terça-feira, 30 de setembro de 2014

Politiquês

Nas leituras da manhã encontrei este texto publicado na edição de hoje do El País. Não se trata de uma abordagem profunda, mas chama à reflexão a questão de saber se a neolinguagem dos políticos não é em si mesma um dos factores que gera a opacidade de que muitos se queixam em relação à vida política. 
O hermetismo, o discurso circular, a falta de clareza da palavra não foram referidos ontem no Prós e Contras da RTP1 que andou em redor do desconsolo coletivo com o estado da democracia que temos. Pelo contrário, as intervenções, designadamente as de quem se apresentou como portador de novas ideias e velhas queixas para a partir delas lançar a fundação de novos partidos, movimentos ou grupos, revelaram elas mesmo como a linguagem é refúgio quando devia ser veículo de transmissão de ideias, sem reservas ou barreiras. Com exceção da clareza de Nuno Melo e de Fátima Campos Ferreira, há que o destacar.

3 comentários:

  1. Bom, os intervenientes ontem da plateia também não conseguiram ser minimamente claros, aquilo dava ali tantas voltas e voltas que quando se davam conta já não sabiam para o que iam, então aquela professora muito empertigada até me provocou vergonha alheia. É curioso que ninguém tenha citado Antero de Quental, ou sequer promover um debate franco sobre o facto do português ser natural e essencialmente perturbador da ética e da moral no seu dia-a-dia - não quer saber dela e não lhe dá o devido valor, a sua sobrevivência é muito mais importante que isso tudo.
    A diferença do português comum para o português político é apenas o grau de mediatização, da cobiça e dos jogos de poder que acabam por destapar pormenores da sua vida, que no comum acabam por ser apenas escrutinados pelos mais próximos.
    Julgo que a juntar a isso, falhou claramente a reflexão sobre a tendência actual de julgar mais pelo que se fez na esfera privada do que se faz na esfera publica, muitos dos políticos que hoje admiramos e até temos como exemplos, sobretudo quando denunciamos a ausência de carisma nos actuais, tinham tantos ou mais rabos presos que os de agora. Convém referir que os meios são hoje muito mais e a informação disponível também, sendo facilmente e ao alcance de qualquer um, cruzar informação, documentar, denunciar o que quer que seja e expo-lo em múltiplos canais.

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  2. Há dias perguntaram ao Ricardo Araújo Pereira o que é que ele tinha achado sobre o debate entre Costa e Seguro.

    O ricardo disse que há uns tempos tinha feito um sketch em que conseguiu estar um minuto e vinte segundos a falar sem dizer rigorosamente nada. E continuou "Costa e Seguro conseguiram estar a falar 35 minutos cada um…".

    Ou seja, cada vez mais gente se apercebe que o discurso ou o comentário político se destina exclusivamente a entorpecer e a baralhar.

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  3. Desta vez não tive paciência para o pros e contras, pelos vistos ainda bem. É de facto extraordinário como a política se especializou na nova línguística, às vezes parece- me que é porque não sabem o significado das palavras e as usam à toa ( creio que muitas vezes é assim) outras porque jogam deliberadamente nas mensagens equívocas, para encher papel ou aparecer na televisão a dar ideia de que estão a tomar decisões relevantes. As organizações internacionais são especializadas na matéria, numa mímica de diplomacia que ridiculariza a diplomacia e as organizações.

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