quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Os capatazes

Aqui há uns anos, num dos vários jantares com empresários organizado pelo banco em que trabalhava, encontrei o jovem herdeiro do dono de uma grande empresa que, entre meias palavras, me foi dando a entender que, no fundo, no fundo, considerava os trabalhadores da sua empresa como um mero custo, se bem que “alguns se pagassem a si próprios”. Recomendei-lhe então os despedisse a todos e então, sem trabalhadores, ele teria um manancial de lucros que nunca mais acabava…
Por estes dias, um aguerrido dirigente de uma sociedade anónima desportiva veio a considerar indignos dos sócios os atletas que perderam um jogo de futebol. O mesmíssimo dirigente que acompanhava os jogadores a receber os aplausos do público nos momentos de vitória. No fundo, a vitória era dele, a derrota é responsabilidade dos atletas.
De uma forma ou de outra, ainda vai subsistindo entre muitos capatazes promovidos a dirigentes empresariais um estado de espírito que vê nos trabalhadores apenas o instrumento de lucro para o acionista, financeiro ou traduzido em vitórias sobre a concorrência. Em caso de vitória, os capatazes surgem a colher o fruto do aplauso; mas, em ocasião de fracasso, vá de atribuir as causas aos trabalhadores, até como forma de se desculparem junto dos accionistas e mostrar-lhes a excelência da liderança.  
No fundo, o que eles mostram é a sua absoluta falta de capacidade para o cargo e, com tanta desfaçatez que até a exibem publicamente como troféu. Na sua ignorância básica, pensam que assim obtêm o apoio dos accionistas e o empenho acrescido dos trabalhadores.
Eles nem em sonhos são capazes de pensar que sem trabalhadores tratados de forma digna e motivados não há empresa que resista.  Porque trabalhadores  tratados como meros custos seguramente tendem a actuar como tal. E é bem feito!
Nota: O jovem gestor de que falei no início do post teve a hombridade de me falar dois dias depois do mencionado jantar a dizer que tinha percebido a mensagem e que “agradecia a lição recebida”, palavras textuais. Hoje, a empresa continua próspera e com trabalhadores… 

6 comentários:

  1. «... sem trabalhadores tratados de forma digna e motivados não há empresa que resista.»
    O desfecho do caso que o caro Dr. Pinho Cardão relata não é, infelizmente, comum aos da maioria que compõem o universo empresarial do nosso país. O jovem empresário que refere, teve o bom senso de escutar, reflectir e perceber a hironia que envolvia o proveitoso conselho.
    Diz o ditado que é necessário possuir-se alguma inteligência para que possamos reconhecer a própria estupidez.
    Este jovem empresário, teve essa inteligência, em troca, recebeu os benefícios da prosperidade.

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  2. Dr. Pinho Cardão
    Há ainda muitos "donos" de empresas que tratam os trabalhadores como custos. Não são gestores, não investem na relação da empresa com os trabalhadores. O resultado é uma perda de capital humano com consequências muito negativas a vários níveis. A economia também é atingida por esta cultura.

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  3. V.Exª refere-se ao Presidente do Sporting que neste momento não me recordo do seu nome.
    Antes do jogo com o Guimarães este dirigente muito ufano, gabaroso e vaidoso, falava que nem um Rei sem trono. Se tivesse alguma vergonha coibía-se de fazer prognósticos antes dos jogos.

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  4. Caros Bartolomeu e Margarida:
    As coisas têm vindo a melhorar e continuarão a melhorar. No fundo, é uma questão de inteligência.

    Caro opjj_
    minha excelência? Nem por isso, caro opjj...nem por isso...

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  5. Caro Pinho Cardão infelizmente é essa a mentalidade de muitos "gestores" (pretensos gestores, claro, só lhes copiam o nome do cargo e com isso se contentam) sejam públicos ou privados, o problemas sáo os aplausos que recebem quando anunciam publicamente que o problema sáo os trabalhadores, esses ingratos que não merecem quem tem o poder de os comandar. Devia estar escrito em cartazes a frase de Camões que um rei fraco torna fracas as fortes gentes.

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  6. Nani soube dar a resposta: "quem não sabe ganhar também não sabe perder", ou vice-versa!

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