1. A divulgação das contas externas para o período Jan/Out, ocorrida esta semana, revela uma evolução ainda positiva, com um excedente das Balanças Corrente+ Capital de € 3.559,2 mil milhões, superior em € 87,6 milhões (+2,5%) em relação ao verificado em igual período de 2014.
2. Esta evolução fica a dever-se, exclusivamente, à melhoria do saldo positivo da Balança Corrente, que passou de € 1.406,2 mil milhões em 2014 para € 1.681,0 mil milhões em 2015 (+€ 274,8 milhões ou 19,5%).
3. A melhoria do saldo da Balança Corrente, (de € 274,8 milhões como mencionado) é, por sua vez, explicável pelo seguinte comportamento das suas três rubricas:
- BENS: redução do défice em € 357,5 milhões (devida, inteiramente, à queda do preço do petróleo, excluindo esse factor o défice ter-se-ia agravado expressivamente);
- SERVIÇOS: aumento do superavit em € 271,5 milhões, graças à rubrica de Viagens e Turismo, cujo excedente aumentou de € 6.208,6 milhões em 2014 para € 6.879,5 milhões em 2015 (+10,8%);
- RENDIMENTOS: agravamento do saldo negativo em € 354,2 milhões, de € 963,4 milhões em 2014 para € 1.317,6 milhões em 2015 (+36,7%).
Recapitulando, temos (€ 357,5 milhões + € 271,5 milhões - € 354,2 milhões) = € 274,8 milhões.
4.Quanto à Balança de Capital, tem-se verificado uma tendência de aproximação dos saldos positivos, embora até Outubro o saldo seja ainda inferior, em € 187,2 milhões, ao de 2014 (€ 2.066,0 milhões em 2014, € 1.878,8 milhões em 2015).
5. Em conclusão, vai-nos valendo por agora a acentuada queda do preço do petróleo, a qual, segundo os especialistas, estará para durar, pelos próximos dois anos certamente...
6. Assim, e com elevada probabilidade, a Balança de Pagamentos será capaz de aguentar saldos positivos (embora decrescentes), ao longo dos próximos 2 anos, suportando as consequências do "Virar de Página da Austeridade" que progressivamente vai alastrando a todos os sectores da acção governativa. Há "pano para mangas", pois...
7. Quando, aí por 2018, os preços do petróleo retomarem uma marcha claramente ascendente (antes é muito pouco provável), deveremos então voltar ao velho e salutar hábito dos défices externos e do agravamento da dívida nacional (pública e privada).
8. Vale isto por dizer que lá para o final da legislatura agora iniciada (assumindo que a mesma dura até 2019, o que se afigura a todos os títulos desejável), teremos oportunidade de "matar saudades", revivendo um cenário de défice externo...cenário que não nos é nada estranho, diga-se de passagem, nomeadamente quanto às suas consequências...
9. Até lá podermos ir saboreando, docemente, sem grandes sobressaltos, o "Virar de Página da Austeridade".
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarEssa previsão dos preços do petróleo vem de onde? É que não deve demorar assim tanto até o russo dar cabo do pelo dos malucos do estado islâmico. E quando o fizer, vai querer voltar aos tempos de prosperidade que lhe foram roubados....
Essa previsão, caro Pires da Cruz, vem de uma veneranda organização, denominada OPEC (á inglesa) que, em relatório (World Oil Outlook)divulgado na corrente semana, antecipa a continuação de um mercado petrolífero bastante deprimido para os tempos (anos) mais próximos, só devendo atingir os USD 80/barril lá para 2020...e USD 100/barril lá para 2040!
ResponderEliminarNão creio que Putin, por muita destruição que seja capaz de realizar na Síria, possa alterar estes cenários, para lhe ser franco.
Aquilo que se poderá dizer, neste contexto, é que uma aplicação persistente, diligente e patriótica da política do "Virar de Página da Austeridade", ao longo dos anos mais próximos, quando o barril de petróleo atingir USD/80 já será capaz de realizar o seu fundamental objectivo de nos lançar, de novo, na zona vermelha das contas externas.
Até lá e como sugeri, vamos desfrutando, alegre e sossegadamente, do "Virar de Página".
Se eu me enganar e por algum motivo, nesta altura imprevisível e improvável, o mercado petrolífero virar, então a alegre legislatura agora iniciada correria sério risco.
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminaraté pode ser que tenham razão, mas assim que o mercado negro começar a fechar, acho que os preços vão subir. Mas há ainda um detalhe nas contas que está para virar, as taxas de juro de referência. Esses dois anos parecem-me muito optimistas.
A triste sina dos países cronicamente mal governados.
ResponderEliminarCaro Pires da Cruz,
ResponderEliminarNão excluo que venham a existir outros factores (taxas de juro, por hipótese e como sugere) susceptíveis de perturbar o cenário "goldilocks" subjacente à excelente teoria "Virar de Página", ainda no decurso da legislatura agora iniciada.
A minha avaliação cingiu-se, por agora, à questão dos saldos das contas com o exterior, trabalhei com base num pressuposto conhecido por "ceteris paribus" (ou seja, assumindo que todos os demais factores permanecem inalterados).
Mas deixe-me dizer-lhe que também em relação às taxas de juro não estou antecipando, para os próximos dois anos, alterações que venham a perturbar, seriamente, o "Virar de Página".
Os tempos correm de feição para o "Virar de Página", meu Caro, quer gostemos quer não gostemos!
É claro que a factura acabará sempre por chegar, mas "enquanto o pau vai e vem, folgam as costas", como diz o velho e sábio adágio...
Caro António Cristóvão,
Mal governados? Na democracia que professamos, o bom governo é o que faz as vontades ao Povo, ainda que por métodos ilusórios ou tropicais...
Repare no afecto que a comunicação social indígena, na sua esmagadora maioria, dedica ao projecto "Virar de Página".