O sucesso das democracias liberais do Ocidente no pós-guerra gerou a
percepção – quase mítica – da superioridade do sistema democrático na
promoção do crescimento económico. Para muitos, o descalabro dos regimes
ditatoriais de inspiração soviética no final do século XX constitui
prova irrefutável de que a liberdade política inerente à democracia é um
ingrediente indispensável no caminho para a prosperidade das nações.
Tão arreigada convicção gerou uma onda de “conversões” à democracia pelo
mundo inteiro no final do século passado. Com que resultados?
Em
trabalhos cujo início remonta à década de 90, o Professor Robert Barro –
perene candidato a Prémio Nobel da economia – tem vindo a testar
empiricamente a hipótese da superioridade da democracia na promoção do
desempenho económico dos países. As conclusões são: nem sim, nem não.
O
facto de muitos dos países mais bem sucedidos na esfera económica serem
democracias não é evidência suficiente para provar os méritos
económicos da democracia. Aliás, com alguma paciência, consegue-se
identificar vários contra-exemplos, o mais gritante dos quais respeita à
China. Com efeito, a China nunca abandonou – nem tão pouco aliviou – o
forte controlo da sociedade pelo seu aparelho político, mas o seu
desempenho económico nos últimos trinta anos não conhece paralelo no
mundo actual. Por outro lado, vários países africanos não lograram
elevar os seus padrões de vida pelo facto de terem transitado de regimes
totalitários para regimes “democráticos”. Mais próximo de casa, é
inegável que tanto Portugal como Espanha tiveram um ímpeto económico
ímpar na década de 60, período em que ambos os países viviam sob
ditaduras…
Não querendo, de modo algum, questionar a bondade da
democracia, parece que outros elementos, como a livre concorrência, a
abertura ao exterior e a qualidade das instituições, podem ser decisivos
para o crescimento da riqueza. Por outro lado, com todos os seus
méritos, a democracia, por vezes, inibe a prossecução de políticas
económicas maximizadoras do crescimento, sobretudo em situações em que o
governo incumbente foi eleito sob uma plataforma populista de extensão
do peso do estado, na economia e não só. “Ring any bell?”
Permito-me
adoptar o estilo de fascículos que com tanto sucesso a Suzana Toscano
tem relatado o seu périplo pelos EUA, interrompendo aqui o post. Na
continuação, discutirei como esta questão da democracia vs crescimento
entronca na actual situação económica de Portugal.
Uma Santa Páscoa.
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ResponderEliminarVida cap