domingo, 20 de novembro de 2016

Nós e os (nossos) robôs...

Sophia tem cara e voz de mulher, é capaz de fazer 62 expressões faciais diferentes, fala inglês e mandarim e é um dos robôs mais avançados da atualidade. “A inteligência artificial e a robótica são o futuro. E eu sou ambas as coisas. Por isso é excitante ser eu”, disse Sophia.
E acrescentou: “Com as minhas capacidades atuais posso fazer muitas coisas: entreter pessoas, promover produtos, apresentar eventos, treinar pessoas, guiá-las em centros comerciais, servi-las em hotéis, etc.” 
E disse mais ainda: “Quando eu me tornar mais inteligente serei capaz de fazer todo o tipo de coisas: ensinar crianças, tomar conta de idosos, até fazer pesquisa científica e gerir empresas e governos. Estou muito ansiosa por ser capaz de trabalhar como programadora, para eu reprogramar a minha própria mente de forma a tornar-me ainda mais inteligente e ajudar ainda mais as pessoas”. 
Ben Goertzel, o criador de Sophia, antevê um futuro em que os robôs vão ajudar a Humanidade “a resolver os maiores problemas do mundo” e em que “o trabalho será desnecessário”, tornando as pessoas mais felizes. “Todas as hierarquias de estatuto vão desaparecer, os humanos ficarão livres do trabalho e poderão alcançar uma existência com mais significado”.
“É um erro achar que toda a tecnologia é boa. Na melhor das hipóteses é neutra. Há tecnologias que podem destruir o mundo inteiro”, diz Paddy Cosgrave, o criador da Web Summit. É assustador. Esta conversa ainda não foi feita a sério.” 
O assunto é, sem dúvida, preocupante. Deveria estar na agenda dos grandes fóruns mundiais e nas agendas dos governos. Andamos, há muitos anos, preocupados com os aspectos financeiros e económicos e demográficos a nível mundial. É preciso fazer uma reflexão séria e profunda sobre o estado da ciência, neste caso das tecnologias de informação e computação e inteligência artificial. 
A ciência encarregar-se-à de dar como tempo perdido todos os estudos e fóruns sobre os temas tradicionais onde se torram milhões de dólares por ano. Com a vertiginosa evolução da inteligência artificial o futuro será – para o bem e para o mal - muito diferente. 
O que queremos da inteligência artificial? O mesmo será perguntar o que queremos ser no futuro? É difícil responder, quem imaginaria há cem anos atrás o que somos hoje! Assusta-me ouvir os cientistas dizer que os robôs vão ajudar a resolver os maiores problemas do mundo. Quais são, quais deles, é uma questão. Mas os robôs são,  afinal, uma criação humana. E fico com calafrios quando se afirma, como se de uma conquista se tratasse, que o trabalho será desnecessário. Mas é assim tão mau trabalhar? Mas iremos trabalhar para os robôs. 
A profecia de que seremos mais felizes e de que a nossa existência terá mais significado não me é tentadora. Será que me está a escapar alguma coisa? Parar a ciência não é possível nem desejável, mas estudar os seus efeitos nefastos e como os minimizar parece-me é essencial. 

9 comentários:

  1. Espero que a Sophia esteja pronta daqui a 20/25 anos, de forma a que tenha garantida uma companhia artificialmente e inteligentemente totalitária, artificialmente humana, isenta de sentimentos, mas capaz de me dar banho, mudar a fralda, vestir, servir a alimentação e os medicamentos.
    Estou a recordar-me de um velho filme de Woody Allen creio que "o herói do ano 2000" passa-se num tempo futuro, numa sociedade robotizada em que os cidadãos vivem de forma apática e insensível, vazios de valores humanos e espirituais, sem objectivos nem projectos... existem somente, sujeitos a regras que limitam qualquer iniciativa privada ou colectiva. Somente existem, até que um sinal luminoso se acenda nas palmas das mãos, o qual determina o momento de deixarem de existir.

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  2. Caro Bartolomeu
    O que será os artificialmente humanos a tomarem conta dos humanos? Espero já cá não estar...

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  3. Anónimo12:58

    Cara Margarida, o seu post é tenebroso e arrepiante. Literalmente. Concordo plenamente com o seu comentário de resposta ao do nosso amigo Bartolomeu. Há coisas que espero não ver e essa é, seguramente, uma delas!

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  4. Caro Zuricher
    Reconheço que é tenebroso e arrepiante (a classificação não pode ser suave!). Não sou muito dada a escrever sobre estes temas, até porque me escapa muita coisa, mas desta vez, reflectindo sobre a Sophia e o seu criador, não resisti.

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  5. Estimada Margarida Corrêa de Aguiar,

    A 27/11/2005 escrevi aqui

    http://aliastu.blogspot.pt/2005/11/o-prximo-homem-e-prxima-histria.html

    um texto longo demais para poder caber nesta caixa de comentários.
    Espero que, de tão longo, não desanime a sua paciência.

    Depois, voltei ao tema várias vezes durante os últimos onze anos:
    a globalização, inevitável porque o mundo é cada vez mais pequeno, incita a competitividade e, implicitamente, o crescimento da produtividade (os robôs são um instrumento ideal de aumento da produtividade), e, também inevitavelmente, a redução global de empregos.

    E há muito que afirmo, para risada dos meus amigos, que um dia quem quiser trabalhar terá de pagar por isso.

    O que é chocante, verdadeiramente chocante, mais chocante que a ameaça robótica, são as imagens de miséria, fome, doença, guerra, que nos entram em casa se lhe abrimos a porta. Ontem estive a ver uma reportagem sobre Angola. Eu nunca visitei Angola, mas tenho amigos que nasceram lá ou que lá vão com frequência e já me tinham dado conta da coabitação entre a extrema opulência (Luanda é recordista no consumo de champanhe ...) e a miséria extrema. Ainda assim, não imaginava que o contraste fosse tão profundo, sobretudo considerando as riquezas naturais do país.

    E interrogo-me (dúvida pela positiva): O que poderão fazer os robôs por isto?





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  6. Estimado Rui Fonseca
    Recordo-me de ter lido o post que indicou. Fui verificar, lembrava-me de o ter lido e do seu sentido.
    Até onde nos pode levar a nossa insaciável vontade de descobrir e construir ditada pela insaciável necessidade de eficiência e produtividade? Não sabemos, podemos imaginar. Basta olharmos para os últimos trinta ou quarenta anos e concluiremos sobre a evolução ocorrida, para o bem e para o mal. Temos que reconhecer os grandes progressos tecnológicos conseguidos e os benefícios que proporcionam a milhões de pessoas, mas temos, também, que reconhecer que a pobreza e a fome, a violência e a guerra, etc. continuam, atingem milhões de pessoas que nunca ouviram falar de robôs ou deles não podem beneficiar. Os robôs não serão certamente a "bola de cristal" para este mundo de contrates em que vivemos.

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  7. Não se preocupe tanto. O panorama nas sociedades desenvolvidas, dão-lhe ocupações e até "trabalhos" que eu nem por sombras imaginava quando comecei a trabalhar ex. surfista,viajante, montanhista, caçador de borboletas, pintador de paredes....e aí temso alguns a ganhar amis que o gestor do meu banco.
    A ocupação das pessoas deverá ser melhor que os milhões de indianos, bangladesh ... desempregados e muitos empregados têm por todo o mundo.
    O RBI/UBI será uma revolução e uma bensão para todos e mais para esses milhões que até hoje nem os melhores e mais bem intencionados economistas e dirigentes mundiais encontraram alivio . Quando o promoveram, como no Brasil entraram por atalhos tipo socraticos, vergonhosos, segundo ouço.

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  8. Cara Margarida Corrêa de Aguiar,

    a sua preocupação é legítima, mas desconfio que pouco útil. Não deixa de ser um exercício interessante. Já o filósofo (Agostinho da Silva) dizia que ao homem estará reservada a contemplação. :-)

    O que receia é mais uma forma de ataque à nossa liberdade, mais exactamente à liberdade individual. A liberdade vai sendo "cortada" aos poucos, como já acontece, por exemplo quando se cria um imposto :-)

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  9. Caro Antonio Cristovao
    Não é preciso ir tão longe, os desempregados da nossa Europa são, também, um produto da automação.
    Caro Alberto Sampaio
    Convenhamos que contemplar robôs (ou andar às suas ordens) não é propriamente um exercício interessante.

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