Imaginem, por exemplo, Rui Machete, MNE, descontraído num encontro entre companheiros de partido referindo-se desprimorosamente a um grupo de pessoas com as quais o governo tinha de lidar. Imaginem que essa conversa tinha sido captada pela indiscrição criminosa de uma câmara de TV. Aposta-se que ninguém condenaria a TV por captar conversas privadas à socapa, sem autorização. O que também se adivinha é que, no momento seguinte à divulgação das imagens e do som, toneladas da autoridade moral da esquerda se abateriam sobre o senhor, exigindo, no mínimo, o abandono do governo, se não mesmo a cabeça do PM. Por certo a intervenção do PR para repor a normalidade das instituições democráticas. Durante dias, os media ampliariam protestos e indignações, não restaria pedra sobre pedra, nem no Carmo nem na Trindade. E os visados haveriam de rasgar as vestes, uma e outra vez, achando as desculpas insuficientes e o ministro a mais, recusando sentar-se à mesma mesa enquanto não fosse reparado o desaforo.
Não é preciso imaginar uma cena destas com o atual MNE porque aconteceu. Entre a hipótese e a realidade, uma só coincidência: ninguém, mesmo ninguém condena a TV que captou uma conversa privada e a divulgou sem autorização. Mas a conversa revelada, põe a nú a mais absoluta grosseria. E no entanto, vestes intactas, esgar tímido dos visados - talvez porque habituados a obediências e transumâncias -, esquerda sorridente com o episódio pois à esquerda os valores mudam de tonalidade.
Depois disto, valha-nos a certeza de que o povo nunca mais vai olhar para uma reunião da concertação social com os mesmos olhos...
Mas este homem, quero dizer: o actual MNE, é useiro e vezeiro em dislates desta natureza.
ResponderEliminarAi de quem importune o PS e que ele se aperceba...
Basta ser da esquerda para tudo se desculpar e esquecer. Qualquer sujeito que se reclame de esquerda tem praticamente a garantia de passar a inimputável, por mais barbaridades que faça ou diga.
ResponderEliminarEnquanto uns deram asas à vaca, outros negociaram gado... é o que se negoceia numa feira de gado.
ResponderEliminarSerá que a razão está na frase de Eduardo Catroga: Em vez de discutir as grandes questões que podem mudar Portugal, andam a discutir pintelhos!
É a grande especialidade da geringonça, caro Bartolomeu. E com grande êxito, como se vê...
ResponderEliminarE antes da geringonça... foram outras onças, caro Dr. Pinho Cardão. Os políticos que nos governam, sempre apreciaram "cagar de alto" para as manadas que os elegem.
ResponderEliminarA "coisa" vem desde hã muito e o cheiro dela nunca mudou:
Porque julgamos digna de registo
a nossa exposição, senhor Ministro,
erguemos até vós, humildemente,
uma toada uníssona e plangente
em que evitámos o menor deslize
e em que damos razão da nossa crise.
Senhor: Em vão, esta província inteira,
desmoita, lavra, atalha a sementeira,
suando até à fralda da camisa.
Falta a matéria orgânica precisa
na terra, que é delgada e sempre fraca!
- A matéria, em questão, chama-se caca.
Precisamos de merda, senhor Soisa!...
E nunca precisámos de outra coisa.
Se os membros desse ilustre ministério
querem tomar o nosso caso a sério,
se é nobre o sentimento que os anima,
mandem cagar-nos toda a gente em cima
dos maninhos torrões de cada herdade.
E mijem-nos, também, por caridade!
O senhor Oliveira Salazar
quando tiver vontade de cagar
venha até nós solícito, calado,
busque um terreno que estiver lavrado,
deite as calças abaixo com sossego,
ajeite o cú bem apontado ao rego,
e... como Presidente do Conselho,
queira espremer-se até ficar vermelho!
A Nação confiou-lhe os seus destinos?...
Então, comprima, aperte os intestinos;
se lhe escapar um traque, não se importe,
quem sabe se o cheirá-lo nos dá sorte?
Quantos porão as suas esperanças
n'um traque do Ministro das Finanças?...
E quem vier aflito, sem recursos,
Já não distingue os traques dos discursos.
Não precisa falar! Tenha a certeza
que a nossa maior fonte de riqueza,
desde as grandes herdades às courelas,
provém da merda que juntarmos n'elas.
Precisamos de merda, senhor Soisa!...
E nunca precisámos de outra coisa.
Adubos de potassa?... Cal?... Azote?...
Tragam-nos merda pura, do bispote!
E todos os penicos portugueses
durante, pelo menos uns seis meses,
sobre o montado, sobre a terra campa,
continuamente nos despejem trampa!
Terras alentejanas, terras nuas;
desespero de arados e charruas,
quem as compra ou arrenda ou quem as herda
sente a paixão nostálgica da merda...
Precisamos de merda, senhor Soisa!...
E nunca precisámos de outra coisa.
Ah!... Merda grossa e fina! Merda boa
das inúteis retretes de Lisboa!...
Como é triste saber que todos vós
Andais cagando sem pensar em nós!
Se querem fomentar a agricultura
mandem vir muita gente com soltura.
Nós daremos o trigo em larga escala,
pois até nos faz conta a merda rala.
Venham todas as merdas à vontade,
não faremos questão da qualidade.
Formas normais ou formas esquisitas!
E, desde o cagalhão às caganitas,
desde a pequena poia à grande bosta,
de tudo o que vier, a gente gosta.
Precisamos de merda, senhor Soisa!...
E nunca precisámos de outra coisa.
Há aí uma diferença. Os outros não eram donos disto.
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