Se houve ou não negligência médica ficou por apurar. O facto em si chama a atenção pela negligência que revela.
Que nome se pode dar a uma situação em que um inquérito instaurado pelo ministério público aguarda um parecer de peritos há um ano e meio? Parece que o trabalho é muito.
Como não há fome que não dê em fartura, subitamente quatro autoridades decidiram interessar-se pelo caso. Até agora ficaram de braços cruzados. Já lá vão três anos sobre a morte da jovem Sara.
Decidiram agora abrir inquéritos ao que se passou com o acompanhamento hospitalar da jovem que acabaria por morrer de um tumor no cérebro nunca antes diagnosticado apesar de ter dado entrada nas urgências por onze vezes. A autópsia ditou a causa de tanto sofrimento. O diagnóstico era sempre o mesmo, ansiedade.
Não fora o ministro da saúde, que teve conhecimento do caso pela comunicação social, ter dado ordem para a IGAS investigar o caso e com toda a probabilidade o caso não veria qualquer luz do dia. Como podem casos desta gravidade estarem dependentes da comunicação social (neste caso prestou um serviço público) e das ordens de ministros da saúde para serem diligentemente tratados pelas autoridades? Não é aceitável.
Seria bom inspeccionar, também, o mau funcionamento das máquinas administrativas, o que andam tantas entidades a fazer ou a não fazer ao mesmo tempo, e retirar as devidas consequências.
Casos como este são revoltantes. Uma morte assim, não se apuram responsabilidades, abrem-se ou não se abrem inquéritos mas nada mais acontece. A falta de responsáveis já é um lugar comum, não surpreende, quando é conveniente surge uma explicação inexplicável para o sucedido. Um país civilizado não pode proceder desta maneira.
É realmente inacreditável que só com escândalo público os cidadãos mais desprotegidos consigam ser atendidos nos seus direitos mais elementares. Não é sem razão que já se ouve com frequência ameaçar que se " vai para as televisões" para que as autoridades olhem os casos com a atenção que lhes é devida, o sentimento de abandono e de injustiça gera uma revolta profunda em quem a sofre e em quem assiste e pensa que podia acontecer a qualquer um. Também por isso muitos não chegam sequer a tentar defender-se. Ou fazem greve da fome, com cartazes, à porta dos ministérios, como vi ontem o caso de uma mãe que não se conforma com a decisão sobre a tutela dos filhos, não sei se tem razão ou não mas só o desespero leva a uma atitude assim.
ResponderEliminarapoiado
ResponderEliminarDe toda esta passividade, lentidão e desinteresse demonstrados pelas entidades a quem cabe a responsabilidade de investigar avaliar e dar seguimento aos casos de "lesa-cidadão", que se multiplicam e a que a comunicação social dá voz, tem, (usando de muito boa vontade e alguma ingenuidade)um aspeto positivo; dispensável, mas positivo: é uma forma de ajudar a manter os postos de trabalho dos profissionais de comunicação que investigam, buscam e rebuscam, entrevistam, descobrem e publicam. Desde que não cedam á tentação de manipular dados, de salvaguardar os direitos dos implicados e deixar a justiça á justiça, desempenham, sem qualquer dúvida, um verdadeiro serviço público. Num país onde todos os dias se assiste a casos de corrupção de abuso de poder, de várias negligências, se não existisse comunicação social empenhada e liberdade de informação... estaríamos a regredir á época negra da censura.
ResponderEliminarOutras evidências de negligência, desta vez administrativa, surgem no nosso panorama governamental, com a notícia trazida hoje a público pelos principais jornais:http://www.dn.pt/portugal/interior/diretor-do-museu-da-presidencia-detido-pela-pj-5257899.html.
ResponderEliminarMarcelo tem toda a razão. A iniciativa de contratar tal personagem, remonta ao mandato de Jorge Sampaio, para dar cumprimento a um desejo do filho. Mas seguiu-se Cavaco que o confirmou nas funções e lhe deu "carta branca" apadrinhando-lhe todas as iniciativas. E foram muitas com a benção da primeira dama, ou da presidenta Cavaco, como se preferir. Não se pense no entanto que toda esta liberdade de ação e que toda a responsabilidade pelas despesas (algumas de valores elevadíssimos), se deve unicamente ao diretor de um museu que tinha como função primeira, a de promover a figura pública da "família" Presidencial, aumentando-lhe a popularidade. As despesas, apesar do orçamento especificamente destinado ao museu, eram propostas e passavam pela aprovação da Secretária-Geral Adjunta, do Secretário-Geral e do Chefe da Casa Civil. Ninguém ousava recusar qualquer iniciativa proposta por este Senhor, todos eram coniventes. Não existe só um suspeito nesta maratona, existe um grupo de gente que sabia e fingia não saber, um grupo de gente que sabia mas encolhia os ombros e um grupo de gente que de uma forma ou de outra, retirava dividendos de vária espécie das atividades do senhor Diretor; atividades essas que foram consideradas de extremo relevo e merecedoras da atribuição de diversas mordomias tais como, carros, despesas de estadia e alojamento em hoteis, etc, etc, etc,
Suzana
ResponderEliminarSão casos muito chocantes. E apenas alguns chegam à comunicação social. Podemos fazer ideia do que por aí se passa.
Sobre o caso da mãe em greve de fome, veio hoje a comunicação social dar a notícia de que o "Conselho Superior do Ministério Público (CSMP) abriu um inquérito disciplinar à magistrada do Tribunal de Família e Menores de Cascais que entregou, pela segunda vez, a guarda de duas crianças ao pai, condenado por violência doméstica". Vale a pena ler a notícia: http://www.dn.pt/portugal/interior/inquerito-disciplinar-a-juiza-que-entregou-criancas-a-pai-condenado-5258960.html
Caro Bartolomeu
Concordo que a comunicação social tem tido um papel fundamental na divulgação deste tipo de casos, dando voz aos mais fracos e ajudando a criar mais consciência social e responsabilidade nas entidades e autoridades governamentais e oficiais. Mas não é sistema. Se queremos ser um país decente temos que corrigir actuações irresponsáveis e prevenir o sofrimento sem sentido.
Cara Dra. Margarida,
ResponderEliminarmas é precisamente por Não querermos e por não sabermos como, ser um país decente, que o trabalho da comunicação social tem atingido uma relevância tão notória. Somos um país de feudos, de baronatos e condados, que nunca tomará uma posição coletiva para alterar este estado de coisas. Isto, porque simplesmente confiamos que um milagre nos salvará sem que precisemos mexer um dedo.