Nova política económica: intrigante justificação...
- A edição do F. Times de
1 do corrente inseria um pequeno suplemento dedicado a Portugal, no qual,
além de artigos de opinião, se podiam ler dois textos de Peter
Wise, correspondente em Lisboa: um desses textos de carácter geral,
explicando as alterações recentes no panorama político; o segundo mais
específico, dedicado ao tema das restrições que o elevado endividamento do
País, público + privado (cerca de 370% do PIB) impõe à expansão da
actividade.
- Nesse segundo artigo são
citadas declarações do novo MF português, pretendendo justificar a “nova
forma” de encarar a política económica, começando por rejeitar que essa “nova
forma” possa colocar em causa a disciplina das finanças públicas e
desencadear uma aceleração das importações como consequência dos estímulos
à procura interna.
- Direi que até aqui tudo
bem, são declarações de fé que o tempo dirá se têm ou não fundamento…
- A parte intrigante das
declarações do MF é a que vem a seguir, quando justifica a nova política (de estímulo à
procura interna), dizendo que o objectivo é tornar as empresas nacionais
mais capazes de corresponder/satisfazer a crescente procura interna.
- Segundo o MF, muitas
empresas (produtoras de bens e de serviços) foram forçadas a desaparecer
durante o período de austeridade, correndo-se agora o risco de, com a
recuperação da procura interna (em curso pelo menos desde o final de 2013,
note-se), esta ser encaminhada para importações uma vez que não existe
produção interna para a satisfazer…
- Este raciocínio é
estranho, no mínimo, pois, como bem sabemos, quando as tais empresas
nacionais ainda existiam para satisfazer a procura interna – segundo a lógica
do MF – a Balança de Pagamentos registava défices elevadíssimos, ano após
ano, levando o País para uma situação de asfixia financeira…
- …e agora que as tais
empresas desapareceram e a procura interna está em recuperação há já mais
de 2 anos, sendo empurrada para as importações (novamente segundo
o MF) a Balança de Pagamentos e a
Balança Corrente, muito em especial, registam superavits muito confortáveis,
de que aqui temos dado nota, com regularidade – como entender tal paradoxo?
- Para além desta
intrigante justificação, fica por explicar como é que vão ser ressuscitadas
essas inúmeras actividades que, segundo o MF, terão sido dizimadas durante
o período de austeridade…será com uma varinha de condão (ou com agravamentos
fiscais)?
Parece-me que nos encontramos perante um paradoxo, caro Dr. Tavares Moreira: se a recuperação da procura interna iniciou o seu curso no final de 2013, no decurso do periodo de austeridade e com um exorbitante número de empresas "no malagueiro", a capacidade de satisfazer esse aumento da procura, não é hoje diferente do de 2013.
ResponderEliminarE se em 2013, se esperava que o aumento da procura interna iria resultar no investiemnto de novas tecnologias, na criação de novas empresas e de mais postos de trabalho, com resultado direto no aumento da receita fiscal, o que é diferente hoje? O que faz com que, hoje, o aumento da procura interna, atire os portugueses para os braços da importação, mais que em 2013?
A densidade do pensamento do Prof. Mário Centeno foi adoptada pelo PS precisamente por não ser entendível e assim o partido poder dar ares de ser dos poucos a compreender e a difundir tal profundidade científica.
ResponderEliminarAssim, a contradição é apenas para os pobres espíritos vulgares, que não conseguem elevar-se às alturas do pensamento científico centenista.
Parece-me também que o Bloco já tropeça na compreensão e o PC, esse, compreende muito bem o que lhe dá jeito.
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarUma sábia interrogação a que eu, naturalmente, não estou em condições, ou á altura, para responder.
O melhor que posso fazer é remeter a questão, com a devida vénia, para S. Exa. o MF.
Não excluo que o MF, se tomar conhecimento de que a questão é suscitada por tão destacado cidadão Estremenho, se digne responder, quem sabe?
Caro Pinho Cardão,
Não deixo de confessar que esta misteriosa fundamentação da Nova Política Económica me deixou em estado de perplexidade, e a um nível outrora impensável...
Apetecia-me dizer "não batam mais no Centeno", mas temo que ele vai continuar a apanhar, sem piedade, porrada vinda de todos os lados. A responsabilidade do lugar que ocupa e para o qual não parece estar bem preparado, assim o exige.
ResponderEliminarAinda no governo Sócrates foi adotada uma política de concentração económica "alavancando" restrições várias impostas pela UE, cujo propósito seria o de duplicar os ganhos de produtividade, que parecem estar intimamente relacionados com a intensidade de capital. A expressão usada nos bastidores era a de "acabar com as empresas de vão de escada". Engraçado é que este propósito +e coincidente com a "batalha" da vida sindical de Carvalho da Silva, a saber; "acabar com a economia dos baixos salários"!. mais ou menos explicitamente, Todos estavam de acordo, até o PR!, Quem não está?,quem tem o poder normativo na UE há décadas que trata de criar reserva de mercado para as suas economias, com os mais variados subterfúgios, acolitados pelas parasitárias e insaciáveis elites tecnocráticas. A questão climática tem a ver com este propósito. Assim sendo - quem está no terreno,não dorme nem se deixa intimidar conhece muito bem esta realidade -. Dizia-se então que devíamos imitar a Espanha, em que 5% das empresas faziam 95 % do trabalho! Mário Centeno escusa de se incomodar; se a coisa der certo, a n/economia estará mais competitiva e, portanto, apta a enfrentar a concorrência externa em melhores condições. Se não chegar, continua-se o processo!
ResponderEliminarCaro Tiro ao Alvo,
ResponderEliminarReceio que esteja a inverter as funções: não somos nós (eu, muito menos) quem bate em S. Exa., com explicações destas só pode ser S. Exa. quem bate em nós...e não é nada meigo!
Caro António Barreto,
Os ganhos de produtividade, no período de ouro que recorda, não foram duplicados, somente: foram multiplicados N vezes, com N vigorosamente superior a 2, daí o enorme sucesso com que chegamos a Abril de 2011 e que uma subsequente, desnecessária e néscia política de austeridade viria, a partir daí, interromper!
Ainda bem que nos livramos dessa austeridade, estamos assim de novo prontos para retomar o caminho do progresso e multiplicar a produtividade tal como nesse passado doirado.
Não tenham dúvidas: com a esquerda no poder, em poucos anos Portugal estará outra vez com sérios problemas económicos, principalmente em relação à Balança de Pagamentos!!! Daí, quando a situação ficar insustentável, voltam os conservadores para tentar arrumar as finanças públicas, sempre com enormes custos sociais! Parece que o povo nunca aprende a votar!!!
ResponderEliminarCaro Paolo Hemmerick
ResponderEliminarNão me diga que vamos assistir, em Portugal, a uma experiência fabulosa como essa da governação "petista", no Brasil!
Bem, para ser sincero, espero que não cheguemos tão longe; temos a vantagem da âncora do Euro, que é disciplinadora e não deixará a deriva "trabalhista" (o trabalhismo é só etiqueta, o conteúdo é sempre outro) ir além de certo limite!