terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Os reis do gado

Imaginem, por exemplo, Rui Machete, MNE, descontraído num encontro entre companheiros de partido referindo-se desprimorosamente a um grupo de pessoas com as quais o governo tinha de lidar. Imaginem que essa conversa tinha sido captada pela indiscrição criminosa de uma câmara de TV. Aposta-se que ninguém condenaria a TV por captar conversas privadas à socapa, sem autorização. O que também se adivinha é que, no momento seguinte à divulgação das imagens e do som, toneladas da autoridade moral da esquerda se abateriam sobre o senhor, exigindo, no mínimo, o abandono do governo, se não mesmo a cabeça do PM. Por certo a intervenção do PR para repor a normalidade das instituições democráticas. Durante dias, os media ampliariam protestos e indignações, não restaria pedra sobre pedra, nem no Carmo nem na Trindade. E os visados haveriam de rasgar as vestes, uma e outra vez, achando as desculpas insuficientes e o ministro a mais, recusando sentar-se à mesma mesa enquanto não fosse reparado o desaforo.
Não é preciso imaginar uma cena destas com o atual MNE porque aconteceu. Entre a hipótese e a realidade, uma só coincidência: ninguém, mesmo ninguém condena a TV que captou uma conversa privada e a divulgou sem autorização. Mas a conversa revelada, põe a nú a mais absoluta grosseria. E no entanto, vestes intactas, esgar tímido dos visados - talvez porque habituados a obediências e transumâncias -, esquerda sorridente com o episódio pois à esquerda os valores mudam de tonalidade.
Depois disto, valha-nos a certeza de que o povo nunca mais vai olhar para uma reunião da concertação social com os mesmos olhos...

6 comentários:

  1. Mas este homem, quero dizer: o actual MNE, é useiro e vezeiro em dislates desta natureza.
    Ai de quem importune o PS e que ele se aperceba...

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  2. Basta ser da esquerda para tudo se desculpar e esquecer. Qualquer sujeito que se reclame de esquerda tem praticamente a garantia de passar a inimputável, por mais barbaridades que faça ou diga.

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  3. Enquanto uns deram asas à vaca, outros negociaram gado... é o que se negoceia numa feira de gado.
    Será que a razão está na frase de Eduardo Catroga: Em vez de discutir as grandes questões que podem mudar Portugal, andam a discutir pintelhos!

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  4. É a grande especialidade da geringonça, caro Bartolomeu. E com grande êxito, como se vê...

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  5. E antes da geringonça... foram outras onças, caro Dr. Pinho Cardão. Os políticos que nos governam, sempre apreciaram "cagar de alto" para as manadas que os elegem.
    A "coisa" vem desde hã muito e o cheiro dela nunca mudou:

    Porque julgamos digna de registo
    a nossa exposição, senhor Ministro,
    erguemos até vós, humildemente,
    uma toada uníssona e plangente
    em que evitámos o menor deslize
    e em que damos razão da nossa crise.

    Senhor: Em vão, esta província inteira,
    desmoita, lavra, atalha a sementeira,
    suando até à fralda da camisa.
    Falta a matéria orgânica precisa
    na terra, que é delgada e sempre fraca!
    - A matéria, em questão, chama-se caca.

    Precisamos de merda, senhor Soisa!...
    E nunca precisámos de outra coisa.

    Se os membros desse ilustre ministério
    querem tomar o nosso caso a sério,
    se é nobre o sentimento que os anima,
    mandem cagar-nos toda a gente em cima
    dos maninhos torrões de cada herdade.
    E mijem-nos, também, por caridade!

    O senhor Oliveira Salazar
    quando tiver vontade de cagar
    venha até nós solícito, calado,
    busque um terreno que estiver lavrado,
    deite as calças abaixo com sossego,
    ajeite o cú bem apontado ao rego,
    e... como Presidente do Conselho,
    queira espremer-se até ficar vermelho!

    A Nação confiou-lhe os seus destinos?...
    Então, comprima, aperte os intestinos;
    se lhe escapar um traque, não se importe,
    quem sabe se o cheirá-lo nos dá sorte?
    Quantos porão as suas esperanças
    n'um traque do Ministro das Finanças?...
    E quem vier aflito, sem recursos,
    Já não distingue os traques dos discursos.

    Não precisa falar! Tenha a certeza
    que a nossa maior fonte de riqueza,
    desde as grandes herdades às courelas,
    provém da merda que juntarmos n'elas.

    Precisamos de merda, senhor Soisa!...
    E nunca precisámos de outra coisa.

    Adubos de potassa?... Cal?... Azote?...
    Tragam-nos merda pura, do bispote!
    E todos os penicos portugueses
    durante, pelo menos uns seis meses,
    sobre o montado, sobre a terra campa,
    continuamente nos despejem trampa!

    Terras alentejanas, terras nuas;
    desespero de arados e charruas,
    quem as compra ou arrenda ou quem as herda
    sente a paixão nostálgica da merda...

    Precisamos de merda, senhor Soisa!...
    E nunca precisámos de outra coisa.

    Ah!... Merda grossa e fina! Merda boa
    das inúteis retretes de Lisboa!...
    Como é triste saber que todos vós
    Andais cagando sem pensar em nós!

    Se querem fomentar a agricultura
    mandem vir muita gente com soltura.
    Nós daremos o trigo em larga escala,
    pois até nos faz conta a merda rala.

    Venham todas as merdas à vontade,
    não faremos questão da qualidade.
    Formas normais ou formas esquisitas!
    E, desde o cagalhão às caganitas,
    desde a pequena poia à grande bosta,
    de tudo o que vier, a gente gosta.

    Precisamos de merda, senhor Soisa!...
    E nunca precisámos de outra coisa.

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  6. Há aí uma diferença. Os outros não eram donos disto.

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