Digam o que disserem, é ainda a palavra do Presidente da República a escutada pela maioria dos portugueses. Na habitual mensagem de mudança de ano, o PR é normalmente contido no discurso, ainda que se perceba que a intensidade é determinada pela posição institucional do Chefe do Estado. Compreendo, pois, que o Prof. Cavaco Silva transmita menos do que queira, transmita diferente do que será porventura a sua convicção de político experimentado, ou que transmita o que quer transmitir no tom imposto pelas funções que exerce. Ouço sempre o PR tomando em consideração estas condicionantes que se colocam a quem sei que não é inteiramente livre de dizer o que pensa.
Na última mensagem presidencial entendeu o Prof. Cavaco Silva referir-se a um tema que poderia ter contornado (como têm feito as principais figuras do Estado) e fez uma afirmação banal. Banal, tornou-se a afirmação de que "os partidos políticos são essenciais para a qualidade da democracia e para a expressão do pluralismo de opiniões". Ninguém contestará que assim é, em tese, nas sociedades que escolheram a democracia representativa como modelo político. Esta afirmação é feita no contexto da condenação do populismo, dizendo que "devemos recusar o populismo e fazer um esforço de pedagogia democrática". Ora, a meu ver a conjugação da quase banalidade com o apelo ao combate ao populismo crescente faz fracassar o discurso. E faz fracassar o discurso porque ignora que na raiz dos populismos (orgânicos e inorgânicos) estão justamente os partidos políticos que temos. Quer pelas derivas demagógicas que fomentam no seu seio, quer pelo descrédito feito de tudo quanto de negativo se aponta à sua ação e à conduta dos seus dirigentes.
Sei bem que, demonstrando consciência disso, o PR também disse que "esse esforço de pedagogia democrática só pode ser feito através da força do exemplo"; que "os partidos e os agentes políticos têm de demonstrar, pela sua conduta, que são um exemplo de transparência, de responsabilidade e de civismo para os Portugueses". Mesmo descontando os condicionalismos que se colocam à exteriorização do pensamento do PR, distancio-me desta fé na república que temos, já que se trata de visão descolada da realidade e os portugueses merecem que não seja a virtualidade a comandar o discurso das principais figuras do Estado. Ora, a realidade demonstra impiedosamente que, com os atuais partidos políticos, diria mesmo, com o atual sistema partidário, não é possível suster o compreensível descrédito das formações partidárias, a compreensível falta de confiança pública no que propõem os seus dirigentes, nem tão pouco recuperar o prestígio perdido das instituições representativas.
Aníbal Cavaco Silva tem um dom. O dom de nunca dizer nada de jeito. Ou arma um festival por causa de uma banalidade qualquer, ou fala daquilo que um presidente da república (ou guardião da constituição, se não formos republicanos) nunca deveria falar. Falar sobre partidos políticos seria a última coisa que deveria fazer. São dois mandatos caracterizados pela tragédia (da falência), pela insolência (de se tentar sobrepôr à vontade do soberano) e pelo ridículo.
ResponderEliminarNão acho que a maioria dos portugueses ainda ouça as mensagens dele. Este "acho" prende-se com o facto de não ter acesso aos números da operadoras de televisão, mas como as marcas que fazem publicidade por volta dessa hora já são as mesmas das revistas femininas dá para fazer um "marked-to-market" das audiências, não devem passar dos 10%. Na verdade, a mensagem de ano novo do PR deve ser ouvida por um terço daqueles que ouve a mensagem semanal do Marcelo, o que em si já é relevante.
Quanto ao tema de fundo, não acho que seja possível mudar grande coisa sem se mudar a organização da democracia. Mesmo quando há uma movimentação qualquer para mudar as coisas, (do PRD ao "NÓS, os cidadãos") vai tudo cair na mesma coisa porque os objectivos são os mesmos. Com a falência do(s) estado(s) e normal transferência de competências para Bruxelas, pode ser que com os poderes que se concentrarem nos municípios as coisas mudem substancialmente.
Parece que as pessoas vivem na Lua. Cavaco Silva não podia fazer um discurso destrutivo.Ele não governa e desde Sócrates fez avisos que não foram ouvidos.
ResponderEliminarÉ fácil achar um bode expiatório.Só agora depois do PECK 4 é que reclamam mais pensão e mais salário.Tudo era fácil mendigando empréstimos.
Se António Costa ganhar já pode dar tudo a todos.
Ainda aparece gente a reclamar o subsídio de Natal com impropérios de ladrões, quando na verdade há 2 anos que ele está a ser dado em duodécimos.
Preocupo-me mais com quem oferece do aqueles que não oferecem.
Assisti a uma entrevista do Paulo Futre onde ele explicava que a decisão de falar na contratação do jogador chinês foi tomada de improviso pelo facto de na véspera o PM Socrates ter-se demitido, facto que concentrou a atenção da comunicação Social. Na sequência desse facto, Paulo Futre decidiu apresentar uma ideia "bombástica" capaz de catalizar a atenção dos midia. Na verdade, a "alegoria" do 20º jogador não durou tanto como a dos charter mas, a do "sócio" tornou-se viral e - Paulo Futre assegurava nessa entrevista que ainda hoje, na rua, ha pessoas que se lhe dirigem exclamando; Sócio!!!
ResponderEliminarSerá que alguém, um dia, possa ser chamado na rua por "pedagogo"?
Não, caro Cruz; não escrevi demagogo, foi mesmo, pe da go go!
Espero que não, caro Bartolomeu. O tempo daqueles que achavam que ensinavam o povo ignaro que não sabe o que faz já quase acabou, já só falta este.
ResponderEliminarAinda está muito fresca esta: o BES é sólido. Quem está interessado em ouvi-lo?
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