"A miséria só não dói na boca dos outros. Por isso escapamos dela em silêncio. Também por isso, e se as pessoas é que contam, a pobreza jamais deveria ser politicamente instrumentalizada, por vezes a roçar o boçal".
Não conheço Gabriel Mithá Ribeiro. Nunca o tinha lido. Mas, independentemente de algumas discordâncias com afirmações que faz, tem o meu profundo respeito.
Já somos dois, caro Dr. José Mário; também não conheço o autor e, também nunca o li. Discordo, em parte, da generalização que faz nos dois primeiros parágrafos; concordo com a denúncia que faz no terceiro. Acrescento que qualquer intrumentalização é de vil caráter, sobretudo se visar a miséria para quemuitos são compulsivamente atirados e à qual, outros, não conseguem escapar.
ResponderEliminarMuito interessante o texto do Sr. e...muito verdadeiro, se é que o é.
ResponderEliminarAs contas mensais que apresenta, fazem-me lembrar as declarações do Sr. Presidente da República quando disse que, com os cortes, a reforma não lhe dava para as despesas obrigatórias. Esqueceu-se de dizer o resto.
Com 1.495 Euros,tem plano de poupança reforma e um filho em colégio de 500 Euros mensais?
Pergunto: come? bebe um café diário? desloca-se em transporte público (impossível ter carro e dinheiro para combustível) ou é um pedestre convicto? paga água, luz e gás? etc. etc. etc.
Pois bem o Sr. não disse tudo, nem da missa metade. Há nele, bem visível, uma egocêntrica vaidade pelo percurso académico que, com dedicação e esforço, isso reconheço e louvo, conseguiu. Ficava-lhe bem e credibilizava-o não o exibir.
Dou-lhe no entanto OS MEUS PARABÉNS pelos dois últimos parágrafos.
Se a mulher ganhar o mesmo, dá e sobra.
ResponderEliminarCaro Pires da Cruz, CONFIRMA-SE...não disse tudo.
ResponderEliminarAtendendo que daquela lista há quem apresente IRS de 500 mil euros anuais, acho que o fundamental foi dito... E ele confessa que os 500 euros estão acima do que ele pode pagar. Mas o resto é relativamente óbvio, recebe isso de bolsa pos-doc mais uns cobres do publico....
ResponderEliminarDeixo-vos abaixo uma lista das benesses que o Estado Social não pôs à disposição do Sr. Mithá Ribeiro (e das outras pessoas vindas de África), retirada de um comentário ao artigo deste senhor no Observador, da autoria de José Pedro Faria.
ResponderEliminarComo o Estado Social não lhe pôs à disposição essas benesses, ele deu corda aos sapatos e até tirou um doutoramento (caramba, mas logo haveria de ser nas inúteis Ciências Sociais que, ele próprio, tanto vilipendia, inutilidades com as quais até conseguiria obter uma bolsa da FCT), doutoramento em que defende a tese de que não houve colonialismo).
As voltas que o mundo tece.
E até tece viagens de donas de casa (pelo menos confessaram essa profissão nas fichas do HSBC de Genève) até à lavandaria Suíça lavar a roupa suja, não com corda que tenham dado aos sapatos mas na Easy Jet.
Outros ainda deram corda aos sapatos cá por casa: O Europarque, projecto da possante iniciativa privada, foi para ao regaço do Estado Social por 30 milhões. O sol quando brilha é para todos, não só para os preguiçosos do RSI, subsídios e desemprego e afins que não querem dar corda aos sapatos:
Vejam, finalmente, o que o Estado Social poderia ter feito e não fez pelo Sr. Mithá Ribeiro:
« Antes de 25-04-1974 existiam 2 núcleos de apoio a desalojados (Comissão Administrativa e de Assistência aos Desalojados e o Centro de Apoio aos Trabalhadores Ultramarinos). Perante o afluxo de retornados, foi criado mais um núcleo, o Grupo de Apoio aos Desalojados do Ultramar.
Posteriormente foi criado o Instituto de Apoio ao Retorno de Nacionais (IARN), em 1975, durante o Governo de Vasco Gonçalves.
O que fez o IARN:
– Montou estruturas e serviços de apoio aos retornados;
– Forneceu alojamentos;
– Atribuiu subsídios de família;
– Atribuiu bolsas de estudo;
– Atribuiu outros subsídios de diversas categorias;
– Ainda em 1975 foi criada a Secretaria de Estado dos Retornados, integrada no Ministério dos Assuntos Sociais.
Desde Janeiro de 1975 a Agosto de 1976 foram concedidos subsídios num valor próximo de 1 milhão de contos (um valor enorme para a época)
E o que mais fez o Governo da época:
– Alojou mais de 70.000 pessoas em cerca de 1.500 estabelecimentos com diárias reduzidas, gastando com isso 20 mil contos por dia;
– Apoiou largas dezenas de crianças e idosos sem família;
– Promoveu a colocação de quase 1000 crianças em instituições de assistência;
– Ajudou mais de 600 retornados deficientes com subsídios especiais;
– Criou o Quadro Geral de Adidos, com a finalidade de integrar dos ex-funcionários ultramarinos na Administração Pública;
– Concedeu adiantamentos a funcionários que se inscreveram naquele Quadro;
– Concedeu mais de 120.000 subsídios de desemprego a retornados, desembolsando o Estado português mais de 3 milhões de contos, uma verba elevadíssima para a época;
– Pagou mais de 300 mil contos de abonos de família a retornados e mais de 300 mil contos em outros subsídios;
– Concedeu a retornados mais de 4.000 bolsas para o ensino superior, e outros subsídios a estudantes, num valor total superior a 100 mil contos;
– Distribuiu mais de 500 mil peças de vestuário, centenas de camas e colchões aos retornados.
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Compete ainda referir que o apoio da Europa “solidária” foi quase nulo (por exemplo, a rica Noruega contribuiu com uns ridículos 4 mil contos, menos que a pobre Grécia, que nos ajudou bem mais, em dinheiro e bens).
Portugal acabou por ter que contrair um empréstimo junto do Conselho da Europa, no valor de 2.5 milhões de contos.
Portanto, os retornados, apesar da sua triste sina, não foram propriamente abandonados à sua sorte. Dentro das suas possibilidades, o Estado português da época foi bem solidário com eles.
Quem leia esta crónica até pode pensar que os retornados foram ostracizados ou rejeitados pela sociedade, ou ficaram sem qualquer apoio. Nada mais errado. Tomara que outros portugueses na época tivessem tido o apoio que os retornados tiveram»
O problema é que quem não viveu esses tempos acredita nas mentiras do manel silva. 90% dos retornados como a esquerda gostava de insultar, não recebeu um tostão do estado pré-falido pela mesma esquerda.
ResponderEliminarSr. Luís Barreiro:
ResponderEliminarJá a sua narrativa ideológico-fanática do tipo cassete (o PCP é que costuma reproduzir a mesma cassete em todas as circunstâncias) não é mentirosa nem fantasiosa.
Eu tenho familiares que vieram de Angola, sei do que falo.
E vivi esses tempos já suficientemente adulto para saber o que aconteceu.
E quanto à Esquerda, não há uma Esquerda, há várias esquerdas (assim como não há uma Direita, há várias direitas): quem salvou Portugal da bancarrota em 1977 foi uma das esquerdas, contra um mal que vinha de trás, com origem em 3 coisas principais:
1.ª - o atoleiro de África, onde uma da direitas nos atolou durante 13 anos, queimando anualmente mais de 40% do Orçamento do Estado, sem ter tido a visão de que as coisas não podiam continuar assim (o mundo tinha mudado após a Conferência de Bandung e a vaga de independências subsequentes). Depois toda a culpa da tragédia que aconteceu foi de quem teve de resolver a situação sem ter tempo para isso, quando quem o teve nada fez a não ser atear gasolina na fogueira;
2.ª – a crise do petróleo de 1973, que deu origem à célebre frase de Marcelo Caetano, «entrámos num período de vacas magras», que traduzia o arrefecimento da economia portuguesa após o excepcional crescimento dos anos 60;
3.ª – os efeitos do PREC, da responsabilidade de várias das esquerdas irresponsáveis que tivemos. Com a ajuda de uma das direitas trogloditas que queria o regresso ao passado, a qual incendiou o país de norte a sul, ajudando a criar um clima inimigo da paz e do crescimento.
Um pouco mais tarde, em 1983, foi também uma das várias esquerdas (com uma das várias direitas arrastada pelos cabelos, que logo roeu a corda assim que lhe cheirou a fundos europeus) que salvou de novo Portugal da bancarrota, depois de uma «brilhante» governação de duas direitas coligadas.
E foi também uma das várias esquerdas que teve a visão de pedir a adesão de Portugal à CEE, para normalizar de vez o país e acabar com as veleidades revolucionárias de certas esquerdas irresponsáveis.
Eu, para ser sincero, nem sei porque estou a perder inutilmente tempo a responder a uma pessoa que é useiro e vezeiro em pôr o debate no nível que o senhor o pôs mais uma vez.