Estão encerradas contas externas de 2014 e, como
se esperava, foram apurados excedentes bastante confortáveis, tanto das
Balanças Corrente+ Capital, de € 3.608 milhões (2,1% PIB), como das
Balanças de Bens+ Serviços, de € 1.981,6 milhões (1,15% do PIB).
No entanto, em qualquer dos casos, estes saldos são
claramente inferiores aos verificados em 2013: menos 30% no saldo
Corrente+ Capital e menos 32,9% no saldo Bens+Serviços.
Se no caso das Balanças Bens+Serviços o resultado
não se afasta muito do esperado (embora tenha causado enorme consternação
como referi em Post anterior), já no caso das Balanças Corrente+Capital o
saldo final fica bastante aquém do esperado - curiosamente o próprio BdeP
no seu Boletim de Inverno, há poucas semanas, ainda previa um saldo
equivalente a 2,6% do PIB e agora temos qualquer coisa como € 800 milhões
aquém disso…
É realmente surpreendente que, em apenas um mês,
o saldo Corrente+ Capital tenha passado de um valor acumulado que superava
o do mesmo período de 2013 em 13,3% (dados do final de Novembro), para um
valor acumulado que fica 30% abaixo do de 2013…
Como explicar?
A explicação encontra-se, curiosamente, no
comportamento da rubrica de “Rendimento Primário” e, dentro desta, da
sub-rúbrica “Rendimento de Investimento Directo Estrangeiro”: enquanto, em 2013, o valor acumulado do saldo desta rúbrica
passou de - € 1.078,8 milhões até Novembro para -€ 145 milhões no final do
ano – ou seja uma recuperação de € 933,8 milhões – em 2014 não só não
houve recuperação, na transição Nov/Dez como se registou mesmo um
agravamento de quase € 260 milhões…
Apura-se assim, em termos diferenciais, um
agravamento de € 1.194 milhões (€ 933,8 milhões+€ 260 milhões) entre o final de 2013 e o
final de 2014. Este agravamento, se adicionado à queda do superavit da
Balança de Capital (menos € 200 milhões em 2014), perfaz quase os tais 30%
a menos no superavit Corrente+Capital.
Moral da história? Lembrar-nos que o IDE é
sempre muito bonito e festejado, aquando do “inflow” (e dos efeitos
induzidos sobre a economia quando implica novo capital produtivo e/ou
melhoria na gestão dos recursos) – mas não nos podemos esquecer que depois
do “inflow” vêm os “outflows” da distribuição do rendimento, e que esses “outflows”
podem ter, como tiveram neste caso, uma influência relevante no desempenho
das contas com o exterior…
Um bom tema para os nossos estimadíssimos Crescimentistas
glosarem com a sua proverbial sabedoria e imaginação, admito que pretendam sugerir uma
política de forte atracção de IDE tendo como base um compromisso prévio de
não repatriação de rendimentos…
Caro Tavares Moreira, por isso há uma grande diferença entre o investimento estrangeiro que este governo ao serviço dos especuladores da economia de casino preconiza e aquele investimento estrangeiro que interessa e que defendem as forças progressistas. Nós não queremos cá investidores abutres que só metem cá dinheiro para ganhar, nós procuramos aqueles que investem de facto no país, nos operários e trabalhadores agrícolas, nos pequenos empresários e intelectuais progressistas e não aqueles que procuram o lucro fácil da exploração do capital. Desses não. Por isso, só investidores que invistam de forma permanente e que não esperem receber dinheiro em troca. Esses sim são os investidores que interessam.
ResponderEliminarQuanto aos números, já se sabe há muito tempo que isso é da venda dos ouros...
Caro JPC:
ResponderEliminarQuem diria, o meu amigo a defender investimento público, aquele que corresponde exactamente ao que refere...
Meu caro Pinho Cardão, temos que retomar o investimento público para fomentar a criação de emprego e riqueza, como aquele senhor careca grego diz. Veja lá o que aconteceu desde que este governo fomentador de crises humanitárias lá está? Caiu o BES, caiu a PT, a SIC está às portas da morte, já não se fazem postes de eólicas, ... estamos todos cada vez mais pobres é o que é!
ResponderEliminarJPC vai-me desculpar, mas quem é que escolheria os investidores? O JPC ía por esse mundo fora e escolhia as empresas a investirem em Agricultura? mas...quem escolhe é quem tem dinheiro! Já agora Defina-me investidores. Investidor quer um retorno? Se quer para onde irá esse retorno? Se é estrangeiro o retorno sai de portugal? Se o retorno sair o resultado final não será o mesmo? Haverá algum investidor que investe sem retorno? O JPC é empresário não quer retorno pelo seu investimento/risco? Aconselho seriamente a falar com um pouco de pensamento estruturado, e a não dizer soundbites que nas palavas do PPC traduzidas para português corrente "paleio pra boi dormir" (o chamado conto de crianças)
ResponderEliminarO preocupante em tudo isto é que as pessoas levam a sério quando se faz um comentário "copiado" de um discurso que poderia ser do Louçã ou do Costa. Estava a ser irônico em resposta ao ponto 9 onde o autor também estava a ser irônico...
ResponderEliminarJPC - Peço desculpa
ResponderEliminarCaro Pires da Cruz,
ResponderEliminarDevo dizer-lhe que o entendi bem, mas o Senhor omitiu um dado que teria conferido maior clareza ao seu irónico depoimento: mencionar o Europarque, em Sta Maria da Feira, como um magnífico exemplo do investimento de verdadeira qualidade, que mais promove o crescimento, e que agora, felizmente, está a cair nas mãos do Estado (que teve também de assumir as enormes dívidas acumuladas pelo dito).
Esta grandioso projecto, finalmente nas mãos do Estado, apresenta diversas virtudes:(i) suporta despesas de exploração muito superiores às receitas que é capaz de gerar (virtude da generosidade), (ii) tem um rol infindável de dívidas, nomeadamente financeiras, que não consegue cumprir (virtude da inadimplência), (iii) vai obrigar, para não ficar desfigurado, a despesas de conservação muito elevadas nos próximos anos (virtude da promoção do crescimento).
Creio que deverá ser exibido em próximas campanhas de atracção de IDE, constituindo um poderoso argumento de venda ...
Podem fazer como fizeram com uma instituição de crédito conhecida em que, para atraírem compradores estrangeiros, encheram-na de crédito mau de outra instituição de crédito de tal forma que o valor final era quase 10 vezes mais negativo. Um argumento de venda como este é dificilmente superável, pelo que podem fazer um pacote que junta o Europarque, o Pavilhão de Portugal e todo o T2 nos arrabaldes de Gaia que esteja na carteira da CGD de forma a tornar o investimento mais atractivo. Para o investimento que interessa, claro...
ResponderEliminarCaro João Pires da Cruz,
ResponderEliminarNo exemplo que refere, restará acrescentar que a Atracção de IE teve carácter quase Fatal, como naquele filme magnífico com o Michael Douglas...
Quanto ao pacote que sugere, só lhe falta juntar alguns NPL's bem selecionados (de preferência definitiva e irremediavelmente incobráveis), para termos a oferta perfeita e perfeitamente irrecusável por IE que decidam racionalmente.
O Governo poderia incumbir o CES da honrosa missão de colocar esse "pacote" no mercado, seria até um "upgrade nas funções, apesar de já tão relevantes, da Instituição.