A
transferência de 850 milhões de euros para o Novo Banco inflamou a polémica do
“apoio à Banca”, já antes excitada por quem, face às dificuldades que o COVID
19 trouxe a particulares e empresas, vem exigindo, em contrapartida, que os
Bancos retribuam à economia os apoios recebidos.
“Apoio à
Banca” é todavia uma expressão enganadora, porque engloba na mesma designação
os casos do BPN, BANIF E BES-Novo Banco, não os distinguindo dos outros Bancos,
e porque sugere apoio a banqueiros e
accionistas.
Ora, no
primeiro caso, os banqueiros foram
afastados e alguns já condenados, os accionistas descapitalizados e credores
prejudicados. Nos outros Bancos, os accionistas, incluindo o banqueiro Estado,
suportaram a desvalorização das acções a par de recapitalizações forçadas e
reembolsaram com juros especulativos os apoios recebidos. Trabalhadores tiveram
salários diminuídos ou foram dispensados.
O ardil da
expressão faz esquecer que esse apoio se traduziu, sim, num suporte aos
depositantes e à economia. É certo que muitas imparidades resultaram de crédito
mal concedido por ineptidão, razões políticas ou fraude, ou das transferências
para o NB, por incertas razões contratuais. Mas também é certo que muitas
imparidades nasceram de crédito bem concedido nas condições do momento, mas
cuja recuperação se tornou inviável face à crise vivida por particulares e
empresas. O apoio aos Bancos foi o dual desse suporte à economia e sem o qual
muitas boas empresas teriam desaparecido. E outras se perderiam, caso os
depósitos fossem na voragem.
Esquecendo
que os Bancos são os primeiros interessados em concretizar operações, essa
exigida contrapartida acaba por ser um convite a uma distribuição de crédito
sem regras ou condições. E grande prejudicado seria também o Estado, quer
dizer, o contribuinte, face às garantias do Estado às linhas de crédito do
COVID.
Esta
exigência sobre a Banca serve o objectivo de quem não consente a Banca privada,
visando, sob a capa de um apoio ético
e até com spreads zero, que os Bancos afundem em dificuldades de solvabilidade
e tesouraria, momento em que tal exigência se transformaria em acusação de
gestão danosa e fraudulenta, propiciando a intervenção estatal.
À Banca deve
exigir-se competência e rigor, não contrapartidas que dão sempre mau
resultado. (meu artigo publicado no DN/JN/Dinheiro Vivo de 30 Maio de 2020
https://www.dinheirovivo.pt/
Meu Caro APC,
ResponderEliminarNão posso estar mais de acordo!
Continua a fazer-me confusão que nunca a Associação Portuguesa de Bancos tenha reagido com uma linha de argumentação semelhante à do teu artigo que é clara, simples e, mais importante, rigorosa!
Abraço
antónio m fernandes
Bem aparecido neste Blog que vou procurar reanimar. Obrigado por isso, e pelo simpático comentário. Quanto à APB, acho que o meu amigo tem toda a razão. Com esta ou outra argumentação devia rebater muita contra-informação que sistematicamente corre.
ResponderEliminarNa próxima 6ª fera publicarei outro artigo nos Diários de Coimbra, Viseu, Aveiro e Leiria sobre os fundos europeus e a aplicação que deles fazemos e que trarei a este Blog.