Grécia: uma luz ao fundo do túnel?
- Na edição de ontem do F. Times
era dado grande destaque, de 1ª página, a uma notícia relativa à
periclitante situação das finanças públicas da Grécia, sob o título
“Athens raids public health coffers – desperate move to stay afloat…”.
- Trata-se, ao que parece, de mais
uma tentativa desesperada do Governo grego, que já há dias tinha “saqueado”
as contas bancárias da segurança social, para encontrar dinheiro que lhe
permita ir pagando as despesas com salários e pensões dos funcionários públicos…
- …no caso vertente, o facto de sacar
sobre as contas do SNS lá do sítio (e ao que parece tb sobre as contas do Metro de
Atenas, coitado) afigura-se uma ousadia cintilante
– desviar fundos destinados ao pagamento de cuidados de saúde para pagar
salários e pensões é qq coisa de surreal – e mostra que o grau de
perturbação dos estrategas do Governo grego é já muito considerável.
- Na mesma edição do FT, na página
12 (Lex column) encontra-se outra notícia, esta referente à situação
aflitiva em que se encontram os bancos gregos, ilustrada no facto de, nos
dois primeiros meses deste ano, terem sido feitos levantamentos de € 21,8
mil milhões dos depósitos de particulares e de empresas, só nos 4 maiores
bancos - 7 do Piraeus, 5,6 do Alpha, 5,0 do Eurobank e 4,2 do National Bank of Greece…
- …o que explica a necessidade de
sucessivas injecções de liquidez do BCE/Eurosistema na banca grega, via
linha de emergência (ELA), que já vai em qualquer coisa como € 87 mil milhões,
tendo o BCE adoptado, nas últimas semanas, uma prática de injecção de
liquidez a “conta-gotas”, para manter o sistema bancário grego a flutuar…mas
até quando, uma vez que o próprio BCE parece estar já a “ferver” com esta
situação?
- Não se inveja de todo a sorte
dos bancos gregos, cuja actividade nos últimos meses se tem concentrado: (i)
na compra (a contra-gosto, seguramente) de dívida pública grega (BT’s),
que mais ninguém parece disposto a comprar, mesmo a taxas muito elevadas
para esta conjuntura; e (ii) em satisfazer a fuga de depósitos por parte de
uma boa parte dos seus clientes…
- Começa-se a vislumbrar uma luz
ao fundo do túnel, para a Grécia…mas duvida-se que se trate de uma luz
branca, ou mesmo amarela…
Caro Tavares Moreira, tinha lido a notícia de ontem do FT sobre a rapinagem dos cofres do sistema de saúde e não pude deixar de ver a ironia da situação com humor negro.
ResponderEliminarUma gente que ganha eleições a prometer estado social para todos e mais alguns ir tirar dinheiro do serviço de saúde é algo que se aproxima do cúmulo da ironia.
Não sei se reparou, na mesma notícia, é também dito que tirar dinheiro do serviço de saúde era algo jamais visto anteriormente. Algo que só por si é demonstrativo do que por ali vai.
Conforme esperado é muito provavel que os Gregos ainda venham a sentir saudades dos tempos da famigerada austeridade.
O que é curioso é que os grandes apoiantes do Siriza em Portugal desapareceram num instante. Nunca mais se ouviram. Eles que até diziam que o governo que defendia Portugal estava em Atenas.
ResponderEliminarCaro Zuricher,
ResponderEliminarTanto quanto se percebe, a situação na Grécia está a caminho de um total impasse político: de cada vez que os responsáveis gregos chegam a Atenas, depois de mais uma ronda de promessas sobre medidas a tomar nas capitais europeias - e, em especial, em Bruxelas -, defrontam-se com a total impossibilidade de dar cumprimento ao supra prometido.
A Europa só tem de ter um pouco mais de paciência e esperar que a coligação de governo grega reconheça que não é capaz de aplicar um programa de governo e tire daí as necessárias conclusões.
Se isso levar muito tempo, a Grécia entra em incumprimento.
Caro Nuno,
É verdade que estão bem mais silenciosos e que se verificaram já significativas mudanças de tom: dou como exemplo a linha editorial do Público, que acompanho regularmente, a qual era de inicio totalmente alinhada com os Syrizas e agora se mostra já bastante céptica em relação à capacidade dos gregos para aplicarem uma política...
Já terão percebido, através de episódios como os aqui relatados, que as coisas podem mesmo vir correr mal, e, enquanto é tempo, tratam de ir mudando de campo.
É a vida, meu Caro.
Quando receberam a indemnização dos crime Nazis, estes zorbas desatam numa orgia danada e nem uma velinha e umas flores nos cemitérios às vitimas do Hitler.
ResponderEliminarSão uns loucos eternos, estes gregos.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarIsto é claramente o produto de uma política imperialista austeritarista imposta pelo fascismo financeiro da Sra Merkel que forçou o povo grego a sacrifícios adicionais negando-lhes o dinheiro a que tinham direito .. por direito. Se tivessem deixado o Varoufucks emitir livremente as obrigações perpétuas indexadas ao crescimento económico - essa versão sofisticada de eurobonds - como ele pretendia e o povo grego estava aí de vento em popa!
ResponderEliminarOutra coisa, onde andam os 74 ou lá quantos eram eles?
Caro septuagenário,
ResponderEliminarQue este saque sobre as contas do SNS revela um estado próximo da loucura, não nego, não senhor...
Caro Pires da Cruz,
Nem mais, e esse infame ataque às finanças gregas, perpetrado pelo imperialismo financeiro internacional, já nem desperta a solidariedade dos grupos de militantes da inadimplência em outros países do Euro, nomeadamente em Portugal...
Este Mundo está virado do avesso, meu Caro, é o salve-se quem puder!
Os gregos não precisam que lhes expliquem o significado do termo «democracia». No entanto, sobre eles chovem lições desde que colocaram no poder uma força de esquerda decidida a virar as costas às políticas de austeridade que os atormentam há seis anos. As admoestações partem de professores que sabem do que falam. Não impuseram eles tratados rejeitados pelo sufrágio popular, renegando os seus compromissos de campanha mal venceram as eleições? Agora eles opõem-se, numa prova de força, aos que procuram manter as promessas feitas e nas quais acreditam. Esta oposição será tanto mais dura quanto estes últimos podem transmitir a terceiros, até agora resignados à impotência, ideias de resistência. Para lá do destino da Grécia, este confronto compromete o da própria democracia europeia
ResponderEliminarEnquanto se aperta o garrote europeu e os mercados financeiros acentuam a pressão sobre o governo de Atenas, os termos do jogo tornam-se terrivelmente claros. A Grécia está submetida a um diktat. Em troca dos financiamentos de que precisa, tenta exigir-se que ela concretize de imediato uma avalancha de exigências dogmáticas e ineficazes, completamente contrárias ao programa do seu governo: reduzir uma vez mais as pensões e os salários, aumentar a taxa do imposto sobre o valor acrescentado (IVA), avançar com a privatização de catorze aeroportos, enfraquecer ainda mais o poder negocial dos sindicatos, e afectar excedentes orçamentais crescentes ao reembolso dos seus credores, apesar de a aflição social do seu povo ser imensa.
Serge Halim
O Carlos Sério não conhece um provérbio Português que nos ensina que "Quem paga, manda!"?
ResponderEliminarPois, é essa a questão toda.
Por outro lado, por mim o governo Grego até podia ter ganho as eleições a prometer oferecer um Rolls-Royce a cada cidadão. E, pela parte que me toca, até podiam faze-lo. Desde que não me apresentassem a factura. Como me apresentam a factura pois eu quero realmente ter um governo que me represente e que diga aos Gregos que já chega. Amanhem-se.
Caro Zuricher,
ResponderEliminarDeve merecer a nossa admiração este permanente desvelo em encontrar justificações para o injustificável (e explicações para o inexplicável) desempenho do governo helénico.
Aquilo é um caso de incompetência política básica, não precisa de nenhuma teoria da conspiração para se perceber que já não têm qq saída viável...
Ninguém os mandou prometer "sol na eira e chuva no nabal", ou seja continuar no Euro e ao mesmo tempo prescindir de todas as regras que são pressuposto dessa continuidade...
Agora andam de calças na mão, pois fazem promessas em Bruxelas - para ver se os parceiros do Euro se comovem e libertam verbas do Programa em vigor, que eles dizem rejeitar (!)- promessas que, quando regressados a Atenas, são forçados a entrar em soluços, gaguejando por todos os cantos, por evidente oposição dos radicais da coligação...
É absolutamente patético este espectáculo e, como se torna cada vez mais evidente, não pode acabar bem.