Está assente, é um sentimento que está consolidado e generalizado, traduzido nas sondagens e nos níveis de abstenção, e não só, que há um divórcio entre os cidadãos e os políticos, que há um distanciamento entre os eleitores e os eleitos. Esta realidade gera naturalmente desconfiança dos cidadãos nas instituições políticas e desinteresse dos cidadãos pela vida pública.
Há muito que se fala na necessidade de reformar o nosso sistema político de modo a melhorar a representatividade e, assim, aumentar a proximidade entre quem vota e quem vai a votos.
Mas enquanto a reforma não se faz - se é que algum dia os nossos políticos se entendem neste ponto – e à beira que estamos de mais umas eleições legislativas, seria um passo positivo, digo eu, que os líderes partidários que se apresentam às eleições e, em especial, os que reclamam maioria absoluta, informassem os eleitores de uma coisa simples: quem são as pessoas escolhidas para titulares das pastas mais significativas de um futuro governo.
Tão importante quanto as políticas que são anunciadas, as promessas sobre o que será feito e o que não será feito, as críticas que uns e outros fazem sobre uns e outros, são as pessoas que vão executar os programas políticos, isto é, os futuros ministros. Quem são, o que fazem, o que sabem, o que pensam, em que acreditam, que experiências têm para oferecer, que “garantias” dão.
Há quem entenda que não faz parte do jogo eleitoral este tipo de compromissos, que nada disto faz sentido. Mas tem que ser assim?
Tem. Tem que ser assim quando a seriedade dos políticos baixou a níveis nunca vistos ou esperados... É isso que separa os cidadãos da política. A descrença nas pessoas e a certeza cada vez mais presente de que "todos mentem". Este "mentem" tem tendência a ser acrescido de "descaradamente". Se no PS é de esperar o discurso do costume, veja-se o que se passa no PSD/CDS... A volúpia do poder já engole tudo, sobrepõe-se a tudo, perde a razão e a compostura. Os exemplos somam-se num cenário de opera bufa que pouca gente vê ou denuncia... É o ministro da economia a prometer o aumento do salário mínimo, é a reposição do IRS (numa campanha, tipo "votem em nós que vos pagamos a seguir"...), etc, etc. Curiosamente (ou não), até os exames do secundário foram mais fáceis este ano, pois há que criar um "clima"... Daí que a questão não se resolva com mais informação... Ela resolve-se essencialmente com caráter, aquela matéria prima cada vez mais rara... Entretanto, ao que vão dizendo os técnicos, o "doente" Portugal, por mais maquilagem que lhe coloquem no rosto, lá por dentro, nas profundezas do défice e nos complexos mecanismos cripto-administrativos do estado, vai morrendo e apodrece...
ResponderEliminarJá ontem, no seu comentário televisivo, Luis Marques Mendes, expressou a mesma opinião. O divórcio entre cidadãos e política é efetivo e real, a opinião generalizada é de que, os políticos, sejam quem forem, são um bando de incompetentes, de impreparados, de mentirosos, de oportunistas, etc. Estes adjectivos advêem daquilo que se tornou moda com a democracia: prometer para ser eleito e depois, esquecer as promessas. Dizia ontem MM, tal como diz a cara Drª Margarida, ser necessário reformar o nosso sistema político. Pela minha parte, não me parece que qualquer "reforma" deva visar exclusivamente o "sistema" político vigente. Ha um longo historial cultural, incultural, de subserviência, religioso de submissão de cidadania, etc. que limitam o interesse do cidadão pela vida pública. A forma como a informação chega ao conhecimento dos cidadãos, ou a forma como lhe é escondida ou adiada, alarga esse fosso entre ambos.
ResponderEliminarNeste momento da vida pública, o Presidente da República, no comunicado que fêz do dia escolhido para a realização das próximas eleições legislativas, apelou à discussão séria e sensata entre os partidos e advertiu tanto para os partidos, como para os cidadãos, a necessidade de se alcançar uma maioria governativa. Mas, esqueceu-se que nem os partidos estão mínimamente interessados em discutir sériamente os seus programas governativos - assim os tivessem, fossem sérios e não somente eleitoralistas - nem o cidadão comum compreende com clareza a necessedade dessa maioria e a estabilidade governativa que ela poderia trazer ao país - caso não se transmutasse logo depois - esqueceu-se dos lobie que sobretudo no interior e que ainda manipulam as vontades de voto, esqueceu-se que os dirigentes dos partidos, quando empolgados nos seus discursos, continuam a bradar de punho erguido que "iremos derrotar os nossos adversários". Ora, enquanto num país europeu continuar a existir um país onde os dirigentes, militantes e apoiantes vêm nos dirigentes, militantes e apoiantes dos outros partidos, adversários que é preciso aniquilar, será impossível alcançar a tal mairia estável e respeitosa que o Sr. PR demanda.
Quem gostava de ter um país bem governado(presumo que a maioria) interessar-se-ia mais, se lhe apresentassem propostas concretas, bem fundamentadas e estruturadas, sobre os problemas que enfrentamos no dia a dia. Mas onde estará o segredo, para juntar as vontades de tanta gente boa, que vejo por aí, na vida pública?
ResponderEliminarOs grupinhos, muitos, que se apresentam na praça pública a dar tiros nos pés a torto e a direito, presumo que têm um umbigo enorme e (vendo o resultado) um cérebro de ficção cientifica. Haja quem crie um algoritmo que ponha estas vontades, a produzir!!
Caro Luis Alves Ferreira
ResponderEliminarCompreendo tudo o que diz. Mas como é que se resolve?
Caro Bartomeu
Tem razão. Mas temos que começar por algum lado. Não podemos aceitar as generalizações. São perigosas, neste caso a imagem dos políticos é tão negativa que os nossos melhores não estão disponíveis nem interessados em assumirem responsabilidades políticas e públicas.
Caro António Cristóvao
Venha o algoritmo, se for a solução.
Cara Drª Margarida,
ResponderEliminarnão duvido que haja bons políticos, indisponíveis para fazer (a sua) parte, no atual contexto. Não duvido que existam políticos que por não serem premeáveis a "esquemas" a intrigas e a mentiras, se mantenham afstados deste louco carrocel que é a política atual. Não duvido mínimamente que haja políticos honestos de elevado caráter, incapazes de compactuar com as travessuras e os jogos de bastidores, os conluios e as armadilhas que todos os dias a comunicação social (ao serviço da outra parte) vais descobrindo. Sempre assim foi, aliás, desde o tempo em que os primeiros povos invadiram a península e por cá se instalaram.
Mas duvido que haja quem, pertencente à classe anónima popular, não se ache já corrompido por este ambiente de politiquice e que dele e dos seus efeitos dependa, como um "agarrado" da heroina. Duvido que haja quem mantenha ainda uma réstia de bom senso e capacidade de raciocínio, sentido de cidadania suficientes para reconhecer de entre tantos, os que são realmente bons. Até porque os maus, tudo fazem para corromper a aura que em algumas cabeças ainda brilha. Acerca deste assunto, coloco o seguinte raciocínio: Se Cristo voltasse à nascer e tentasse de novo extinguir a corrupção social e ensinar o povo a ganhar a sua verdadeira e integra liberdade, não seria de novo crucificado?
Caro Bartolomeu
ResponderEliminarDe acordo, o "louco carrocel" é uma boa imagem!