Thomas Picketty, a última grande descoberta dos Luso-Prosélitos
da Inadimplência, já sentenciou: “ A dívida (pública) portuguesa tem de
ser reestruturada; é tão simples quanto isso”.
Até agora conhecíamos propostas de reestruturação
da dívida, máxime a exuberante proposta do Grupo dos 74…embora pouco
felizes, na minha perspectiva, como aqui opinei, eram simples propostas, não tinham a pretensão de dar o assunto
por arrumado…
Mas agora estamos num patamar mais elevado, o da
determinação ou da cominação: a dívida TEM de ser reestruturada, ponto
final, não há mais discussão. Picketty ordena, tem de ser cumprido.
Eu não me tinha apercebido da vocação
determinista deste consagrado autor, a quem o próprio Hollande resolveu
voltar as costas por não confiar na utilidade das suas propostas…mas por cá,
certamente, a magia da sua oratória vai fazer muitos prosélitos, tem
terreno propício para fecundar…
E andamos assim, entretidos, nestas luzidas cerimónias,
recheadas de notórias individualidades para lhes conferir o necessário
selo de qualidade, na esperança de que o projecto da Inadimplência ganhe
novo folego…mas que fado este!
Há uns tempos resolvi ter um ramadão intelectual. Todos os anos escolho alguém com quem claramente não vou concordar e vou ler alguma coisa dele. Este ano calhou ser Piketty e a sua versão "modesta" do Capital no sec XXI.
ResponderEliminarSeria muito engraçado se o rapaz percebesse alguma coisa de economia. A verdade é que não vê um boi. A minha maior surpresa foi o sujeito não entender o mais básico, como por exemplo, o ordenado de hoje, é capital amanhã. Na verdade, foi muito mais que um ramado intelectual, foi quase morrer à fome de tão fraquinha é a obra.
Parece. no entanto, ficar muito facilitada a tarefa da direita se é esta a escolha da esquerda. É que Marx tinha uma desculpa e, mesmo assim, ainda furou alguns conceitos extremamente abstratos para conseguir um enquadramento lógico para o que observava. Este gajo é um básico como há poucos. Por isso sacar uma afirmação dessas que se poderia esperar de qualquer economista Galambico-Boaventurista nem sequer é notícia...
Caro Pires da Cruz,
ResponderEliminarSem colocar em causa a justeza da sua avaliação quanto aos méritos do jovem Picketty, a verdade é que ele não nos deixa alternativa: vamos reestruturar e full stop!
Quanto ao resto, chegou até aos meus ouvidos que a numerosa e selecta audiência de ontem, que abrilhantou a conferência do mesmo jovem, saiu de lá embevecida com as teorias que o meu ilustre amigo tão pouco preza...
Devo até admitir que um distinto candidato presidencial - que a RTP tem literalmente colocado num pedestal segundo me dizem - se proponha ir até Paris para alguma formação em Inadimplência "à la Picketty".
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarsoubesse eu que essa figura incontornável da pseudo ciencia internacional vinha cá botar faladura e até eu teria feito uma forcinha para o ouvir. O imperativo da restruturação vem certamente daquela fantástica criação financeira do "pagar na mesma mas em prazos diferentes", que mostra que o senhor é um génio da finança como há poucos. Que seria das tesourarias desses estados pelo mundo fora se não fossem estes pensadores "disruptivos"...
Quanto ao distinto candidato presidencial, pois não vejo RTP há alguns meses. Não tenho tempo, com os outros 200 canais porque carga de água haveria de perder tempo com essa porcaria?
Caro Pires da Cruz,
ResponderEliminarNessa brilhante suma do pensamento picketista, falta acrescentar "e pagar encargos da dívida equivalentes a N vezes o valor dos actualmente suportados, sendo N um número inteiro bastante superior a 5" - isso para compensar a perda de credibilidade decorrente da adopção das táticas picketistas.
Quanto ao distinto candidato presidencial e à excelsa postura da RTP, canal que pagamos gostosamente, peço-lhe que repare no facto de eu ter dito "segundo me disseram"...
De facto, ao longo da história nunca houve reestruturações de dívidas soberanas.
ResponderEliminarEste charlatão do Piketty, ao fazer afirmações fantasiosas como as que fez ao jornal Público, não passa de um vendedor de banha-de-cobra.
Apesar de ser visto como um "economista da esquerda", repete que "há questões que estão para além da esquerda e da direita". Critica as "más instituições" e as "más decisões" da Europa, que criou "uma crise a partir do nada".
Essa agora, ó Piketty, questões para além da "esquerda" e da "direita"? Esta não lembraria ao Diabo.
Então os caramelos da "esquerda" não são todos uns diabinhos em potência e os senhores da "direita" não são todos uns anjinhos de coro de catedral?
Aqui fica a principal invenção do senhor Piketty:
«(…) É importante perceber que, quando se olha para o passado, vemos que já houve dívidas públicas como estas [de Portugal e da Grécia] e por vezes até maiores. Por exemplo, a França e a Alemanha em 1945 tinham uma dívida de 200% do PIB. Passados 10 anos já quase não tinham dívida, estava abaixo dos 30%. O que é que aconteceu? É claro que não pagaram a dívida com excedentes orçamentais. O que aconteceu foi uma combinação de métodos para baixar a dívida. Em primeiro lugar, muita inflação, que não é perfeita mas pelo menos reduz a dívida. Depois, houve a reestruturação de dívida. As pessoas agora dizem que isso não pode acontecer, mas a verdade é que aconteceu no passado. E os dois países – Alemanha e França –, que agora estão a explicar à Grécia e a Portugal que têm de pagar a dívida toda sem inflação nem reestruturação, nunca fizeram isso. E se tivessem sido obrigados a fazê-lo ainda agora estariam a pagar a dívida. Foi isto que permitiu aos países europeus, em particular a Alemanha e a França, investir no crescimento nos anos 50 e 60. Foi a decisão certa. (…)»
[“Público”, 28/04]
http://www.publico.pt/economia/noticia/a-divida-de-portugal-vai-ser-reestruturada-e-tao-simples-quanto-isso-1693838?page=-1
Caro Manuel Silva,
ResponderEliminarMuito bem observado, acertou "na mouche"!
Melhores cumprimentos.
Creio que as neurociências mostram que a maior parte das pessoas procura situações que estejam em sintonia com as suas crenças, dogmas e hábitos, porque daí deriva uma sensação de satisfação ('instant gratification'). Talvez isso explique a afluência a muitas palestra. O pensamento crítico (essencial para 'delayed gratification') parece ter caído em algum desuso.
ResponderEliminarImagino... ou melhor; não consigo imaginar os adjectivos com que terá sido mimoseado Galileo Galilei, quando por volta de 1600, defendeu a sua teoria do heliocêntrismo.
ResponderEliminarQuando alguém afirma a sua convicção no resultado de uma formula que colide frontalmente com a (ou a sua inexistência) de outros, vê-se na iminência de uma condenação à fogueira, sem que seja provada empíricamente a sua ineficácia. Foi assim em 1600 e assim será "ad aeternum"... desde que a humanidade não se extinga (o que também não seria prejuízo nenhum)
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarvamos perdoar essa analogia entre Galileu e o prof. Karamba que acabou de fazer. Por uma razão simples. Galileu, observou uma prova de um enquadramento teórico (de Nicolau Copérnico) e defendeu a sua veracidade, apesar de todas as outras "provas empíricas" que ainda hoje existem. Porque carga de água o meu caro aceita o heliocentrismo se não tem acesso às provas a favor deste porque estas não são visíveis a olho nú? Galileu pegou numa única prova, invisível a olho nú (as fases de Venus) para mostrar que a Terra se movia, contra os milhares de provas que mostravam o contrário.
Piketty não se torna um cientista sério e a sério por coisas diferentes. Isso também o Jorge Jesus diz. O que separa Piketty de Galileu é exactamente o que o aproxima dos doutores das duas leis que julgaram o génio. Piketty é, confessadamente, um empirista, um básico que, a partir da quantidade de dados avalia a qualidade da especulação. Um pseudo cientista, suportado por aqueles que, como descreve bem o José António, procuram a gratificação no corroborar da sua ignorância.
Olhe meu amigo Cruz, para início de conversa, exijo-lhe que faça uma vénia ao mencionar o nome do grande guru, do grande mago, do grande... do grande... bom, não interessa: do grande Jorge Jesus!
ResponderEliminarContinuando para bingo... cumpre-me fazer também uma "declaração de interesses" em defesa do sentido do meu comentário: Não estabeleci qualquer analogia entre Galileu e outro qualquer professor. Caramba, homem, você precisa prestar mais atenção ao que escrevo. Aquilo que eu escrevi não tem nada a ver com profecias nem com provas concludentes mas sim e somente com um aspeto: numa época em que toda a gente "anda aos papeis" e a atirar bitaites para o ar, chega um tipo que não conheço nem pretendo conhecer, cujas afirmações não sou capaz de perceber se têm fundamento ou exequibilidade e diz: «isto tem de se feito desta forma». Aquilo que eu digo é: se o tipo não é um leigo como eu na matéria e se as afirmações que faz não foram provadas ineficazes, porque carga de àgua toda a gente lhe casca no canastro? Agora sim, vou estabelecer uma analogia: é como estar um tipo numa cama de hospital quase "a ata-las" (Portugal) e à sua volta está uma equipe de médicos especialistas, cada um a fazer um diagnóstico e a propor um tratamento diferentes, às tantas, aparece um outro médico que não pertence à equipe e remata; dêem um clister a esse gajo que ele recupera num instante. Os médicos da equipe imediatamente sacam o estestocópio que trazem pendurado ao pescoço e desatam a malhar com ele no clisterista. Quem sabe se daqui a 400 anos se prova que afinal o clister era mesmo o tratamento eficaz?!
Caro Bartolomeu, a questão é que já foram provadas ineficazes. Todos sabemos o que acontece aos países que reestruturam a sua dívida... como aliás vimos no caso Grego que teve a maior reestruturação da história e não saem da cepa torta.
ResponderEliminarO que lhe parece que aconteceria a Portugal que neste momento financia-se normalmente e a juros muito baixos se alguém se lembrasse de dizer a quem tem titulos de dívida da república: não pagamos! Vão receber só 50% do valor emprestado. Acha que o país continuava a financiar-se normalmente e sem quaisquer problemas?
Esse Pickety é um pateta que está a ter os seus 15 minutinhos de fama. Em Portugal, claro, que dá 15 minutos a qualquer idiota que prometa o paraíso com harpas e violinos. Em França teve 5. Os estritamente necessários até se perceber que é um mais um fala barato inconsequente.
Caro Zuricher, se me garante que as medidas apontadas porPickety já foram testadas e provadas ineficazes noutros países, então, é certo e sabido que serão também adotadas no nosso. Como por exemplo métudos de ensino que depois de provados ineficazes noutros países, foram adotados e implantados pelo nosso ME. Por cá, o resultado foi o mesmo, ou pior, mas mostramos ao mundo que somos um país de gente destemida e capaz de fazer do insucesso alheio, o nosso sucesso. O busílis, creio eu - e volto a afirmar o meu total desconhecimento de matérias de economia e finança - é que não adaptamos as ideias de fora à nossa realidade, simplesmente as decalcamos.
ResponderEliminarCaro José Salcedo,
ResponderEliminarA sua observação, em sede de análise neurocientífica, será certamente uma das explicações para o fenómeno ilustrado pela presença de tantos ilustres numa conferência de um economista (mais um) que vem vender um produto claramente requentado...
Outra explicação será a do conhecido "herd behaviour" bem como a necessidade que tantos destes ilustres sentem de estar sempre presentes neste tipo de eventos para não caírem no esquecimento.
Caro Bartolomeu,
Ora seja bem regressado, aliás de forma inspirada, com a comparação de Galileu Galilei a Thomas Picketty...
Com a diferença de que ninguém deseja a fogueira para Piccketty, tão somente que vá dar ordens lá para sua casa (onde, ao que parece, não o querem)...
Noutro plano, creio que estamos mesmo a precisar de organizar um almoço de confraternização, para pormos as contas em dia e, quem sabe, para escolhermos o nosso próprio candidato presidencial.
Vamos tratar do assunto, desta vez para valer, ok?
OK, caro Dr. Tavares Moreira!
ResponderEliminarE ainda há quem se atreva a contestar a sabedoria de Pikety. De Soto é um deles. Parece que é parvo:
ResponderEliminarhttp://economia.elpais.com/economia/2015/04/29/actualidad/1430325144_581940.html
Sim, caro Ferreira de Almeida, os da laia de De Soto, tal como Hollande, não têm argúcia em teor bastante para entender a inspirada análise de Pi(c)kety...
ResponderEliminarSó mesmo os Crescimentistas sem responsabilidades de governo gozam desse privilégio...
Aliás eu não percebo bem a razão pela qual o Syriza, que parece não ter responsabilidades de governo, ainda não recrutou os serviços de Pi(c)kety...será uma falha de mercado?