1. Têm sido feitas múltiplas sugestões, nos últimos
tempos, nomeadamente por responsáveis políticos, quanto à vantagem de existir
um Fundo que alivie os bancos do alto nível de crédito em incumprimento (NPL’s)
que continuam a manter nas suas carteiras, permitindo-lhes ficar mais
disponíveis para financiar a economia.
2. É especialmente elevado o crédito em
incumprimento a empresas (não financeiras) que, segundo os dados mais recentes
do BdeP, representa 16,3% do valor da carteira, certamente com uma presença
ainda muito expressiva de crédito ao sector imobiliário.
3. A criação de um Fundo que retire dos bancos esse
peso do passado (legacy loans), parece uma ideia muito interessante mas
esbarra, aparentemente, com uma dificuldade de monta: quem investirá em tal
veículo, para que ele disponha dos meios financeiros para adquirir aos bancos
os ditos NPL’s?
4.
Duas hipóteses parecem possíveis: fundos
públicos ou capital privado.
5. Se forem fundos públicos, cair-se-á
inevitavelmente na questão das ajudas de Estado ao sector bancário e no impacto
de tal operação sobre o défice e a dívida pública, pelo que tal hipótese se
afigura pouco viável (tal como aconteceu há pouco tempo em Itália).
6. Se for capital privado, nomeadamente
estrangeiro, que certamente não faltaria (o doméstico parece estar exausto) –
os gestores de tal Fundo pretenderão adquirir os NPL’s a "preços de saldo", o que
até se compreenderá atenta a toxicidade do produto a adquirir e a necessidade
de remunerar o capital investido…
7. Mas isso acabaria por impor aos bancos
alienantes a necessidade de reconhecerem prejuízos adicionais consideráveis,
sob a forma de imparidades.
8.
Como se poderá sair disto?
Coloca o caro Dr. Tavares Moreira, uma questão que para além de pertinente, me parece também dependente mais de vontades, que de decisões ou de legislações.
ResponderEliminarPara ser de vontades, teria, penso, de existir uma consciência multidisciplinar entre todos os agentes que fazem parte da equação. Consciência essa, que até poderia receber algum estímulo de mais uma contrapartida por parte do estado, relativamente ás entidades bancárias privadas, conjuntamente com investidores privados. Em última análise, existem três problemas de fundo, que condicionam a esperada solução: o baixo rendimento das famílias, o desemprego/ou a precariedade do emprego e a natureza capitalista dos investimentos. Três pólos incompatíveis e irreconciliáveis, no panorama económico decrépito que vivemos. Talvez os chineses amigos de António Costa, venham resolver esta questão...
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarTem mesmo esperança de que os investidores chineses estejam disponíveis para pagar bem os NPL's da banca?
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarOs 16% de NPL's não representam nada. Primeiro, porque são um stock desde o início dos tempos. Depois porque são referentes ao tamanho da carteira que, em muitos casos, caiu mais de 40% (esta sim, a medida que devia preocupar o Banco de Portugal e o seu exército de amanuenses).
A maneira de sair disto é simples. O Banco de Portugal (o BCE) vai sair disto.
Caro Pires da Cruz,
ResponderEliminarSe o meu ilustre amigo tivesse a (des)dita de gerir um banco, em especial de retalho, compreenderia que os 16,3% (agora 16,5%) são muitíssimo, condicionando gravemente as condições de exploração.
Quanto a tratar-se de um "stock desde o início dos tempos", permito-me recordar-lhe que essa mesma variável se cifrava em € 9.950 milhões no final de 2012, sendo hoje (Agosto) de € 12.960 milhões (+30%).
É bem certo, como diz, que o valor da carteira global tem vindo a baixar - e continua a baixar - tendo passado, no mesmo período, de € 105.351 milhões para € 78.840 milhões (- 25%).
Concordo consigo que este último fenómeno deveria ser merecedor de grande preocupação.
Finalmente, quanto à solução que aponta, será possível ser um pouco mais explícito? A Nação agradeceria...
O que entende o caro Dr. Tavares Moreira por "...pagar bem..." os NPL's da banca?
ResponderEliminarQue valor têm esses créditos inconcebíveis, que foram de início inquebráveis e que agora, são lixo tóxico?
Diz-me o caro Dr. que urge libertar "aliviar" os bancos do "alto nível de crédito em incumprimento", não sei se essa urgência é tanta como quando os mesmos bancos aliciaram por todos os meios possíveis, os já endividados clientes a contrair mais crédito, sem olhar ás condições económicas dos devedores, sem avaliar concisamente e viabilidade dos projectos das empresas, enquadrados na realidade económica do país e da tendência futura da evolução dessa economia.
Diz-me ainda o caro Dr. Tavares Moreira, que uma das soluções, passa pela criação de um Fundo (presume-se que sem fundo - onde tudo caberia) e que, obviamente, a ser criado, só seria viável através da injecção de fundos públicos. Ou seja e de uma forma absolutamente boçal: Para retirar os bancos do lodaçal financeiro, seria criado um Fundo com dinheiros públicos que absorveria as carteiras de crédito putrefactas dos bancos privados; os mesmos que ganharam fortunas imensas, as distribuíram pelos seus accionistas, investiram naquilo que lhes deu na real gana, ofereceram juros loucos a quem lhes apeteceu, subsidiaram campanhas políticas a gosto, etc. Esse Fundo seria alimentado pela austeridade exigida a um povo de um país onde nenhum serviço público funciona convenientemente por falta de verbas no orçamento, onde os salários e pensões se encontram congelados desde o tempo da Maria Cachucha, as pensões de reforma, de solidariedade social, mínimas, idem, onde os velhos morrem sem ninguém que cuide deles por não haver verba para cuidados continuados, onde as turmas têm o dobro de alunos por não haver dinheiro para contratar professores, onde a justiça, a educação, a saúde funcionam a meio-gás porque não há dinheiro... não seria o mais acertado, criar um Fundo-a-feijões, chouriço, carne de porco e couves? Assim, os bancos trocariam os créditos incobráveis por estes ingredientes, depois era só organizar uma mega-feijoada na ponte da Lezíria, que é a menos utilizada e tem uma vista fantástica.
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarConvido-o, com a maior amizade, a reler o post que escrevi.
É que não está lá nada daquilo que seus magníficos e (justificadamente) acalorados comentários fazem supor - mas mesmo nada, nada, nada!
Se quiser invectivar a ideia do Fundo a que o post se refere, esteja, pela minha parte, inteiramente à vontade! Mas não me atribua, por favor, a autoria ou sequer o apoio a tal ideia, em especial sob a forma que envolveria os desventurados contribuintes!
Caro Dr. Tavares Moreira, ao ler o ponto 3 do texto, pareceu-me que a ideia da criação do Fundo, lhe era particularmente simpática. "3. "A criação de um Fundo que retire dos bancos esse peso do passado (legacy loans), parece uma ideia muito interessante..."
ResponderEliminarDe todo o modo, percebi que implicitamente, no mesmo texto limita-se o meu estimado Amigo, a analisar a situação e a comenta-la levemente, como é natural.
Contudo, a questão mantem-se: os bancos querem que o Estado lhes pague os resultados prejudiciais, resultantes dos devaneios financeiros e estão-se nas tintas para o nome do saco do dinheiro; ou se da China, da Europa ou de África, contanto que venha e lhes leve a porcaria que são obrigados a guardar. Quanto ao resto, os métodos e as trafulhices que levaram a banca a atingir tamanha fragilidade, nada a acrescentar.
Resta-me uma questão que aliás tive oportunidade de colocar diretamente a alguém com elevadas responsabilidades numa determinada entidade bancária: supondo que alguém, ou algum fundo livra os bancos dessa trapalhada e os mesmos se capitalizam e ficam como novos, cheios de ganas de se atirar ao mercado, a quem irão vender dinheiro.
Diz-me um amigo empresário no ramo têxtil, exportador; hoje, ninguém investe; um empresário industrial já possui os equipamentos necessários para produzir e competir no estrangeiro, aquilo porque qualquer empresário luta nesta altura, é por conquistar mercado e foge a sete pés dos créditos, quanto muito, candidata-se aos fundos de apoio e mais nada. Ora, se os empresários não compram dinheiro aos bancos, se os empregos não oferecem o mínimo de estabilidade que permita contrair crédito privado, se as pequenas e médias empresas se vêm da cor do coiso para fazer frente aos impostos e pagar aos fornecedores... a quem raio irão os bancos vender dinheiro, se por acaso se virem livres dessa papelada bafienta que têm guardada nos cofres?
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarSe pensarmos que os bancos canalizaram os 500 mil milhões de euros correspondentes ao produto do país nos 3 anos que refere, estamos a falar de menos de 1% de perdas ao ano. Certo? Do ponto de vista económico, nem se entende a razão de tanta conversa sobre NPL's. Mas concordo que quem é chamado a gerir um banco por menos que um administrador da CGD possa ter grandes dificuldades derivadas desta história, mas isso é uma consequência da chocante falta de conhecimento sobre o dinheiro que vem dos reguladores. Seria interessante se no Banco de Portugal / BCE aparecesse alguém que percebesse de finanças mesmo.
A regulação na Europa deve estar por um fio. A única coisa que liga a regulação ao sistema financeiro é o papel de produtor de liquidez do BCE, mas isso é uma questão formal. A transição para uma nova moeda está a ser testada pelos grandes bancos há já alguns meses e até já existiu uma experiência anterior no Brasil que serviu de ensinamento. O mercado interbancário pode mudar de moeda em segundos e instalar-se num par de dias, deixando os bancos centrais actuais (e bem, se me pergunta) a brincarem sozinhos. Por acaso pensei que este episódio do DB seria o disparo. Não foi agora, será depois.
A banca de retalho na Europa está próxima de morrer. E não pode. Por isso vai sobreviver da forma que pode. Saindo do Euro.
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarA questão que coloca no final do seu comentário parece-me pertinente: a quem pode a banca mutuar, hoje, se a procura de crédito por parte de empresas sãs é escassa?
A resposta está sendo dada pelos próprios bancos: ao consumo das Famílias, que tem vindo a aumentar por força da redução das restrições a que o seu rendimento se encontrou sujeito.
Convém acrescentar que a expansão do crédito ao consumo tem sido impulsionada pelo BCE, de forma indirecta, pela via da pressão sobre as margens financeiras dos bancos...