Muita coisa não bate certa na apreciação das condutas dos partidos e dos seus dirigentes. Vai por aí uma onda de indignação contra Passos Coelho por causa da sua posição sobre a descida da TSU negociada entre o Governo e os parceiros sociais (embora me tivesse parecido que o que existiu foi um simulacro de negociação, já que o Governo se esteve borrifando para a opinião do patronato sobre a inoportunidade da subida do salário mínimo desacompanhada de um aumento da produtividade, interessando-lhe somente saber do que é que tinha de abrir mão na augustiana "feira do gado"). Para esta onda contribuem comentadores, analistas, antigos políticos, políticos no ativo, jornalistas tidos como isentos e os outros que não fazem esforço em disfarçar o seu partidarismo, o PS, o BE, o PCP, certamente esse expoente de coerência que é o PAN. E algumas personalidades do PSD, que, por o serem, veem a sua posição sublinhadíssima.
Mas vamos lá ver: então não é suposto que um governo minoritário negoceie previamente os apoios políticos a medidas que necessitem de uma maioria política? Não tendo o PS ensaiado qualquer acordo prévio com o PSD sobre as condições para o eventual aumento do salário mínimo, é de exigir ao PSD - que a nada se vinculou - que apoie agora uma medida para a qual o maior partido da oposição não foi ouvido nem achado?
Bem sei que o Governo atual só se sustenta se existir alguma bonomia na apreciação dos seus atos e omissões. Mas a democracia pluripartidária, que é adversarial por natureza, tem regras e convenções. Uma delas, óbvia, é a de que o governo conta com a maioria que o apoia, não conta com a oposição. Salvo se, tratando-se de questão que careça de uma maioria de apoio diferente da maioria de suporte, obtiver, através de negociação prévia, um mais amplo consenso parlamentar.
Onde fica o valor da concertação social? Precisamente onde deve ficar. Não é, como bem o PS sabe, o de se substituir à democracia representativa e aos seus mecanismos. É o de lhe acrescentar participação social. No more, no less.
ResponderEliminarBem observado.
Notável texto de oportunidade e análise política, caro Ferreira de Almeida.
ResponderEliminarAfinal de contas, quem é governo pelo voto do Parlamento quer governar à revelia do Parlamento. O PS nisso é perito. E mais perito ainda em arregimentar oportunísticos apoios espúrios.
E no meio disto tudo, cada vez mais trabalhadores portugueses auferem o salário mínimo.
ResponderEliminarNão era suposto os aumentos do salário mínimo provocarem aumento do crescimento económico?
Subscrevo totalmente!
ResponderEliminarExcelente intervenção.
ResponderEliminarO Dr. Marques Mendes na sua 'homilia' de Domingo foi apara além do que seria justo. Uma 'declaração' prévia: > habitualmente oiço o Dr.MM e regra geral concordo com as suas afirmações, acresce que não sou fã do estilo e conteúdo das intervenções de Pedro Passos Coelho enquanto líder da oposição. Dito isto, achei o 'ataque' descabido e apenas para cavalgar a 'onda' dos que estavam contra o PSD. O presidente do PS, açoreano em Lisboa, chegou a dizer que era preciso Honrar a História !!! Então, 'honrar a história' não seria antes ….por exemplo, eleger para Presidente da Assembleia da República o representante do partido mais votado, como sempre foi ?? e segundo exemplo: manter a descida da taxa de IRC que o PS tinha acordado com o Governo do PSD/CDS antes do final do mandato ??
Há limites para a ‘pouca vergonha’ do PS que passa o tempo a ‘bater’ no PSD mas acha que 'ele' deve ir em seu socorro quando a geringonça encrava….e se a dita 'feira de gado' (vulgo Concertação Social) é assim tão essencial ao país porque não cuidaram disso antes ‘??....quem ‘constrói’ uma maioria parlamentar assimétrica, algum dia tem de se entalar.....é a vida !!
Concordo inteiramente com a sua opinião, Zé Mário, manter o PSD como "suplente à força", ignorando-o para depois lhe deitar as culpas em cima, é uma forma de subestimar o adversário político,lembra o cartoon da Mafaldinha "tudo começou quando ele reagiu...". Não deixa de ter graça que os aliados PCP e BE queiram os louros quando as medidas "revertem" mas não se disponham ao arriscado exercício político de confrontar o que proclamam com a realidade. Está na altura de deixar que se exponham, se não querem ser lobos não lhe vistam a pele, isto de governar tem as suas dificuldades...
ResponderEliminarSem prejuízo dos dignos comentadores terem razão, acho que o PSD devia sair um pouco do registo acima, e criticar menos politica e mais economicamente o acordo. O facto do Costa só olhar para efeitos imediatos e não olhar para a sustentabilidade da SS, será o maior óbice, mas outros haverá, como a tendência para nivelar os ordenados por baixo.
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