Francisco não deixa de nos surpreender. Pela coragem dos diagnósticos simples e pela ousadia de apontar o caminho da razão através da palavra límpida, cristalina.
Hoje, o Parlamento Europeu deve ter ouvido uma das mensagens mais duras de ouvir naquela precisa sede, sobre a Europa que temos. "Uma Europa avó que já não é fecunda nem vivaz. Daí que os grandes ideais que inspiraram a Europa pareçam ter perdido a sua força de atração, em favor do tecnicismo burocrático das suas instituições", disse o Papa aos deputados. Disse mais, muito mais. Terá sido escutado? Tenho dúvidas.
É um discurso incorrecto e injusto.
ResponderEliminarPara além de não perceber as razões pela qual um parlamento que (diz) representar os povos europeus admite ter o líder de religioso de uma minoria a discursar em condições privilegiadas, devemos recordar que os seus antecessores se opuseram ao alargamento da união à Turquia porque violava o carácter cristão da construção europeia. Mais, se a Igreja Católica hoje não anda a queimar judeus e a dissecar muçulmanos, deve-se à Europa que a forçou a mudar, aos "tecnicismos burocráticos", e não à influência que ela teve na Europa.
Peço desculpa pelo comentário em sentido inverso, mas um parlamento europeu convidar um papa para falar é ofensivo à ideia da Europa da diversidade. Seja porque perspectiva for.
Amigo Cruz, o Papa, é o chefe do mais estado europeu mas, é talvez o mais preocupado e consciente, de todos os chefes dos estado europeus unidos. Aquilo que preocupa o Papa, é verificar que estão reunidas todas as mesmas condições que ocasionaram as duas anteriores guerras mundias.
ResponderEliminarAs preocupações do Papa, são as direções erradas que os governos europeus e as organizações políticas estão a tomar, conducentes a um ponto de não-retorno; o conflito à escala mundial, a destruição, a fome, a decadência, a derrocada daquilo que hoje resta de uma sociedade que ainda tem hipotese de encontrar o equilíbrio e se reestruturar, tendo como base valores simples mas nobres de igualdade e fraternidade.
O grande desafio que o Papa lança nesta intervenção no Conselho Europeu, é particularmente dirigido aos governos dos países e aos seus chefes. O Papa pede-lhes, em nome da paz, da concordia, da prosperidade, que derrubem as barreiras das desigualdes. Tenho a certeza que o conteúdo do discurso do Papa, não foi escutado pela primeira vez por todos a quem se dirigiu. Tenho a certeza, que todos compreenderam o significado e o alcance daquilo que o Papa disse, independentemente dos motivos que o meu Amigo Cruz evoca relativamente áos atos do passado contraditórios, da Igreja que o Papa chefia. Os tempos são outros,aquilo que ameaça a humanidade é o mesmo e ESTE Papa, encara os problemas de uma forma atual, no contexo e no tempo atuais e, faz o que está ao seu alcance para alertar e aconselhar que se evitem os males que estão iminentes. Se todos os chefes de estado decidirem adotar medidas e atitudes de acordo com as suas consciências, responsabilidades e deveres, estarão certamente a air ao encontro do espírito das palavras e das ideias proferidas pelo Papa Francisco. E isso será um enorme passo no sentido do progresso das relações entre os países e os povos de todo o mundo.
Muito Bem dito caro Bartolomeu.
ResponderEliminarCaro Bartolomeu, um chefe de estado de um país fora da UE. Mas o seu comentário resume tudo o que há de errado com a presença do Papa no PE. As direccoes da europa são realmente estranhas a este como a qualquer papa. Porque são decididas por uma agregação de vontades livres, no respeito da diversidade de idéias, de credos e raças. Chama-se democracia plural onde queimar pessoas por questões religiosas é proibido, onde condenar verdades cientificas é proibido porque aquilo que a europa obrigou a organização que o papa representa é a comportarem-se como seres humanos tolerantes às idéias, credos e racas dos outros e AINDA SE ESTÁ POR PROVAR que são capazes.
ResponderEliminarDaí este discurso ser incorrwcto e injusto. No dia, que parece distante, em que a igreja católica consiga chegar aos calcanhares de qualquer um dos membros da UE no respeito pelos direitos e vida humanas , o chefr da coisa que venha botar discurso sobre os progressos que os proprioa estão a fazer. Até lá, que olhe para dentro!
Pois foi precisamente por ter assumido a posição de «olhar para dentro» que o Papa, desde o início do seu pontificado, tem atacado com inegável eficiência, e sem alaridos, as chagas internas da Igreja. E essa questão de queimar ereges, é coisa da idade média, caro Cruz, tanto o meu amigo como eu, como o resto da Europa, vivemos uma era em que ainda se queimam, ainda se torturam e ainda se discriminam seres humanos por motivos religiosos mas esses atos já não são da responsabilidade da igreja católica nem do seu Chefe, a responsabilidade desses atos, cabe agora a grupos extremistas sobre os quais o Papa não exerce controle, nem dependem da sua autoridade. A igreja católica é uma mega multinacional com interesses de vária ordem que se estendem ao mundo inteiro. Não é de um dia para o outro que este Papa ou qualquer outro, por toda a força anímica, ou por toda fé que possua, pode alterar radical e definitivamente todos os males dessa mega multinacional. No entanto, é inegável que a sua ação tem ido inteiramente no sentido de emendar de reabilitar e actualizar a Igreja católica e a sua utilidade no seio das sociedades. E não podemos culpar o Papa Francisco, pelos erros passados da igreja. Se pensarmos dessa forma, não estaremos a dar oportunidade a nós próprios de entender a necessidade de harmonia e paz mundial.
ResponderEliminarJosé Mário
ResponderEliminarMuito bem assinalado este facto tão relevante. Ainda não sei como foi o acolhimento, mas a Europa precisa do Papa Francisco e de o escutar. A ida ao Parlamento Europeu foi uma escolha lógica e corajosa.
Caro Bartolomeu, quando o Vaticano enviava judeus romanos para serem processados pelas SS e quando reenviava responsáveis nazis para a América do Sul, já os meus pais eram vivos. A pressão diplomática para a não admissão da Turquia tem 10 anos. Coisa da idade média? Pois... Este papa é o maior. Tirando este, eram os outros todos. Mas curiosamente este é bom por fazer aquilo que os outros, que eram do mais santo que havia, não faziam. Afinal, eram santos e este é o diabo ou este é santo e os outros são o diabo? Isto para um ateu como eu faz muita confusão, meu caro.
ResponderEliminarQuanto ao resto, digo e mantenho. No dia em que a Igreja Católica possa vir apresentar os resultados que qualquer um dos países membros da UE conseguiu na promoção da liberdade, do conhecimento, da democracia, do bem estar, etc., boa parte delas conquistadas CONTRA a Igreja Católica, que apareça. Até lá poupe-nos aos discursos porque a Europa não leva lições disso, muito menos de quem vem.
Caro João Pires da Cruz:
ResponderEliminarConcordamos muitas vezes, eu consigo, o meu amigo comigo. Esta é a vez de discordar, e por completo.
Nem vou à questão substancial, nem à análise histórica, atendo apenas às contradições do seu primeiro comentário.
Começa por dizer que não compreende por que um líder de religioso de uma minoria discurse no Parlamento Europeu, e termina dizendo que "um parlamento europeu convidar um papa para falar é ofensivo à ideia da Europa da diversidade".
Ora o meu amigo não pode negar que as minorias são diversidade, pelo que não se compreende que a presença do líder de uma minoria atropele a diversidade. Antes, a afirma.
Por outro lado, e tendo em atenção que se trata do Parlamento Europeu, as nações aí representadas têm uma maioria de cidadãos que professam a religião católica de que Francisco é líder, pelo que, nesse contexto,o Papa não representa uma minoria.
De facto, e porque o meu amigo é habitualmente brilhante na maioria da argumentação, tenha ou não tenha razão, penso que hoje teve um momento menos feliz. Toca a todos...
E muitos parabéns pelo seu recente doutoramento: phisics in economics, was`nt it?
Acontece que religião tem mais a ver com metaphisics...
Deixe-me ressalvar, meu Amigo Cruz - sem pretender ser juíz das suas convicções - que não me parece nada que seja ateu mas sim, agnóstico. É que na minha interpretação dos seus comentários, o João acredita. Acredita em fantasmas, mas acredita, no entanto, declara o espírito humano para conhecer o absoluto. Não sei porque reduz a existência do Papa francisco, na Igreja a uma equação de dois membros; nazismo e santidade. Na minha opinião, sem que tenha chegado ao absoluto - neste contexto - acho que a vontade do Papa e a sua ação Cristã estão já a "n" anos-luz desses dois pressupostos. A mente humana, porque ainda está ancorada em valores excessivamente materiais, não conseguiu ainda iniciar a marcha, no sentido de acompanhar aquela de Francisco, que já atingiu a velocidade cruzeiro, rumo ao absoluto. Em vários momentos da História da Humanidade, surgiram Homens como Francisco, à frente no seu tempo, que como ele se viram confrontados com a incapacidade humana para "ver".
ResponderEliminarMeu caro João Pires da Cruz, admitamos que sim, que o Papa ali esteve como líder de uma minoria religiosa. Por que bulas não deveria o PE recebê-lo e ouvi-lo já que o pode fazer e faz com outros lideres ou portadores de opinião ou de ciência que interessam naturalmente à Europa ali representada? Não o fez, por exemplo, com Dalai Lama com aplauso quase geral (e o significativo protesto da RPC)?
ResponderEliminarAinda tentei ver na argumentação que usou no comentário ao post e nas respostas a Bartolomeu, alguma ponta da sua habitual e muito saudável ironia. Não achei nenhuma. Por isso, estou com Pinho Cardão quando considera que foi um momento menos bom da sua parte, que toca a todos.
Não o considero, portanto, possuído pelo demónio, nem creio que seja caso para lhe decretar qualquer penitência expiatória. Creio que a medida adequada à sua falta deverá será a apresentação periódica e obrigatória perante as intervenções de Francisco. Tanto basta para a sua completa regeneração...
Um apontamento final a propósito da chamada à colação dos lados negros da história da Igreja Católica. Naturalmente não para os negar, mas para recordar que a instituição, como por definição todas as instituições, é composta de homens como você e eu (eu, advogado, muito mais pecador que o físico-doutor, por natureza e opção). Homens capazes de se glorificarem pelo comportamento, capazes também das maiores misérias cometidas contra si próprios e contra os seus semelhantes. Porém, nada do que a Igreja fez de mal pode obnubilar a referência ética dos valores em que assenta ou abalar os princípios morais pelos quais se ergueu que continuam válidos e universais. Mesmo quando são contrariados pela prática de muitos clérigos e pelos desvios de muitos dos fiéis.
Mas sublinho que este Papa, com as fraquezas e pecados que espero que tenha - pois não acredito nem confio em que se assume com dimensão divina ou a caminho da santidade - não pode ser acusado de esconder-se na mensagem ou mesmo em mistérios da fé. Pelo contrário, cada vez revela mais a sua humanidade, e através dela o que é da razão. Mesmo que não cumpra a penitência que prescrevi, leia pelo menos o discurso proferido em Estrasburgo, meu caro João Cruz. E vai ver que não discordará do que despretensiosamente anotei.
Caro Zé Mário
ResponderEliminarEstou a lembrar-me nas esperanças que todo o mundo acalentava em Obama antes da sua eleição. Talvez por ter vivido quase dois anos nesse país, não acreditei que o novo presidente conseguisse mudanças de vulto. Os EUA têm demasiadas forças ocultas e ele sabe muito bem que não pode ir longe de mais.
No tocante ao líder da Igreja católica, como sou indiferente às questões de fé, não me sinto fascinado põe ele. Parece-me um homem bem intencionado, forte e capaz, mas não vou além disso.
Penso que, tal como nos EUA, o Vaticano também tem forças ocultas que eventualmente impedirão grandes mudanças. Mais ainda, enquanto as mulheres não tiverem acesso ao sacerdócio em igualdade com os homens, não acredito que venham aí remodelações de fundo.
Quanto à sua presença no parlamento europeu, não me incomodou nada.
Na minha opinião, o discurso do Papa Francisco constitui uma pedrada no charco da indiferença e moleza quanto a um ponto que cada vez me parece mais fundamental em face do momento de crise que a Europa vive já há umas décadas.
ResponderEliminarNão me refiro apenas à crise do vil metal - e à falta dele para uns e ao excesso para outros; refiro-me ao facto dos valores que são próprios da Europa há séculos e que encimaram o desenvolvimento de muitas outras sociedades fora deste Continente - reconhecimento do Transcendente e dos seus valores espirituais como algo próprio do Homem, valores da liberdade, igualdade, fraternidade/solidariedade com os outros, tolerância, submissão da economia ao interesse comum, rejeição das tiranias - terem sido postos em segundo plano e terem em alguns casos sido substituídos por critérios tecnicistas - quer sejam de austeridade ou de empenho no investimento publico.
Isto teve o seu curso enquanto deu para todos: No entanto, os bens são escassos e as necessidades são múltiplas e insaciáveis - e este drama da economia conduz ao drama da sociedade ocidental - o que e como fazer em face destes abalos económicos e sociais e quando não se tem sequer a sabedoria de descobrir a origem do problema e a solução para o mesmo?
A Igreja não tem de dar resposta aos problemas técnicos do momento - isso fá-lo-ão os técnicos. Mas a uma instituição como a Igreja, que está na base da civilização ocidental e dos seus valores acima referidos, cabe dar os parâmetros das atitudes e ser a voz universal - juntamente com muitos outros felizmente - do desconforto, mas também da esperança na humanidade.
Já ultrapassei há muito os complexos da perseguição e das frases repetidas com a afetividade do tempo dos calções - inquisição, judeus, anticonceptivos, etc ... - e por isso é com satisfação que uma instituição com muitos erros e falhas - os documentos da Igreja chegam a qualificar a Igreja, em latim claro - com a casta meretriz - me continua a surpreender. Bem haja Papa Francisco.
Caro Ferreira de Almeida:
ResponderEliminarPor lamentável lapso, não referi no meu comrentário anterior quanto considerei excelente o post do meu amigo.
Pelo que agora aproveito para o salientar, bem como a qualidade da resposta ao nosso João Pires da Cruz.
Caro João Pires da Cruz:
Estou certo de que, se o Papa Francisco conhecesse os seus comentários, seria o primeiro a telefonar-lhe, procuraria compreender a total indisposição e, mesmo, agonia, em que fica quando se fala de religião, trocariam ideias sobre religião e ciência, convidá-lo-ia mesmo para uma estadia na Casa de Santa Marta, como se sabe, a residência do Papa. E até seria capaz de lhe dar uma indulgência provisória, condicionada a uma promessa de, agora doutorado em física, se abalançar ao estudo da metafísica, onde as religiões se inserem e poderão ser compreendidas, sem qualquer conflito com a ciência.
E estou certo de que o espírito iconoclasta, mas democrático, do JPC aceitaria o desafio.
Penso eu de que...
Caro Bartolomeu:
Gostei dos seus comentários.
Caros, eu não tenho QQ indisposição com o papa nem o meu problema é religioso. O Papa não defende a liberdade de credo. Ele defende, por natureza, a liberdade do seu credo. A liberdade de qualquer credo é um direito fundamental em qualquer país ra UE e não só. Por isso, a ida do papa ao PE é tão aceitável como a ida de qualquer outro líder de uma organização que defenda o seu credo. Ou a sua raça. Ou o seu gênero. Ou a sua classe social. Ou.... Eu compreendo que exista do vosso lado um bias na análise e espero que não achem que sou um ateu religioso, que não sou. Mas só há umaaneira de defender a liberdade de credo e essa maneira é não defender nenhum credo.
ResponderEliminarCaro Pinho Cardão, primeiro obrigado. Depois, tenho o padre Francisco como um sujeito de inteligência e cultura superlativas. Perante a hipótese de poder discutir com ele eu iria a correr. Mas nada muda a minga convicção que os interesses da igreja não são, nem tem que ser, compatíveis com os interesses da democracia pluralista.
Caro JMFA, eu compreendo o seu ponto. Mas não acho que a igreja possa dar lições do que quer que seja à Europa, muito menos nos pontos referidos. A posição da igreja sobre todos os pontos que lhe interesse a ela é sujeita a sufrágios vários em todos os paises da união, em todos ela pode coloca-los até com privilégios excessivos. Se não são levadas em conta é porque as pessoas democraticamente não querem. PPR isso digo que o discurso alem de incorrecto é injusto.