os alarmes logo se deixará de falar da doença quando se conseguir controlar as fronteiras ou quando, esperemos que assim seja, o surto esmoreça por si...

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  2. Dr. Massano,

    Não sei até que ponto é que este imensamente badalado surto do ébola não pretenderá exatamente isso: criar o pânico e dar a ganhar milhares de milhões às indústrias farmacêuticas, como tem acontecido ultimamente.

    Estou-me a lembrar da gripe suína e da gripe das aves (e da doença das vacas loucas) - ninguém morria mas era, como tem acontecido nos últimos tempos, a primeira notícia dos telejornais de todo o mundo:

    1 - “Um chinês acordou mal disposto depois de ter beijado uma galinha na boca (e ter ingurgitado cinco litros de saqué com soporíferos).

    2 – Um ganso, algures na Ásia, apareceu morto sem motivo aparente. A OMS tem a certeza de que foi a GRIPE…

    3 – Um indiano, que, supostamente, sofria da gripe das aves, morreu depois de se espetar a 200 km/h no Ferrari do pai.

    4 – Prostituta, que sofria da gripe suína, morre depois de ser brutalmente esfaqueada pelo respectivo proxeneta…

    Etc.


    Abraço

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    1. Não vai dar lucros à indústria farmacêutica. A história deste vírus e de muitos outros é bem conhecida. Tratar uma doença episódica não é convidativo a grandes investimentos. Este vírus tem uma particularidade é extremamente letal e por isso autolimita-se. No entanto se se tornar menos letal então é que o problema poderá ser mesmo muito grave. Há dados que sugerem uma diminuição da letalidade, menos mortes mais possibilidade de poder transmitir-se. Até os vírus lutam pela sobrevivência.

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