Txa de juro da dívida pública a 2 anos entra em zona negativa...
- Depois de nos últimos
dias se ter aproximado “perigosamente” de Zero, hoje a taxa de juro implícita
na cotação da dívida pública portuguesa a 2 anos passou para zona negativa
(-0,004%), acompanhando o movimento que tem alastrado a boa parte das dívidas
públicas de países do Euro - com algumas excepções, a mais notável das
quais é a da Grécia…
- Trata-se, salvo erro,
da primeira vez na história que tal sucede, mas o facto, já referido, de
se tratar de uma situação comum às yields de outras dívidas públicas e de ser
resultante, em boa parte, da intervenção recente do BCE neste mercado,
retira-lhe o impacto que noutras circunstâncias poderia ter…
- ..ainda ontem , por
exemplo, o Tesouro espanhol emitiu dívida a 6 meses, pela primeira vez “pagando”
um juro negativo…
- O contraste para as
taxas equivalentes da dívida grega é cada vez mais impressionante: a yield
da dívida grega a 2 anos supera 20% (!) e ontem o Tesouro grego emitiu
bilhetes a 6 meses, para substituição de outros que se venciam, tendo de
pagar uma taxa de quase 3%...
- Esta situação faz-me
recordar a famosa proposta de reestruturação da dívida apresentada em 2014
por um destacadíssimo naipe de individualidades lusas (seriam 74 segundo
foi então noticiado), a qual beneficiou de um formidável eco mediático,
quase fazendo crer que teríamos ali a chave para a “salvação da Pátria”…
- O que teria sucedido se
os responsáveis pela política económica se tivessem deixado seduzir por tão
brilhante proposta?...
- Muito provavelmente,
estaríamos hoje, não direi em situação totalmente idêntica á da Grécia,
mas andaríamos numa zona limítrofe…mas já ninguém se recorda dessa
retumbante iniciativa, que se perdeu na escuridão do tempo. E ainda bem,
o bom exemplo da Grécia vai servindo para alguma coisa!
A União Europeia protestou contra a única lei aprovada, e por quase unanimidade no parlamento grego, que estabeleceu medidas de alívio de emergência para os mais pobres. Não houve nem um centavo dos empréstimos prometidos e são exigidas mais listas de medidas, incluindo a retomada das privatizações, o adiamento da recuperação do salário mínimo e o recuo nas promessas de alívio fiscal. Mesmo os dinheiros que são dos gregos (a sua parte nas operações do BCE) não lhes são entregues se as suas medidas não forem aprovadas num exame em Abril.
ResponderEliminarA política de Merkel e da União é muito evidente e ela não tenta camuflá-la: levar a Grécia à beira da bancarrota a curtíssimo prazo para a obrigar a prosseguir a política que o eleitorado rejeitou, humilhando assim o país, exibindo a sua derrota como vacina europeia, mostrando ainda que Merkel só permite outro Hollande, nunca um opositor.
A razão estrutural é verificável na comparação entre a dinâmica da produção industrial na Europa antes do euro (a Grécia cresce mais do que a Alemanha) e depois do euro (a Alemanha beneficia e todos os outros perdem). O euro foi o problema para as economias mais frágeis. Portanto, para recuperar a capacidade industrial e para criar emprego, é preciso sair do colete de forças. Já não há compromisso bondoso que seja possível no quadro do euro.
Caro Tavares Moreira, permita-me adicionar algo ao seu ponto 4. É que a Grécia emitiu dívida a seis meses com juro de quase 3% mas o mais notavel da história é que os escassos investidores não-residentes que ainda iam comprando alguma coisita sumiram sem deixar rasto. Lá tiveram que ser os bancos Gregos a pagar o pato mas, enfim, coitados, esses, perdidos por 100, perdidos por 1000.
ResponderEliminarÉ isto que acontece quando se acha que comunistas são gente igual aos demais e se encara a participação de partidos comunistas ou similares num acto eleitoral de forma natural como sendo iguais a todos os outros partidos e tendo posições tão defensaveis como as dos demais. Ao longo do século XX houve várias experiencias de que a premissa é errada mas continua a não se querer aprender com o erro.
Dr. Tavares Moreira
ResponderEliminarE que dizer do facto inédito de a Suíça ter colocado ontem uma emissão de dívida pública a dez anos com taxas de juro negativas?
Gostava de ter a sua opinião. Por quanto tempo pode este fenómeno durar, ou melhor, quanto tempo teremos de esperar - a Europa - para que a liquidez seja canalizada para a economia? Não estaremos a correr o risco de novas bolhas especulativas? Mas desta vez num clima da estagnação económica.
Caro Zuricher,
ResponderEliminaré curioso como ainda há pessoas, muito bem intencionadas, que procuram encontrar um factor externo para explicar o caminho de bancarrota que a Grécia está trilhando - como se esse caminho não fosse uma opção consciente e orgulhosamente assumida (ainda que "às escondidas"", fingindo, perante o palco mediático grego, estar inocentes) pelos talentosos políticos gregos da actualidade.
Quanto ao ponto que assinala, é bem verdade, segundo as notícias, que os bancos gregos são sempre os felizes contemplados com estas emissões de dívida pública.
Mas parece-me que estes bancos já aceitam tudo para continuar a sobreviver, estão virtualmente "ligados à máquina", neste caso a máquina da ELA do BCE (ainda hoje foi noticiada mais uma injecção de liquidez de € 1,2 mil milhões...).
Cara Margarida,
As observações que faz parecem bastante pertinentes, mas, como em todas as políticas monetárias altamente acomodatícias esta política do BCE envolve o risco de os agentes económicos serem conduzidos a avaliar, cada vez mais displicentemente, o risco dos investimentos que fazem, desde que estes lhes prometam (eu ia dizer "assegurem", mas corrigi) algum retorno.
Parece-me apenas um pouco pessimista em demasia a sua referência final ao "clima de estagnação económica", pois ou é "da minha vista" ou a actividade económica na zona Euro dá agora sinais bastante claros de aceleração.
Veja, por exemplo, o forte crescimento das exportações de bens de Portugal para a UE, neste início de 2015.
O clima parece pois estar a mudar, resta saber se estamos perante uma mudança duradoura...
Dr. Tavares Moreira
ResponderEliminarObrigada pelas suas notas.
Sim, há sinais positivos, mas a sua sustentabilidade é a grande questão. Partimos de uma base muito deprimida, não será muito difícil a obtenção de alguns ganhos, mas os riscos parecem-me ainda muito elevados...
Cara Margarida,
ResponderEliminarA actividade económica, como muito bem sabe, tanto no nível micro como no macro, é sempre caracterizada pelo risco...
Como tal, nestas perspectivas existem sempre riscos, ascendentes ou descendentes como agora se usa dizer.
Trevo-me a admitir que só os excelentes arautos da reestruturação da dívida não reconhecem riscos nesta actividade - quiçà eles dominem melhor do que ninguém os cordelinhos da economia - doutro modo nunca teriam ousado avançar com tão estilosa proposta...
As notícias são, obviamente, boas para Portugal. Mas não querendo ser confundido com um adepto da restruturação da dívida - que, recorde-se, não era default, era só não pagar agora e pagar nunca - isto é só destruição de capital usando habilmente os indicadores. Com os chineses a trabalhar e os europeus a ver, a inflação real deve estar em níveis próximos de zero então vai de imprimir "às escondidas". Enquanto o eleitor alemão, holandês, etc. não perceber vamos bem porque o capital que está ser destruído é, principalmente, o deles. Quando acordarem, é que vai ser o bonito... E aí os manifestos da restruturação vão começar a ter três dígitos...
ResponderEliminarCaro Pires da Cruz,
ResponderEliminarEssa caracterização das intenções do Manifesto para a Reestruturação, a que alguns mal intencionados atribuíram propósitos de inadimplência, é simplesmente genial.
"Não pagar agora mas pagar nunca", parece-me, com efeito, a mais perfeita síntese desse grande e patriótico movimento agora tão injustamente esquecido...
Quanto ao resto, temos algumas divergências na análise, embora respeite a argúcia da sua interpretação. Não se esqueça de que os emitentes de dívida, públicos e privados, alemães, austríacos, holandeses e quejandos são, por esta altura, os grandes beneficiários do QE à BCE...