Há expressões que nos marcam, talvez pela simplicidade como são ditas. Encerram tudo o que se pode dizer. “Já não vemos”, disse Júlio Pomar há poucos anos numa entrevista. É isso “já não vemos”. Passamos por muita coisa sem ver, e ver não é apenas usar os olhos, mas sim apreciar os sentimentos sentidos e as emoções despertadas. Agora entendo o que faço, andar por tudo o que é sítio, passando vezes sem conta pelos mesmos locais, entrando em templos, sentando em pedras e saboreando as paisagens que vivem de uma forma singela à espera de qualquer coisa que eu não sei. O pintor começa a sua obra sem projeto. Começa à espera de encontrar algo que não sabe bem o que é. Criar é isso mesmo, começar a andar, a sonhar, a pensar, a escrever, a esculpir, a pintar, ou seja, é como viver, começamos mas não sabemos o que vai acontecer. Eu quando escrevinho sinto o mesmo, sai uma frase que me empurra ou desperta emoções as quais por sua vez adquirem vida, mesmo sem saber. E eu vou atrás delas como se fosse atraído pelo flautista de Hamelin.
Vou.
Seja bem-voltado. Os seus postais fazem falta.
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