As notícias sobre a aplicação das sanções previstas no Tratado Orçamental aos países que não atingiram a meta do defice parecem um desfilar surrealista de habilidades políticas para fazer crer que está sólido um edifício saído de um terramoto.
E, de facto, seria bem difícil encontrar uma linha escorreita para verbalizar o que é sinuoso e contraditório. Por um lado, invoca-se o que está estabelecido, as “regras” do Tratado, sendo que essas regras foram pensadas em situação de normalidade, seriam uma punição lógica e previsível a quem, podendo cumprir, optou por não o fazer. Por outro, a “normalidade” das regras emerge num contexto que tem tudo menos normalidade, a saber, a grave crise internacional, o resgate do País, a intervenção em Espanha (que não se chamou resgate mas enfim...), o profundo desequilíbrio financeiro que levou o BCE a ir muito além do que “as regras” tinham previsto e, mesmo assim, não se sabe se será suficiente para a retoma da economia europeia.
Tudo é anormal e preocupante à nossa volta, as taxas de desemprego, as dívidas públicas e privadas, a estagnação, as migrações, a incerteza europeia que afasta investidores, a falência dos mercados para onde tínhamos zarpado com as nossas exportações, eu diria que a única coisa certa, certinha, é mesmo o que está escrito no Tratado orçamental, esse limbo onde tudo escapa à realidade e onde 3% é 3%, é 3% e pronto.
Há quem diga que, quando tudo se desmorona à nossa volta, o melhor é manter as rotinas o mais possível, ao menos fingimos que algo se preserva, já o que não podemos controlar, paciência, talvez seja esta a sensatez de quem decide as sanções, no meio de tanta coisa que escapa ao controle ao menos isto está ali mesmo à mão de semear, finge-se que as regras são “inteligentes” mesmo que ninguém as perceba na turbulência, contorce-se a sua aplicação e parece que, assim, está tudo no seu lugar.
O que nós estranhamos não é que se aplique a regra, ora essa, o que é bizarro é como é que tal limpidez condiz com os discursos aflitos de dúvidas, de tensões, de incertezas quase absolutas que reinam em todos os outros campos de decisão da Europa.
Mas pronto, cumpram-se os preceitos, conclua-se o “processo”, registe-se a normalidade, arquive-se a sanção,a crise segue dentro de momentos.
Ai segue, segue, que a geringonça é cega e surda, só não muda...
ResponderEliminar...só não é muda...
ResponderEliminarOu a normal anormalidade, uma esquizofrenia de défices e de excessos que poderá acabar em "sanção zero", o que quer que isto queira dizer.
ResponderEliminarNem com estes e outros truques o deficit de 2,7%, prometido antes das eleições de Outubro, foi cumprido.
ResponderEliminarhttp://expresso.sapo.pt/economia/economina_energia/2016-07-12-Governo-de-Passos-deixou-buraco-de-50-milhoes-na-eletricidade
Entendam que isto não vai com propaganda a brincarem aos partidos. Os eleitores estão fartos disto. Esqueçam as décimas dos indicadores económicos e pensem na ética que vos falta para serem credíveis junto quem elege os vendedores de ilusões.
ResponderEliminarNum país como o nosso, sem governantes capazes (intencionalmente, ou não, e de que o actual governo é o melhor exemplo), a UE devia ter ainda muito maior autoridade sobre a governação. Rédea curta e devia ser obrigatório défice 0 e redução da dívida pública. Governantes que não o conseguissem, deviam ser responsabilizados.
ResponderEliminarSó em Portugal é que gente(inha) que fez parte de um governo que lançou o País na bancarrota é que forma novamente governo. E agora com apoio de mais 2 partidos. Isto diz tudo acerca destes 2 partidos e não só.
Não é que eu quase concordava consigo, Alberto Sampaio.
ResponderEliminarPorém, pensando melhor, acho que não dou para nenhum Governo. Quem teve um Relvas em Ministro não pode ser coisa que se recomende, agravada com a divisão do País em grisalhos e não grisalhos, reformados e desempregados e, a cereja no topo do bolo o elogio ao grande empresário Dias Loureiro.
É isso, não há pachorra para estas "elites trapaceiras".
Quantas alterações e reforços ás normas orçamentais já foram discutidas e aprovadas?
ResponderEliminarQuantos tratados orçamentais em diferentes cidades da Europa já foram discutidos, negociados e aprovados?
Quantas sanções por incumprimento de metas orçamentais de países pertencentes á UE já foram perdoadas?
Agora querem armar-se aos cucos com Portugal, ou visam outros incumpridores em que não acertam com a mesma facilidade?
Lembram-me uns vizinhos que aqui tenho, pai e filho, ambos caçadores. Saíram uma manhã para caçar coelhos, iam no meio do mato, sai um coelho de uma moita, o filho aponta, mas o bicho correu para o lado do pai. O filho dispara e... acerta mais no pai, que no coelho, crivando-o de chumbos. O desgraçado do homem andou mais de um mês todo encolhido e alguns chumbos nem sequer lhos tiraram por estarem em locais... de mais difícil acesso. O filho desculpava-se; então, o que é que eu podia fazer, o coelho correu pro lado do mê pai...
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminaro coelho é o poder, o filho o acosta e o pai Portugal :-)
Pode muito bem ser, caro Alberto Sampaio...
ResponderEliminarNum período tão conturbado politica e socialmente, proliferam os coelhos, coelhinhos e coelhões, os costas, costinhas e costões, mas é sempre o pai, já velho e andrajoso, que apanha a chumbada...
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarConcordo.
Para reforçar são sinal claro disso os comentários de simpatizantes do partido podemos acerca do voto dos mais velhos. E, já agora, também de alguns dos apoiantes da permanência do RU na UE e de apoiantes do candidato verde às eleições presidenciais na Áustria (contra o de direita). Ainda mais, aconteceu novamente nas presidenciais norte-americanas em que os apoiantes de sanders seriam os "melhores" por serem jovens com mais formação. Neste caso, um programa muito engraçado, com várias entrevistas a apoiantes jovens do sanders mostrava um nível de ignorância assustador entre esses apoiantes. Parece que os apoiantes jovens, e não só, de outros candidatos estavam mais bem informados.