Parecer do Conselho de Finanças Públicas (CFP): quem te avisa...
- O parecer do CFP acerca
do Projecto de Plano Orçamental para 2016, divulgado na semana passada,
contém sérios avisos quanto aos riscos envolvidos naquele exercício
orçamental que o Governo, em lugar de exibir incómodo através de um
conhecido porta-voz parlamentar, poderia ter agradecido.
- Vale a pena respigar,
muito sumariamente, algumas passagens desse parecer, alertando para os
riscos que se colocam na escolha dos pressupostos macroeconómicos daquele
Projecto.
- Em 1º lugar, os riscos
decorrentes da conjuntura internacional da hipótese assumida para a evolução
da procura externa: “Os riscos decorrentes de previsões
que se revelem optimistas são especialmente significativos num contexto de
forte incerteza quanto à evolução da economia mundial e de elevado
endividamento da economia portuguesa”.
- Em 2º lugar, os riscos
decorrentes da aposta na procura interna: “O crescimento
assente na procura interna, designadamente do consumo privado, corresponde
a uma tendência bem documentada no passado. Embora não implausíveis
estatisticamente no curto prazo, as previsões quanto ao comportamento dos
preços, investimento e comércio externo em 2016 podem vir a ser
consideradas como pouco prudentes”.
- Em 3º lugar, os riscos
do Cenário: “As previsões contidas no Cenário,
não sendo em absoluto implausíveis no curto prazo a que respeita, não só não
dissipam como acentuam a incerteza relativa às suas consequências de médio
prazo, em particular no que se refere à evolução dos preços, do
investimento e da contribuição do exterior para o crescimento do PIB”.
- A Moody’s acaba de
emitir uma opinião sobre o dito Projecto de Plano Orçamental, subscrevendo as conclusões do parecer do CFP.
- Em minha opinião, o
Projecto de Plano Orçamental é uma daquelas aventuras que, apesar de calculadas
(o Plano é sempre uma aventura calculada, como dizia o velho Pierre Massé, pai do
planeamento económico em França), contém uma dose de “wishful thinking”
que nos vai trazer problemas, já este ano.
- Não tardará muito a
perceber-se que o Governo deveria ter agradecido o parecer do CFP: quem te
avisa…teu amigo é.
Pois é, o eterno problema dos cenários: martirizar os pressupostos para que validem os desejos.
ResponderEliminarO CFP tem ainda algo muito interessante e nada dispiciendo. A senhora que o dirige, Teodora Cardoso, é próxima do PS (militante, mesmo?) daqui que o governo não possa sequer tentar argumentar com a partidirização do CFP.
ResponderEliminarDe qualquer forma, caro Tavares Moreira, como o governo não liga aos pareceres dos conselhos e, para mais, nada do que está a ser feito tem uma base racional mas tão somente ideológica é evidente que os avisos vão cair em saco roto.
Economistas main stream! A vantagem de trabalhar com um Cenário é não andarmos preocupados com preços. Se subirem, aumentam-se os funcionários públicos porque a subida dos salários é a base de qualquer crescimento económico. Ou, agora que descobriram que o pagamento do FMI conta como despesa na contabilidade pública, corta-se nessa despesa supérfula!
ResponderEliminarNem mais, caro Ferreira de Almeida, os pressupostos são escravizados ao serviço de objectivos de altíssimo risco...
ResponderEliminarCaro Zuricher,
Talvez não caiam inteiramente em saco roto estes avisos, repare na opinião da Fitch, que acaba de ser divulgada, e que é bem mais assertiva do que o parecer do CSP no tocante aos altos riscos envolvidos neste Plano/Cenário...
Caro Pires da Cruz,
Constato, com satisfação, que o trabalho de promoção da literacia económica, arduamente desenvolvido pela Academia de Coimbra, está a produzir frutos onde menos seria de esperar! Ah, ah!
Caro Tavares Moreira, reparei na Fitch e na Moody's que também se pronunciou sobre o OE 2016. A Moody's muito assertiva identicamente. O ministro Centeno já respondeu e tomei a devida nota do que ele disse. Acredite, meu caro, é tudo positivamente indiferente para essa gente que ocupa neste momento os Ministérios, Secretarias de Estado e, claro, identicamente indiferente para quem ocupa São Bento. Eventualmente talvez se a DBRS disser alguma coisa comecem a ficar preocupados mas mesmo assim duvido que alterem o rumo. Alterá-lo faria cair o governo e lá o tombalolos quer ser Primeiro-Ministro custe o que custar, seja à custa do que for. Os contribuintes que se amolem.
ResponderEliminarQuando este Centeno foi escolhido para minfin pensei cá para com os meus botões se seria um Dr. Campos e Cunha ou se seria um Teixeira dos Santos. O meu instinto dizia-me que seria um Teixeira dos Santos. Acho que o meu instinto não se enganou. Infelizmente.
Caro Zuricher, o habitual porta-voz do PS para questões económicas, depois de ter zurzido no CFP acaba de direcionar o seu verbo contra a Fitch, acusando-a de "misturar alhos com bugalhos".
ResponderEliminarUm comentário com um recorte técnico invulgar, que certamente terá um impacto bastante apreciável na próxima avaliação que a dita agência de notação financeira fizer sobre a dívida portuguesa.
Caro Dr. Tavares Moreira,
ResponderEliminarAntes de mais, a minha primeira saudação depois daquele agradável almoço.
O Conselho de Finanças Públicas, mais uma vez, mostrou lucidez nos alertas feitos. Não tarda, alguém aparece a dizer que é uma entidade da "direita radical"...
Já agora, o link para o comentário (em vídeo) de André Abrantes Amaral no Diário Económico:
http://videos.sapo.pt/g2LSaWZRn2jdhSvh9mQa
Caro Tavares Moreira, refere-se àquele senhor educadíssim... erm... melhor dizendo, polidissimo, chamado João Galamba? Se for esse deixe-me que lhe diga que o acho um primor de moço. A tal ponto que se algum dia montar um motel de beira de estrada farei questão de o convidar para o atendimento. A esmeradissima educação que denota a cada vez que abre a boca faz-me pensar ser a pessoa ideal para o posto. Mas só para atendimento, entenda-se. Para a contabilidade não me parece ter estaleca.
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ResponderEliminarAs agências de rating são uma criação do poder financeiro internacional e desenvolvem as suas intervenções com o único objectivo de proteger e fortalecer os interesses desse poder financeiro.
Manipulando ou falseando dados e cenários económicos à medida das suas conveniências de momento pouco lhes importando que os seus pareceres de hoje sejam desmentidos categoricamente algum tempo depois (a atribuição das mais altas classificações aos activos financeiros tóxicos da dívida do subprime são disso um dos melhores exemplos). A manipulação é propagandeada num momento preciso e é isso que lhes importa.
As agências de rating são uma poderosa arma do poder financeiro internacional usada para manipularem os juros da dívida pública e desse modo imporem aos países as políticas nacionais (orçamentais) que mais servem os interesses dos seus mandantes. Neste sentido todos os países economicamente mais débeis do euro trazem um garrote ao pescoço que é alargado ou apertado consoante as políticas dos governos se aproximem ou afastem da satisfação dos tais poderosos interesses financeiros e económicos.
Portugal não é excepção, mesmo com um governo da família socialista europeia. Basta um pequeno abrandamento da austeridade como o governo se comprometeu para se sentir a imediata inquietação do poder financeiro. Para quem ainda não entendeu, a austeridade não é outra coisa senão a operação pela qual tal poder obriga os países a transferirem rendimentos das classes populares (trabalhadores e classe média) para os seus bolsos.
É interessante o facto de que a esquerda já começa a criticar as agências de notação financeira. Veja-se que João Galamba já veio reagir ao alerta da Fitch. A culpa já começa a ser descartada e atirada para os outros. O caminho já começa a ser preparado para a eventualidade de as coisas descambarem, como tudo leva a crer...
ResponderEliminarCaro Pedro de Almeida,
ResponderEliminarPois seja muito bem regressado a este Blog, espaço onde as suas opiniões são muito apreciadas!
Espero que tenham feito uma boa viagem de regresso até ao grande Brasil e que se encontrem bem.
Quanto ao tema que hoje nos ocupa, meu caro, tenho muita pena, creia, mas não vai ser necessário muito tempo até se perceber que as premissas macroeconómicas em que assenta este Borrão Orçamental não têm mesmo consistência...e, assim sendo, lá se vão os objectivos orçamentais e financeiros, com todas as consequências inerentes a tal insucesso, nomeadamente a necessidade de revisões feitas sob grande tensão.
Mas que forma avisados e bem avisados, disso não se poderão queixar!
Caro Zuricher,
Trata-se de um jovem político, que, por algumas intervenções marcantes que lhe são conhecidas - como esta de imputar à FITCH a confusão de "alhos com bugalhos" - se percebe ser muito promissor, ainda tem muito a dar ao País, não sejamos pessimistas...
Se as coisas descambarem, lá virão dizer: foram as agências, foram os credores, foi a UE, foi a Alemanha, foram estes e aqueles...E, nessa atura, António Costa demite-se dizendo que não tem condições...E quem vier atrás que feche a porta...Quem será que nessa altura o convencerá da inevitabilidade de um novo resgate? Ao que consta, Sócrates só o aceitou depois de uma violenta discussão com Mário Soares e Teixeira dos Santos...
ResponderEliminarCaro Dr. Tavares Moreira,
ResponderEliminarMuito obrigado pelas suas palavras.
Fizemos, felizmente, uma boa viagem.
Um grande abraço.
Caro Pedro de Almeida,
ResponderEliminarCreio que poderá ter razão, estes azougados políticos que nos "governam" deverão revelar uma imaginação muitíssimo fértil (ou "lata", se quiser) quando tocar a imputar a terceiros a responsabilidade pelos insucessos das suas próprias opções de política!
Este governo socialista merece o prémio Nobel, descobriu o "motor perpetuum", por cada euro gasto pelo estado gera 4€. Viva o costa.
ResponderEliminarCaro luis barreiro,
ResponderEliminarA descoberta dessa formula mágica, que transforma despesa publica em PIB, com um multiplicador 4, merece uma distinção bem maior que um Nobel.
Feliz o País que pode beneficiar de tal magia!
Bruxelas já reagiu. http://bandalargablogue.blogs.sapo.pt/a-grecia-e-uma-licao-a-seguir-costa-1526138
ResponderEliminar"Já se espera que os spin doctors socialistas tentassem vender a ideia que se tratava de um vulgar pedido de esclarecimento. Porém, os factos desmentem essa “narrativa”. Conforme se pode ler, a CE questiona o governo português acerca da redução do esforço de consolidação orçamental."
ResponderEliminar(Inclui a carta):
http://oinsurgente.org/2016/01/27/surpresa-bruxelas-nao-aceita-orcamento-do-estado-2016-2/
Caro Luís Moreira,
ResponderEliminarE, como aqui temos dito, a procissão ainda vai no adro...teremos muito para ver em próximos episódios.
Caro Pedro Almeida,
Não é de excluir que a CE tenha em mente o (bem mais) complexo episódio ocorrido com os Gregos - ainda muito fresco na memória de todos - e pretenda agora agir preventivamente, de forma convincente.
A ideia poderá ser "cortar à nascença" a criação de mais um episódio de clara indisciplina orçamental no seio da zona Euro, neste caso semi-disfarçado por um Cenário económico ambicioso, muito arriscado e, como têm sublinhado as agências de rating, pouco credível.
Aguardemos, ainda vai correr muita tinta.
Veremos, direi que nesta altura está tudo em aberto.
A coisa está feia...
ResponderEliminar"Fontes europeias dizem à TVI que os resultados implícitos no esboço orçamental do Governo são muito piores do que o previsto pelo Executivo. O crescimento fica muito aquém e o défice orçamental agrava-se.
O crescimento económico este ano ficará em 1,6% e não em 2,1%. O défice orçamental subirá para 3,4% do PIB, e não cairá para os 2,6% previstos pelo Governo. E o saldo estrutural, o que desconta o efeito da retoma, agrava-se ainda mais: em vez do ajustamento de 0,2 pontos antecipado pelo ministério das Finanças, ocorrerá um agravamento de quase 1% do PIB. Estas são conclusões da análise preliminar da Comissão Europeia ao esboço orçamental, garantem fontes europeias à TVI.
As diferenças são grandes, maiores do que se imaginava até agora, e a vários níveis, contam fontes comunitárias ao correspondente da TVI em Bruxelas."
http://www.jornaldenegocios.pt/economia/financas_publicas/detalhe/tvi_bruxelas_estima_defice_de_2016_em_34_do_pib_pior_que_em_2015.html
José Manuel Fernandes exprimiu uma tese interessante no Observador a respeito de António Costa e do PS: se por um lado António Costa tem transformado derrotas em vitórias, por outro lado caminha cada vez mais por entre as ruínas do PS...
ResponderEliminarCaro Pedro de Almeida,
ResponderEliminarAs aparentes diferenças entre os objectivos do Governo para o défice orçamental e as supostas pretensões de Bruxelas (CE), são muitíssimo grandes: 0,8% do PIB para o défice nominal (cerca de € 1,4 mil milhões) e 1,3% do PIB para o défice estrutural (€ 2,35 mil milhões).
A confirmarem-se estes dados, não consigo entender como é que o Governo poderá alguma vez ir ao encontro das reservas levantadas pela CE.
Eu creio, sinceramente, tal como refere a Secretária-Geral do BE, que Bruxelas ainda não conseguiu perceber que a esquerdam ganhou as eleições em Portugal...
Caro Dr. Tavares Moreira,
ResponderEliminarTem toda a razão.
Muito boa a ironia sobre essa senhora. Curiosamente a esquerda não se tem referido ao Governo de Tsipras na Grécia...Afinal, com a ascensão da esquerda ao poder, não chegariam os "amanhãs que cantam"?...
Excelente comentário de José Gomes Ferreira na SIC Notícias.
ResponderEliminarLink para o vídeo:
http://sicnoticias.sapo.pt/opinionMakers/jose_gomes_ferreira/2016-01-27-Esta-carta-nao-e-uma-carta-qualquer-tem-um-tom-bastante-pesado
Também a UTAO (Será uma entidade da "direita radical"?) lança o alerta:
ResponderEliminarhttp://www.noticiasaominuto.com/economia/529082/esboco-corre-evidentes-riscos-de-incumprimento-estrutural-avisa-utao
Os truques socialistas de sempre. Vale a pena ler na íntegra (aqui mais explicado) a posição da UTAO:
ResponderEliminar"UTAO acusa Governo de reduzir “artificialmente” o défice estrutural"
http://observador.pt/2016/01/28/utao-defice-estrutural-aumenta-as-medidas-forem-contabilizadas-corretamente/
Caro Pedro de Almeida,
ResponderEliminarTendo acabado de chegar ao Porto, constato que a coisa em Lisboa está a ficar bem feia, os truques orçamentais começam a ser desvendados, uma nuvem escura paira sobre o exercício orçamental, não sei como é que isto vai terminar! Será que vamos ter Orçamento?
Por este andar, só se for lá para o Verão, mais vale funcionar com o regime de duodécimos, pelo menos neste regime sabemos que a despesa estará (mais ou menos) controlada...
Ahahahah, o que eu me ri com a notícia que Pedro Almeida deixou sobre a questão do deficit estrutural a perder parcelas por artes mágicas. Em todo o caso nada de novo debaixo do sol. Essas trampolinices de esperteza saloia são comuns nas esquerdas. E depois ficam muito admirados por os outros não se deixarem tomar por parvos. É comum, muito comum, mesmo.
ResponderEliminarCaro Tavares Moreira, quer-se crer que também já tenho pensado que para o que está a ver-se, se calhar é mesmo melhor não haver orçamento!
Caro Zuricher,
ResponderEliminarInterrogo-me se o Luís de Matos, bem conhecido ilusionista, não estará assessorando o MF...
Com ou sem Luís de Matos, a verdade é que este início de experiência governativa para o novo MF se está a revelar muito pouco auspicioso. Rodeado de reivindicações por todos os lados, o Senhor já nem deve saber para onde se voltar, de resto a sua fisionomia, quando comparada à de alguns meses atrás revela um desgaste espantoso.
Suspeito que esta aventura, nos termos em que está a desenrolar-se, não irá muito longe.