quarta-feira, 6 de julho de 2016

O talento dos dirigentes

Quando disse ao Diretor do departamento que ia sair da empresa multinacional onde trabalhava há cinco anos, ele ficou muito perturbado e fez questão de conversar demoradamente sobre as razões de tal decisão.
Finalmente, escarecido que ficou que a mudança era determinada por razões puramente pessoais, o Diretor pediu-lhe que escrevesse isso mesmo, que deixasse claro que não era por falta de resposta adequada da empresa às suas expectativas e ambições profissionais, senão seria ele a ter que explicar internamente a razão por que não tinha conseguido, como diretor, reter nos seus quadros alguém que era necessário à empresa.
Conto este episódio a propósito do tema que agora se fala tanto por cá, em conferência e estudos que preenchem págimas e páginas, o tema da chamada “Retenção de talentos”, tudo muito bem embrulhado em teorias e técnicas sofisticadas. Mas, na prática, o exemplo ilustra bem o que se deve fazer, ter dirigentes conscientes de que é também essa a sua função, dar atenção aos que trabalham na equipa, pedir e exigir, sem dúvida, mas saber detectar a tempo quando é que o estímulo e o reconhecimento são devidos.
É certo que, em tempo de escassez de trabalho e de falta de oportunidades, parece menos importante, mas o problema está lá, os chefes têm essa responsabilidade, não adianta descansar na conjuntura, um bom dirigente tem que saber manter a sua equipa motivada, não só pelos objectivos, mas também pelo modo como cada um se sente na organização.  

E é interessante ver como é isso que, insistentemente, repetem os treinadores de futebol, sobretudo quando se teima em apontar o Ronaldo, ou outras estrelas, não olhem só para o Ronaldo, sem um bom trabalho de equipa e a valorização da contribuição de cada um, não há talentos que resistam. 

3 comentários:

  1. "...sem um bom trabalho de equipa e a valorização da contribuição de cada um..."
    Nesta matéria, cara Dra. Suzana, estamos a anos-luz de distância daqueles países que naturalmente valorizam o trabalho individual como parte fundamental do resultado do trabalho em equipe.
    Eu penso que esta "filosofia" tem subjacente uma forma estruturada de atingir objetivos. Enquanto que por cá, o importante é que o objetivo se atinja mesmo que desvalorizando o trabalho individual.
    A nossa cultura nesta matéria, tende mais para o lado da idolatração. Criamos ídolos, mesmo que de barro, e quando se racham, deitamo-los fora e voltamos a criar novos.

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  2. Excelente reflexão, Suzana.
    As empresas de sucesso são aquelas que valorizam o capital humano, isto é, as pessoas. Pensar-se que uma empresa pode ter êxito sustentável ignorando os trabalhadores é uma coisa que não faz sentido. A questão é cultural, ligada naturalmente ao estado de desenvolvimento humano e de qualidade da gestão.
    Em Portugal temos empresas muito bem sucedidas em ambientes muito competitivos. Como é possível? Gerindo pessoas, isto é, oferecendo e exigindo das pessoas o que de melhor têm, numa lógica de compromisso e reciprocidade. Não é suficiente, mas é uma condição.

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  3. Caro Bartolomeu, não há dúvida de que por cá a preferência vai para os "ídolos" muitas vezes alcandorados a tal situação sem que se perceba bem porquê. Creio que o modelo luso leva a que se atribua ao ídolo todo o mérito mas tambêm toda a responsabilidade caso corra mal e, desta forma, proliferam os treinadores de bancada, os que ficam a ver e a vaticinar sem nunca correrem o risco de se meter a fazer.

    Claro, Margarida, e muita gente sabe isso, o problema é que nos "balanços" das causas de sucesso esse é muito pouco valorizado.

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